quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

UMA GUINADA NO CURSO DA CRISE MUNDIAL

                                                                                                   


Jorge Altamira



Ainda que vários comentaristas vejam na queda dos preços internacionais do petróleo a oportunidade para uma reativação da economia mundial, o certo é que se anuncia um período catastrófico para numerosos países que estão sobrevivendo à crise graças ao elevado lucro da extração mineral. Entre princípios do século e uma data recente, o barril de petróleo havia subido de 10 a 150 dólares – com uma recaída muito forte em 2009, até uma cotação média de 100 dólares antes da queda a 75 dólares. Agora, o declínio, em poucas semanas, tem sido superior, em alguns casos, a 25%. Com a exceção dos EUA, as trocas nos preços internacionais não repercutem nos preços internos e são, portanto, inócuos para reativar o consumo final. Ocorre que a maior parte dos governos necessitam dos impostos aos combustíveis para fazer frente ao pagamento da dívida pública e ao resgate dos bancos. Enquanto o preço atual continua elevado em qualquer comparação, seu impacto negativo sobre a taxa de lucro das companhias petroleiras é muito forte devido ao aumento dos custos que acompanhou a elevação dos preços, seja por uma distribuição da renda entre todos os setores que intervêm na produção (serviços tecnológicos), seja pela incorporação de jazidas que exigem processos mais caros, seja pelo incremento dos investimentos. A queda do preço do petróleo replica a de todas as matérias primas de minerais metalúrgicos e alimentos. Esta guinada modifica o curso da crise mundial porque bate em cheio na periferia, no mesmo momento em que se faz mais aguda na Europa e Japão. A princípio, esta tendência conecta a crise mundial atual com a dos anos 30 do século passado, a qual se caracterizou, de entrada, por uma forte crise agrária e o colapso do comércio exterior dos países de menos desenvolvimento.
A queda do preço internacional do petróleo é atribuída a diversos fatores: uma queda da demanda da China e Europa, um forte aumento da produção de combustíveis não convencionais nos EUA e até uma recuperação da produção na Líbia e no Iraque. A crise de superprodução na China é decisiva, porque a presença econômica da China é um fator fundamental na expansão do mercado mundial. A China se encontra, além disso, às vésperas de uma explosão financeira. De outro lado, o elevadíssimo lucro do setor petroleiro havia aberto espaço para a produção custosa de gás e petróleo não convencionais nos EUA. No mercado norteamericano, o preço do gás caiu no limite da rentabilidade. A diminuição do preço da gasolina na bomba – o do gás para a indústria e a calefação – será ofuscado pelo fechamento de depósitos, cuja produtividade é declinante. O boom dos combustíveis nos EUA foi impulsionado pelas baixíssimas taxas de juros, que permitiram financiar investimentos que para outras taxas seriam proibitivas. De algoz na luta do petróleo, os EUA poderia converter-se em vítima, no caso de que se cumpra a ânsia do banco central de aumentar os tipos de juros. Se isso não acontecer pela pressão da indústria, se bloquearia o intento oficial de evitar ordenadamente uma explosão financeira internacional.

Uma “guerra do petróleo”
Um fator essencial na queda do lucro do setor petroleiro é, obviamente, a Arábia Saudita, a qual se nega a restringir a oferta de combustíveis para deter a descida do preço, para não beneficiar a seus competidores. Pode-se dizer que se estabeleceu um tipo de guerra do petróleo entre EUA e Arábia Saudita, porque embora os norte-americanos ainda não exportem, deixaram de importar. Os sauditas possuem lastro para resistirem a uma guerra de preços, mas até certo ponto: apesar de possuírem os custos mais baixos do mundo, o orçamento do Estado depende como nunca das receitas do petróleo. Uma diminuição dos subsídios públicos desestabilizaria a ordem política no agitadíssimo Oriente Médio.
As cadeias débeis incandescentes desta crise são Brasil, Rússia e Venezuela. Os custos da Petrobrás, e da PDVSA superam tranqüilamente os preços atuais do petróleo; nestes níveis, ambas empresas são inviáveis. O problema é que, além disso, existem dívidas gigantescas e são fontes de financiamento de Estados com dívidas ainda maiores. As ações da Petrobrás cotizam a metade de seu pico; os brasileiros foram advertidos desta catástrofe com bastante antecedência, quando quebrou o aventureiro nacional e popular do Brasil, Eike Batista. Na Rússia ocorre tudo isto com o agravante de que várias companhias internacionais abandonaram sua associação com companhias russas, no marco das sanções da OTAN pela crise da Ucrânia. A oligarquia russa fez causa comum com o capital internacional e há uma fuga de capitais da Rússia em grande escala; o rubro perdeu 30% do seu valor em três meses. Tudo isto vale também para o Equador, ou Bolívia. A crise brasileira afetará a toda sua vizinhança. Como foi dito antes, está despencando todo o universo das commodities e matérias primas.
A principal repercussão, de uma aproximação da crise mundial em curso à dos anos 30, será sobre o comércio mundial, porque reforçará as tendências para uma autarquia econômica, e disto para uma crise do sistema monetário internacional. A “ascensão” do partido republicano nos EUA possui uma relevância, neste contexto, porque é o defensor da guerra comercial. E naturalmente da guerra interna – e aí está o juízo de Ferguson...


                                                                          

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

DE ROUSSEF A YOUSSEFF, O PT NA LAMA


Osvaldo Coggiola



Dilma Rousseff começou seu segundo mandato (o quarto do seu partido) depois de vencer o 2º turno com 51,6% dos votos. Nas eleições presidenciais anteriores, no entanto, Lula havia obtido 61,3% e 60,8% (2002 e 2006) e a própria Dilma, 56% (2010), no 2º turno. No berço histórico do PT, o ABC paulista, Dilma foi derrotada extraordinariamente. Depois da vitória de Pirro há cerca de um mês atrás, sua primeira medida foi aumentar as taxas de juros, para “acalmar os mercados”, isto é, aumentar a dívida pública. O capital financeiro já tem uma taxa de lucro entre 40 e 50% maior que a média do país. A segunda foi oferecer o ministério da Fazenda ao presidente do Bradesco (junto com o Itaú, um dos maiores bancos do país), que rechaçou a oferta.
Simultaneamente o escândalo de corrupção da maior empresa do país, a Petrobrás, chamado de Operação Lava Jato, adquiriu dimensões “fellineanas”. O escândalo precedente, o mensalão (compra de votos parlamentares pelo governo), havia sido definido como “o maior” e “o último”; o da Petrobrás supera, com folga, ambos os títulos. Trata-se de esquema de propinas multimilionárias para a concessão de contratos públicos. Encontram-se envolvidas as nove maiores empresas construtoras do país (Camargo Correa, Engevix, Galvão, Mendes Júnior, IESA, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC) que já possuem vários diretores presos. Os beneficiários, diretores da empresa estatal, desviavam as propinas para as contas dos “partidos” (eufemismo) da coalizão de governo (PT, PMDB, PP, e algum outro da “base aliada”) e, claro, até suas próprias contas (“comissões”). Não é necessário dizer que as propinas eram depositadas nas contas (superfaturadas) das empresas: um esquema de saque multimilionário dos cofres públicos.
Morgan Stanley calculou que as perdas da petrolífera devido ao esquema seriam de R$ 21 bilhões (cerca de US$ 10 bilhões). Um dos funcionários comprometidos, o já aposentado Pedro Barusco, ex Diretor de Serviços, apresentou-se espontaneamente (sem ser citado!) à polícia, comprometendo-se a devolver, de seu bolso, US$ 100 milhões (mas não os juros produzidos por esse dinheiro nos últimos doze anos). Este é o partido e o governo cuja vitória eleitoral os “progressistas” de toda a América Latina definiram como “continuidade do processo de mudança” (troca de moeda nacional por dólares em contas no exterior).
A “esquerda” (PT e “progressistas”) denuncia um golpe judicial. A Petrobrás (cujo valor de mercado caiu de R$ 410 bilhões em 2011 para R$ 160 bilhões) é responsável por 10% da arrecadação de impostos do país: o escândalo terá impacto nas contas públicas. As nove empresas (o “cartel”) faturaram em 2013 “pelo menos” (ou seja, mais) R$ 33 bilhões com contratos públicos, financiaram candidatos a deputados com R$ 721 milhões, e candidatos a senadores com R$ 274 milhões (em 2010), e viva a democracia.
Por que o escândalo não explodiu abertamente durante a campanha eleitoral, quando as investigações já estavam em curso, para prejudicar a candidata do PT/PMDB? Primeiro, porque o juiz envolvido na causa declarou que o “cartel” opera desde “pelo menos” (ou seja, mais) há 15 anos, quando o governo (e Petrobrás) estavam nas mãos do partido opositor (PSDB), que havia chegado ao segundo turno. O “propinoduto” é um “modelo de negócios”. O intermediário do esquema (um tal Alberto Youssef, que também abriu a boca) já havia estado preso em 2003 (e outras vezes) por crimes semelhantes e está metido em outros escândalos menores que beneficiam, claro, o PSDB. Ou seja, mancomunaram-se entre todos.
Os resultados das eleições recentes, portanto, merecem uma segunda leitura: consagraram a um candidato da oposição (Aécio Neves), com 49% dos votos, como suplente, em caso de crise institucional e de eleições antecipadas, se o escândalo "pluripartidário" se impuser na situação política.
A negativa do presidente do Bradesco em assumir como ministro não é um caso isolado: o PMDB, partido do governo, propõe para presidente da Câmara o seu deputado Eduardo Cunha, que apoiou abertamente ao opositor Aécio Neves no segundo turno. Tarso Genro (atual governador petista em fim de mandato do RS e ex-ministro da Justiça de Lula) interpreta esta proposta como um passo para uma ruptura da aliança governamental. Desenvolve-se uma crise política que pode levar ao impeachment da Presidenta.
O déficit comercial e em conta corrente do país são os piores dos 12 anos de “governo progressista”. O déficit das contas externas alcançou 3,7% do PIB, um nível que não era alcançado desde 2001-2002 (crise Argentina) que, naquele momento, mandou à lona ao governo de FHC. Furlán, representante do agronegócio (e ex-ministro de Lula) propõe abertamente a saída do Mercosul e a assinatura de acordos bilaterais com os EUA e a UE, o que também propõe Celso Lafer, ideólogo “internacional” do PSDB. Vai se formando um consenso. O PT busca adaptar-se, anunciando medidas de ajuste violentas (um “sistema único do trabalho”, que libera as demissões e a flexibilização trabalhista). Manipula as contas fiscais para assegurar o pagamento da dívida externa, que está comprometido, em especial devido à dívida privada.
Como se encontra a esquerda nesta conjuntura? O PSOL, depois de obter 1,6 milhão de votos no 1º turno (o dobro de 2010) rifou a votação obtida com o apoio a Dilma (“entusiasta”) no 2 º turno. O PSTU, que fez uma votação quase marginal (menos de 100 mil votos) só consegue propor, frente à enorme crise: “Somente a luta pode garantir mudanças e evitar retrocessos”. Ou seja, que houve “avanços” e que se deve seguir mudando.
Também “os movimentos” e, sobretudo, as ONG’s e fundações que recebem fundos dos Estados e as corporações, limitam-se a criticar ao governo por temas pontuais. Agora que a crise coloca-se pesada, denunciam “o golpismo” e apoiam ao governo: assim já fizeram em junho de 2013, assim o fazem agora – e denunciam a esquerda classista por “golpista”.
É necessário refundar a esquerda classista no Brasil.

                                                                                   
                                                                               

Altamira con Sylvestre en Radio Del Plata:

https://soundcloud.com/partidoobrero/altamira-con-sylvestre-en-radio-del-plata-091214/



terça-feira, 11 de novembro de 2014

Discurso de Jorge Altamira :: Congreso del Movimiento Obrero y la Izquierda



Discurso de Altamira en el Luna Park



Discurso de Jorge Altamira, dirigente nacional del Partido Obrero, en el acto de cierre del Congreso del Movimiento Obrero y la Izquierda en el Luna Park.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

SUT – A QUEM INTERESSA?


                                                                                         
         


LUÍS GUILHERME TARRAGÔ GIORDANO

No dia 12/11 ocorreu o 3º Fórum Municipal do mercado de trabalho de Porto Alegre, o qual tinha como pauta (inusitadamente): Sistema Único do Trabalho – SUT e Conjuntura Econômica, convocado pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, Conselho Municipal de Emprego, SINE Municipal de Porto Alegre, Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego, Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT e Observatório do Trabalho, patrocinado pelo SEBRAE RS, SENAC e FECOMÉRCIO RS. Uma composição política de entidades empresariais com a prefeitura municipal de Porto Alegre e o Ministério do Trabalho e Emprego, o qual estão ambos neste momento sob o comando do PDT, partido do ex-ministro Carlos Lupi, que ocupou um dos 8 gabinetes do governo Dilma  demitidos da pasta por denúncias de corrupção.
Da mesa de abertura do evento participaram um representante do FECOMÉRCIO RS, do Ministério do Trabalho e Emprego, do Conselho Municipal de Emprego e da Comissão Estadual do Trabalho e Emprego (única voz dissonante – o qual atacou o caráter ditatorial da proposta, que já foi apresentada na forma de uma minuta de Projeto de Lei).
O representante da FECOMÉRCIO RS advogou em nome do “progresso na modernização das relações de trabalho" e da “sustentabilidade das empresas”, a qual segundo ele são incompatíveis com a “postura rígida do poder judiciário”, com o “intervencionismo estatal” e com a “CLT-1943”.
O representante do MTE, Rafael Galvão, um cargo de confiança indicado pelo ex-ministro Carlos Lupi, afirmou que “o SUT é uma criança que está em gestação e que não consiste num Cavalo de Tróia” para o conjunto da classe trabalhadora. Sua falação não conseguiu esconder que o pano de fundo do SUT é o enorme orçamento do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, o qual o mesmo admitiu que vai ser fatiado (trocadilho) nas três esferas do estado (União, Estados e Municípios), com o fortalecimento do “poder local”. Será mera coincidência ou acaso que o PDT tenha se tornado praticamente um partido que governa um determinado número de municípios em alguns estados da federação? O número de parlamentares do PDT no Congresso Nacional vem se reduzindo drasticamente a cada eleição, perdeu completamente a influência que detinha nos estados do RJ e RS, com o enfraquecimento do brizolismo. Nacionalmente praticamente detém um reduzido número de parlamentares e uma “boquinha” na pasta do MTE. O “fortalecimento do poder local”, segundo o encarregado de Carlos Lupi, pode ser lido como uma tentativa de recomposição política através de um financiamento do “FAT municipal”, previsto no SUT.
Após a abertura do evento, instalaram-se os trabalhos com alguns palestrantes que ocuparam o tempo de 15 minutos, cada um.
A palestrante representante da Força Sindical, embora também tenha criticado a forma de Projeto de Lei, como foi apresentada a proposta de SUT, e o caráter meramente consultivo dos conselhos nele previstos, não se opôs à proposta em seu conjunto, apenas pontuando algumas discordâncias, entre elas, o fim do repasse de 20% da contribuição sindical para as centrais sindicais, com a criação do Fundo Nacional do Trabalho, previsto no SUT.
Um economista, representante da Fundação de Economia e Estatística – FEE/RS, caracterizou que houve uma completa subestimação da duração da crise mundial iniciada em 2008, e que a anunciada recuperação dos EUA, Japão e Europa é infinitamente insuficiente, com baixo dinamismo de crescimento econômico em relação ao crescimento demográfico. Conceituou como “dança das cadeiras” o fato de que não existe um crescimento uniforme dos países e continentes. A América Latina sofre com uma economia primária e a baixa dos preços das commodities. A previsão do FMI é de baixo crescimento da economia mundial e nacional para 2015, com a tendência de endurecimento da política monetária por parte dos EUA, deflação na Europa, crise permanente da geopolítica do Oriente Médio, desaceleração da economia chinesa tendo como consequência crises financeiras. Foi apontado pelo economista o esgotamento conjuntural do ciclo 2004-2010, como principal desafio da transição que o governo reeleito começa a atravessar no Brasil, ciclo este que teve como principais motores, a saber: 1) Incentivo ao setor externo; 2) Expansão da economia mundial; 3) Aumento do crédito. Em relação ao pífio crescimento do PIB mundial, foi dado como exemplo a Finlândia, que só terá perspectiva de voltar a crescer em 2018, depois da crise que se instalou em 2008. A política econômica sugerida pelo economista diante de um quadro duríssimo que se instalará nos próximos dois anos é de ajuste fiscal, política monetária apertada e reposição dos preços. A chave da situação, nestes marcos, está na intensidade dessas medidas e na previsibilidade da política econômica e a perspectiva de que a economia mundial não irá ajudar no crescimento da política nacional. Neste sentido, o economista advogou a necessidade de vincular a curto prazo as perspectivas de longo prazo, e se referiu a três pontos para alcançar este objetivo: 1) infra-estrutura; 2) camada do pré-sal; 3) agenda diplomática.
A assistência presente no evento teve direito a uma palestra muito animada de uma economista da FECOMÉRCIO, chamada Patrícia, que deu um show de neo-malthusianismo e antidarwinismo, ao defender um ensino totalmente técnico voltado para o mercado de trabalho, ou seja, a redução da educação a uma completa subordinação aos ditames do capital.
O diretor do MTE, apaniguado do ex-ministro Carlos Lupi, o senhor Rafael Galvão, junto com o senhor Manoel Eugênio, apresentado como um dos pais da “criança” defenderam um pacto social e a participação popular, para que o SUT seja um exemplo de democracia.
Só que se esqueceu de dizer que os servidores públicos auditores fiscais e administrativos do MTE não foram chamados a opinar sobre o SUT e muito menos o conjunto da classe trabalhadora, os principais interessados na política nacional de trabalho e emprego no país.
E a democracia foi jogada pelo ralo, pois quando os servidores do MTE, que estavam representando suas entidades de classe e o Fórum Nacional contra o SUT pediram a palavra para fazerem um pronunciamento, foram “urbanamente” impedidos pela mesa diretora dos trabalhos, num claro cerceamento daqueles que se opõem ao desmantelamento dos serviços públicos através de mecanismos como o SUT, como as parcerias público-privadas, terceirizações e privatizações. A forma profundamente arbitrária que se manifestou neste Fórum e o total obscurantismo que vem envolvendo a criação do SUT, dá o tom de que os interesses dominantes nesta malfadada criatura são daqueles que vislumbraram uma oportunidade de abocanhar parte do gordo orçamento do FAT e de flexibilizar as relações trabalhistas, retirando direitos da classe trabalhadora.
Por isso, mais do que nunca, urge a necessidade de parar este verdadeiro pesadelo que está se transformando a criação do SUT, e os servidores do MTE devem mostrar o caminho, dando uma resposta à altura e proporcional à envergadura do brutal ataque aos direitos trabalhistas e às condições de vida de toda a classe trabalhadora. Por um Encontro Nacional aberto dos servidores do MTE para que se aprove um Plano de Lutas que derrote o SUT, engavetando-o na lata do lixo, e promova uma profunda mobilização pelas necessidades mais sentidas de toda a categoria.

                

Congreso del Movimiento Obrero y la Izquierda:


Resolución política del Congreso del Movimiento Obrero y la Izquierda



                                                               
       

1. El Congreso se pronuncia por la defensa del Frente de Izquierda, como canal político-electoral de un ascenso del clasismo y la izquierda. Se trata de la aplicación del frente único de la clase obrera y de los partidos que lo integran, contra los partidos del capital y los gobiernos capitalistas. El objetivo estratégico del Frente de Izquierda es el desarrollo de la independencia política de los trabajadores y la lucha por un gobierno de trabajadores. El Frente de Izquierda debe convertirse en un instrumento de la lucha de clases cotidiana y del desarrollo de la autonomía política del proletariado y de una conciencia socialista en la clase obrera y la juventud. El Congreso destaca el frente único político en oposición a cualquier forma de faccionalismo sin principios y a cualquier desvío del objetivo de la lucha política contra los representantes del capital. Reivindica el Manifiesto Político de la campaña de 2013 y propone la elaboración un Manifiesto del mismo carácter para la campaña que se inicia.

2. El Congreso propicia que las asambleas zonales que prepararon este congreso fomenten la organización de mesas regionales y comités de apoyo para impulsar la campaña electoral del Frente de Izquierda. El Congreso apoya la candidatura presidencial de Jorge Altamira, referente nacional del Frente y uno de los principales constructores del Frente de Izquierda. Destacamos el crecimiento de esta candidatura en todos los sondeos de opinión. Recogemos y hacemos nuestra la propuesta de los compañeros de Izquierda Socialista de iniciar la campaña electoral con un acto del Frente de Izquierda, a principios del 2015, encabezado por la candidatura de Jorge Altamira.

3. Damos nuestro apoyo a los compañeros del PO de Salta, que ya han nominado sus candidatos para emprender una batalla política apasionante en la capital de la provincia: la disputa de la Intendencia. Apoyamos el planteo de que un gobierno municipal del Partido Obrero y la izquierda convoque a una asamblea constituyente libre y soberana de la ciudad de Salta, para reorganizar política y socialmente al municipio, en torno a las reivindicaciones históricas del movimiento obrero – o sea el control y la gestión obrera colectiva, como una transición demostrativa para el conjunto de los trabajadores de Argentina.

4. Nos pronunciamos por la defensa de los parlamentarios del Frente de Izquierda, que están siendo perseguidos por apoyar las luchas de los trabajadores. Repudiamos las agresiones y violencias de las que han sido objeto por parte de las patotas de la burocracia y de la Gendarmería. Reivindicamos que la función de un parlamentario revolucionario es impulsar la lucha de clases, fuera y dentro del parlamento.

5. Apoyamos el paro del 20 de noviembre convocado por la CTA-Michelli. Reclamamos la aprobación de la ley de expropiación sin pago y la estatización de Donnelley bajo control obrero, y el resarcimiento a los trabajadores de YPF, víctimas del vaciamiento de las privatizaciones. Por el triunfo de todas las luchas. Abajo la represión. Fuera la Gendarmería de la zona norte. Anulación de la ley Antiterrorista. Libertad a los presos políticos de Santa Cruz. Anulación de la condena de los obreros petroleros. Desprocesamiento de todos los luchadores populares.

6. Por el no pago de la deuda externa. Nacionalización de la banca y el comercio exterior. Nacionalización integral del petróleo y los recursos naturales bajo el control de los trabajadores. Por un plan político y económico de los trabajadores, para reorganizar socialmente el país a partir del interés de las mayorías populares.

7. Repudio a la brutal masacre de los 43 estudiantes mexicanos.

8. El Congreso decide re-convocarse para abril-mayo. Llamamos al Frente de Izquierda a asumir la iniciativa de esta convocatoria. Llamamos a incorporar a la agenda de las asambleas regionales la tarea del reclutamiento metódico, para ampliar la organización y la movilización política de los trabajadores.

9. Que la crisis la paguen los capitalistas. Por un 2015 de los trabajadores y la izquierda.

Buenos Aires, 8 de noviembre de 2014. Aprobada por unanimidad.

domingo, 9 de novembro de 2014

Entrevista a Néstor Pitrola - Congreso del Movimiento Obrero y la Izquierda



Entrevista a Néstor Pitrola en el Luna Park:


Entrevista a Néstor Pitrola, diputado del Frente de Izquierda y dirigente nacional del Partido Obrero, en el Congreso del Movimiento Obrero y la Izquierda en el Luna Park



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ELEIÇÕES NO BRASIL:

                                                                        



UM PETISMO EVANGÉLICO ALIADO À VELHA POLÍTICA




Jorge Altamira


O resultado eleitoral não expressa a recente rebelião popular. Ficaram nos primeiros lugares os responsáveis pela recessão, a inflação e o desemprego. Abre-se uma transição política e um período de crise.

A filiação petista da presidenta da nação esconde o verdadeiro caráter do governo brasileiro, que é, em primeiro lugar, uma aliança com o PMDB, o partido mais importante do país, criado sob a ditadura militar, e, por outro lado, com a direita evangélica, o que impõe à coalizão oficial uma agenda clerical e confessional de características extremadas. Os votos tidos pela situação são a expressão desta coalizão. A frase "governo do PT" nada mais é do que um eufemismo, que ajuda a decorar o governo com enfeites progressistas. Os acontecimentos mais marcantes de corrupção durante a administração “petista” estão relacionados precisamente com a "necessidade" de manter um curral de uma absurda maioria parlamentar.

Quais são as considerações mais importantes levantadas por estes resultados? 

A mais importante é, sem dúvida, que não traduziram a enorme revolta popular do ano passado contra os aumentos das tarifas de transporte e de protesto contra o colapso dos serviços públicos essenciais. Os partidos e coligações estabelecidas se beneficiaram desproporcionalmente das contradições do movimento popular, em cujo seio opera a burocracia sindical, em especial a governista CUT; o oportunismo eleitoral de um setor da esquerda (PSOL), que tem somente olhos para o carreirismo parlamentar; a debilidade dos setores classistas nos sindicatos e na juventude. Sob estas condições, as eleições funcionam como um espelho distorcido da realidade histórica do Brasil. As pesquisas privadas e os meios de comunicação, mais uma vez mostraram seu caráter manipulador neste quadro distorcido, abaixando e levantando as chances de cada candidato, de acordo com as circunstâncias e conveniências. A volatilidade pré-eleitoral é um forte sinal da enorme desconfiança do eleitorado diante das opções apresentadas.
Ficaram em primeiro lugar as forças políticas responsáveis pela recessão industrial - especialmente as demissões e suspensões na indústria automobilística - a inflação e o aumento do desemprego. A dívida pública do Brasil supera 60% do PIB, e se aproxima dos US$ 700 bilhões, e pior ainda é a dívida privada, que está perto dos cem por cento do PIB. A entrada de capital especulativo para aproveitar a diferença monumental das taxas de juros com os mercados internacionais tem sido extraordinária, e agora enfrenta uma reversão de tendência. O medo da fuga de capitais exerce uma enorme pressão sobre a taxa de juros no Brasil, que por sua vez tem um impacto negativo sobre o financiamento da indústria e sobre o crédito ao consumo, que se encontra em níveis muito altos. O "ascenso à classe média", a qual pondera a mídia internacional, é uma consequência do cartão de crédito. O Brasil pós-eleitoral será o cenário do ajuste e da acentuação do "conflito" social. A fuga de capitais já resultou em uma desvalorização do real, mais ou menos significativa. 

Contra o Mercosul

                                                                


Na ausência de um ativismo popular, independente, as eleições foram confinadas a uma disputa entre os setores dominantes. Em que consiste essa disputa? Dilma Rousseff, a presidenta, anunciou com significativa antecedência que abriria mão, em um segundo mandato, da atual equipe econômica. Procurou, deste modo, absorver a pressão dos "mercados", cuja principal preocupação é a de que o Banco Central tenha a capacidade de honrar o pagamento da dívida externa e aumentar os “incentivos” para que o capital especulativo não escape do país. Entre os “incentivos” não figuram somente o congelamento de salários e a redução dos gastos sociais. Um lugar importante é ocupado pela liberalização do comércio exterior e a mudança da política para o petróleo. Os esforços do governo para assinar um acordo de livre comércio com a UE foram bloqueados pela Argentina, de onde procedem as exigências oposicionistas (e do candidato da Frente Ampla do Uruguai) para debilitar o Mercosul e “liberar” a política brasileira da kirchnerista.
Dentro do campo “nacional e popular", como se vê, há também uma divisão de estratégias. Mais precisamente, cedem ante a pressão da crise e do capital internacional. Ninguém menos que o ex-presidente da venezuelana PDVSA , Rafael Ramirez, foi demitido de seu cargo, quando levantou a necessidade de desvalorizar o bolívar e liberar o câmbio. Sobre o tema do petróleo, o governo brasileiro enfrenta a pressão para que a Petrobras atenda aos interesses de seus acionistas privados (aumento do preço da gasolina e uma política de lucros maiores) e dê mais espaço para as empresas petrolíferas internacionais na exploração da plataforma marítima. O ascenso inesperado da oposição encarnada pelo PSDB (Aécio Neves) responde a esta tendência capitalista frente à crise. O governo já se pronunciou a favor de atender essas reivindicações.
Nos círculos financeiros cogita-se que a possibilidade de que uma derrota do governo teria uma capacidade de incidência sobre a crise da Argentina maior do que o “dólar blue”. Marcaria, dizem, uma mudança irreversível de tendência e precipitaria um desenlace mais rápido dessa crise. Esta é uma meia verdade, porque essa mudança de tendência já se encontra comodamente abrigada no atual governo. Inclusive, é maior, a capacidade deste governo de dar uma guinada e aplicar essa política do que a oposição, isso porque o governo tem maior capacidade de controle popular e uma cintura maior para a arbitragem em uma conjuntura de crescente mobilização de massas.
As eleições brasileiras mostram o fim de um ciclo e que a burguesia não pode continuar governando vinha fazendo anteriormente. Isto prevê uma transição e, por conseguinte, uma crise de conjunto. Faz falta agora que os trabalhadores, através, obviamente, de lutas parciais crescentes, desenvolvam sua própria alternativa política.

                                                                 


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

DILMA, MARINA E AÉCIO:


                                                                     

                  

          O GOVERNO, A BURGUESIA E SEUS CANDIDATOS PREPARAM UM "TARIFAÇO" PARA DEPOIS DAS ELEIÇÕES!

            David Lúcius
           
         Nos próximos dias vão se realizar uma das eleições mais disputadas e complexas da história de nosso país. Com certeza essas eleições marcarão modificações profundas em todo o panorama político, independente de qual partido ou grupo político saia vitorioso. A grande burguesia e os principais setores do capital estão diante de um impasse em que os três principais candidatos são o centro da disputa. Todos os três principais candidatos têm financiamento e ligações profundas com o grande capital. Temos que analisar e tirar conclusões sobre o que se modifica com essas eleições no atual quadro político e o que isso afetará na vida da maioria da população daqui para a frente.
            Para podermos ter uma melhor compreensão do processo eleitoral iremos analisar as modificações que ocorreram na conjuntura política e econômica do país e suas inevitáveis consequências:
            1 - O desenvolvimento da crise econômica internacional, uma crise histórica que está colocando diante das massas o dilema do próprio esgotamento do capitalismo como modo de produção e como sistema econômico mundial. Essa crise, iniciada na década passada, se aprofundou em nosso continente e particularmente em nosso país, de forma constante e profunda, afetando praticamente todos os principais setores da economia, levando-a para um quadro de recessão, de aumento da inflação e do desemprego, atingindo, direta ou indiretamente, toda uma grande parcela da população, que formal ou informalmente (no Brasil, apenas cerca de um pouco mais da metade da população economicamente ativa tem um trabalho formal, registrado, com os devidos direitos trabalhistas) tenta trabalhar ou procura um emprego. A crise econômica é um fator determinante para todas classes sociais que lutam por seus interesses imediatos, e que procuram uma saída política para o impasse econômico que os afeta. O movimento centrífugo dessa crise contamina, de forma gradual, todas as regiões, camadas e grupos sociais, sendo o principal foco da atual instabilidade política. A crise econômica atual afeta todas as classes sociais (de modo desigual) levando a luta econômica paulatinamente para a esfera política. Esta é a base na qual desenvolve-se o desgaste do PT, do governo e de todo o regime político perante as massas, assim como é a base de todo impasse da burguesia diante do atual cenário político. Diante da crise, o PT reiteradamente tentou ocultar a realidade diante da população, modificando e adaptando sempre o seu discurso (“a crise não passa de uma marolinha”; “a economia apenas atravessa uma fase de desaceleração” “o Brasil não está em recessão” etc, etc) com a clara intenção de ocultar a realidade às massas. O PT e seus governos procuram, mais cedo ou mais tarde, sempre descarregar o ônus da crise nas costas da classe trabalhadora enquanto cedem com a outra mão subsídios e isenções fiscais ao grande capital e seus representantes nacionais e estrangeiros.
            2 - As Jornadas de Junho, que a partir do ano passado, contaminaram o espírito de luta da juventude e de uma importante parcela dos trabalhadores e da classe média, questionando o regime político como um todo, seus partidos políticos (que participam direta ou indiretamente na sustentação desse regime) e particularmente o PT, que há mais de uma década detêm as rédeas do Estado além de ser a peça de central de sustentação de todo esse processo político. O processo de luta aberto com as Jornadas de Junho não foi fechado ainda. Os efeitos da crise econômica sobre os ombros da maioria da população deve, no próximo período, ter como ponto de partida as lutas iniciadas nas Jornadas de Junho. A disseminação dessa disposição de luta da juventude para a classe trabalhadora já contamina a realidade da luta de classes.   
            3 - As greves e protestos sociais, que logo se espalharam pelas diversas categorias de trabalhadores e de vários setores da população, mostrando que o ascenso das lutas que se iniciara na juventude, em junho do ano passado, já contagiava profundamente a classe trabalhadora como um todo e  demonstrava que a burocracia sindical, elo de ligação do PT com a classe trabalhadora, estava visivelmente sofrendo uma pressão e, até mesmo, um acentuado desgaste perante uma parcela importante dos trabalhadores.  O ascenso das greves e lutas sociais começou antes das Jornadas de Junho, mas tomou impulso a partir do ano passado e continuou em diversas categorias e setores sociais como um indicador de que a classe trabalhadora esta se preparando para lutas de maior envergadura que se aproximam;
            4 - O PT sofreu durante todo esse período uma enorme sangria política perante as massas com sua pratica continuada de corrupção, favorecimento dos grandes grupos capitalistas, nacionais e imperialistas (como por exemplo com a venda de setores do Pré-Sal) e aliança com os setores mais reacionários, fisiológicos e oligárquicos da política nacional. A burguesia nacional e imperialista alia-se ao PT ou a outros grupos políticos dependendo de seus interesses específicos, do ponto de vista de classe não há diferença para os trabalhadores entre o PT e os outros patronais, se formal e aparentemente o PT ainda tenta manter sua fisionomia de um partido de esquerda, na luta de classes ele toma claramente o lado do grande capital. Uma grande parcela dos trabalhadores ainda se mantém alinhado ao PT, o próximo período, período de aprofundamento da crise econômica, deve marcar políticas econômicas ainda mais duras do PT contra as massas e favoráveis ao capital. Esse período deve demarcar e ampliar o divórcio entre as massas e o Partido dos Trabalhadores.
            O quadro de conjunto é de uma das maiores crises das duas últimas décadas e a qual será o cenário de uma eleição para presidente e demais cargos que ocorrerá nos próximos dias. Ganhe quem ganhar, assumirá o poder em uma intensa instabilidade política e econômica, com o acirramento da luta de classes, a politização de amplas camadas da população, o ascenso das lutas na juventude e na classe trabalhadora e em outros setores por reivindicações imediatas em um quadro de recessão em que os três principais candidatos estão comprometidos, antes de mais nada, em defender os interesses da grande burguesia e de seus aliados. Todo esse cenário aponta para um acirramento da luta de classes e para grandes conflitos para o próximo período, após as eleições.
Toda formulação de Marina como terceira via (ou segunda), ou seja, como uma candidata que pode fazer uma ponte do PT com o PSDB não foi construída por acaso. A própria candidatura de Marina foi construída a partir de uma ex-trabalhadora rural que foi senadora, e quadro político do PT (onde fez “escola” e aprendeu que poderia se aliar com os setores mais reacionários para tentar conseguir atingir seus interesses imediatos, projetando-se para fora do PT como uma liderança “carismática” dessa “nova política”), onde fez parte do grupo do setor mais a direita do partido (junto com Jose´Genuíno e Tarso Genro entre outros), onde já era desenvolvida a teoria de que a luta de classes era coisa do passado (Fukuyama em doses homeopáticas para ex-socialistas) e que era possível um governo de “coalizão” com setores mais à direita. O próprio Lula defendeu essas ideias na época do fim do governo Itamar (chamando o próprio FHC para ser seu vice em uma candidatura a presidente, o que, é obvio, ele recusou). Não é coincidência que essas ideias tenham se formado dentro do próprio PT, mas sim sua continuidade lógica, que devido às contradições inerentes ao próprio processo político ela não frutificou de forma cabal (de forma parcial a vários exemplos como a aliança feita pelo PSDB e o PT em Minas Gerais no passado recente), mas sim de forma parcial (alianças com o PMDB e outras variantes burguesas). Marina acabou levando as ideias de sua antiga corrente política para sua consequência lógica, ou seja: já que o PT alia-se a todos os setores da direita, Marina propõe um governo de coalizão com os “melhores elementos” (logicamente que do ponto de vista exclusivamente burguês) para conseguir impor um “choque de gestão” (um governo em que as medidas políticas econômicas burguesas sejam feitas de forma direta e não em doses homeopáticas), com a consequente independência do Banco Central, primeiro passo para o aumento da taxa de juros, aumento de inflação, desvalorização do real frente ao dólar e aumento do desemprego (tudo que já vemos no horizonte econômico, só que de forma concentrada).
O PT por seu lado, também indica que em seu novo mandato fará modificações profundas em sua política econômica. Mantega não continuará a frente da política econômica e não precisa ser um gênio para prognosticar que isso indica a mesma linha proposta por Marina, Aécio e a burguesia. Além de todos os itens descritos no parágrafo anterior não podemos nos esquecer do aumento da energia elétrica e dos combustíveis, verdadeira cereja do bolo para o mercado financeiro.
            De qualquer forma, todos esses três candidatos expressam, do ponto de vista de classe, em maior ou menor grau, com um apoio mais intenso ou menos intenso, os interesses de setores fundamentais da burguesia. O fato de não haver uma convergência dos principais setores da burguesia em uma única candidatura expressa suas contradições internas, inerentes a seus interesses políticos e econômicos e que se acirram em etapas de crise, como a que estamos atravessando, e tenderão a se acirrar cada vez mais, mesmo após as eleições. A burguesia vêem as eleições como um grande negócio e colocarão suas fichas (ou seu dinheiro) nos seus principais candidatos, de acordo com a possibilidade que cada um demonstre em executar (após as eleições) a sua política econômica, para garantir seus gigantescos lucros em uma época de crise e recessão econômica. Se em momentos de vacas gordas a burguesia não descuida de forma alguma de seus interesses, não há dúvidas que em períodos de vacas magras a atenção e o cuidado com seus interesses ficam redobrados, assim como um indivíduo normal redobra sua energia na manutenção de sua existência quando sua vida é colocada diante de algum risco eminente.
Todos os três principais candidatos convergem para, depois das eleições, aplicar um grande ajuste ou “tarifaço” em que se aumentará o preço do petróleo e derivados (gasolina), da energia elétrica, desvalorização do real frente ao dólar (para favorecer o setor exportador da indústria, do comércio e mesmo do agronegócio), que acarretará em um aumento ainda maior da inflação (que não é expresso de forma real pelos índices oficiais em toda sua amplitude, mas de forma parcial e deformada, tendo como consequência imediata uma grande defasagem salarial nas grandes cidades, onde o processo inflacionário é mais forte e onde se concentra grande parte dos assalariados), sem contar na imediata consequência de aumento da recessão e do desemprego (que até mesmo os índices oficiais já começam a transparecer). 
            O “tarifaço” está sendo organizado para ser lançado após as eleições. Alguns setores econômicos já começam pontualmente a antecipar esse tarifaço: setores da energia elétrica que são atendidas pela empresa Elektro foram autorizados pela Aneel a aumentar em média 37% as contas de luz, isso já dá uma vaga ideia do futuro cinzento que espera a maioria da população após as eleições: aumentos de tarifas compatíveis com a hiperinflação, enquanto os salários (quando são reajustados) recebem pelos parcos índices do IBGE.   

            Nesse contexto um encontro dos setores combativos da classe trabalhadora, dos movimentos sociais e da esquerda seria importante nesse momento para traçar uma perspectiva de enfrentamento para organizar os trabalhadores para os próximos desafios. Vivemos a antevéspera de grandes lutas. O que se iniciou como um grande movimento de massas pode tomar contornos maiores e inesperados, tudo depende da resistência que as massas derem aos próximos golpes da burguesia. Se por um lado ainda não houveram grandes vitórias nas lutas do último período, também não houveram grandes derrotas. É aí que temos que focar toda nossa análise e nossa atenção. Por isso, a esquerda combativa e os trabalhadores deveríamos concentrar nossos esforços em unificar e organizar essas lutas para o próximo período, afinal as derradeiras lutas ainda estão por vir e com certeza virão...      

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

VOTAR PSTU

                                                                 






Guilherme Giordano


As eleições tomaram um curso no Brasil inesperado e inusitado para os interesses do grande capital nacional e internacional.
De repente, como se fosse um raio em céu azul, de um acidente no sentido literal de percurso, brotou a candidatura de Marina Silva, herdeira da política de conciliação de classes impulsionada pelo núcleo dirigente do PT, que foi se cristalizando à medida em que os partidos tradicionais da burguesia foram entrando em colapso e o PT era convocado gradativamente a administrar os negócios da burguesia e do imperialismo, primeiramente nas prefeituras e estados, para, posteriormente, ser praticamente obrigado a tomar as rédeas do centro político do estado burguês. Assim, depois da política de terra arrasada da era FHC que levou o país a uma crise sem precedentes, fazendo inclusive com que os partidos e políticos representantes do grande capital desembarcassem do seu governo antes mesmo do final do seu segundo mandato, o que não impediu que fossem levados para o fundo do poço, como foi o caso do PFL, hoje, DEM, que combina com o verbo definhar no gerúndio, DEFINHANDO, e o malufista PP, que esconde-se hoje na "base" de sustentação política do governo do PT, a mesma classe social que derrotou a candidatura de Lula por três vezes, em 1989, 1994 e 1998, foi praticamente obrigada a elegê-la, em 2002, é claro, que com o precedente compromisso e acordo formal deste com os organismos financeiros internacionais e numa aliança espúria e estratégica com José de Alencar, um tubarão da indústria têxtil e ligado ao fundamentalismo evangélico.
Lula foi a saída menos onerosa e prejudicial para os interesses da burguesia e do imperialismo, no Brasil e na América Latina. Foi o mal menor para o grande capital nacional e internacional, que acabou numa situação de profunda instabilidade política do regime burguês, preservando e até aumentando os ganhos dos banqueiros, do agronegócio, de setores da grande indústria e da especulação imobiliária, em detrimento dos trabalhadores da cidade e do campo. Nos seus 8 anos de mandato, por exemplo, nunca o agronegócio lucrou tanto, muito mais inclusive do que na era FHC, enquanto o número de assassinatos no campo de lideranças e trabalhadores sem-terras aumentou vertiginosamente, tendo a reforma agrária, mesmo limitadíssima, pois realizada através da indenização daqueles que vivem especulando com o estoque da terra, da chamada renda fundiária, sido praticamente paralisada.
Já, no final do seu 2º mandato, Lula começou a enfrentar mobilizações dos trabalhadores da cidade e do campo, dando sinais de esgotamento da capacidade de contenção e controle dos chamados movimentos sociais, por conta principalmente da crise econômica mundial que acabou explodindo em 2008. A "blindagem" da economia nacional revelou-se como uma política que proporcionou uma enorme transferência de renda principalmente para o capital especulativo, que nadou na chamada ciranda financeira, conquistando dessa maneira uma gordura que se traduziu artificialmente em uma política de crédito para manutenção de um "aquecimento" no consumo interno, sinônimo de endividamento da maioria da população.
O governo Dilma foi o resultado de um esforço concentrado para escamotear todas as consequências nefastas da crise que abalou a economia mundial em 2008, que rebentou na forma das multitudinárias manifestações de 2013, as chamadas jornadas de junho, que se fincaram na história do país como um divisor de águas, na medida em que, embora temporariamente, tenham colocado em xeque o conjunto das instituições políticas, inclusive dos partidos que se colocam à esquerda, bem como de alguma seita, que entrou em colapso, a ponto de acusar os manifestantes de "estarem seguindo as bandeiras da direita e do imperialismo". Ou seja, supostamente seriam manifestações reivindicando "mais direita", "mais imperialismo", porque as manifestações foram em última instância dirigidas contra um governo que está completando 12 anos "agradando" os interesses da direita, que está no governo, e do imperialismo.
Dessa forma, estamos atravessando uma etapa de profundo impasse da burguesia e do imperialismo, que diante da falência econômica do seu condomínio, estão obrigados a escolher o síndico brasileiro de uma massa falida a nível mundial. Assim, as nuances entre as três principais candidaturas que foram "democraticamente" escolhidas pelos grandes capitalistas nacionais e internacionais, para descarregarem sua crise nos trabalhadores da cidade e do campo, são resultado do fracionamento e da fissura aberta pela crise. Um bloco profundamente heterogêneo da burguesia e do imperialismo será obrigado a enfrentar as massas no próximo período, o que indica desde já uma profunda fragilização da política dos exploradores que está obrigando os explorados a arcarem com a sua bancarrota, de maneira cada vez mais árdua e cruel.
Por isso, o voto no PSTU só pode ter uma consequência política para os de baixo, na medida em que se traduzir numa política de acumulação de forças das organizações que se pautam pela independência política, frente a todas as alternativas burguesas e pró-imperialistas. A luta por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo só poderá vingar se ela for capaz de arrastar as mais amplas massas detrás de um programa político de defesa das suas necessidades mais prementes, um programa de transição entre o sistema capitalista, em sua fase senil, e uma nova sociedade, a sociedade socialista.          

terça-feira, 9 de setembro de 2014

BRASIL ENTRE “MARINA”, “EJÉRCITO” E PARTIDO



Osvaldo Coggiola


Os projetados vinte anos de governo petista, que alguns sociólogos de plantão chegaram a qualificar como “lulismo”, ou reedição “modernizada” e “democrática” dos vinte anos varguistas, ameaçam afundar antes de atingir a projetada maioridade penal brasileira (16 anos). Serão, portanto, inimputáveis.  O que não deixa de evocar um pensador alemão, anterior à sociologia weberiana, que corrigiu Hegel apontando que a história, de fato, se repete duas vezes, a primeira como tragédia (1954), a segunda como farsa (2014). Os sessenta anos do suicídio getulista, porém, não colocam em segundo plano o cinquentenário do pesadelo que se abateu sobre o país em abril de 1964, explicitamente revivificado pela “sonhática” (seria melhor dizer “pesadelática”) Marina Silva, em 2003 declarada emblema, e em 2014 detonadora, do “sonho” petista, que ameaça se transformar num “despertar” evangélico/militar/fascistóide.  
Que algum sociólogo pré-dialético (e antilógico) qualifique isto de “retrocesso”, convidando-nos a pensar a história como uma espécie de linha reta na qual se pode ir “pra frente ou pra trás” (mas evitando, em qualquer hipótese, os saltos e quebras da linha, especialmente esses saltos no vazio comumente chamados de revoluções) revela o patamar miserável em que foi posto o pensamento social e de esquerda brasileiro pelo efeito acumulado de doze anos de carguinhos e cargões, viagens internacionais sistemáticas, hotéis cinco estrelas e vida boa. O “sonho petista” continha, como tudo nesta vida, o germe de sua própria explosão, mas, como os dialéticos, de Platão em diante, se encarregaram (nas mais das vezes, inutilmente) de precisar, a incontornável contradição do real não significa antecipar qual será o sentido de sua explosão, que depende não de leis inexoráveis supra-históricas, mas da vontade humana consciente e organizada (a república monárquica dos reis filósofos para Platão, o príncipe iluminado e consciente da Razão de Estado para Maquiavel, o Estado Civil de reconhecimento universal para Hegel, o partido político revolucionário da classe operária para Marx). 
A linha sociologética antidialética inspirou o novo motto principal da campanha eleitoral de Dilma Rousseff e seus marqueteiros que, diante da brechtianamente resistível ascensão eleitoral de Marina-Ui, acharam no fundo de seus cérebros de passarinho (com o devido perdão das aves) o novo grande argumento político: convidar o povo brasileiro a evitar a “aventura”, o “salto no vazio”, representado por uma eventual vitória eleitoral de Marina Silva. Que o partido outrora autoproclamado portador do “sonho” e da “aventura”, e do “socialismo vindo de baixo”, tenha se transformado no partido do pé no chão e do Bolsa Família (vinda de cima) demonstra, não seu conquistado “realismo” (elogiado por editorialistas formais ou informais da grande imprensa, Veja incluída, e cantado em verso e prosa por sociólogos e cientistas políticos de todas as pós-modernidades imagináveis), mas, ao contrário, um irrealismo digno de entrar em concorrência com o festival de idiotices proclamadas pelos “democratas” (incluídos os socialdemocratas) e os cientistas sociais da época, diante da ascensão de Mussolini (que, como Marina, iniciou sua ascensão política nas fileiras do partido socialista-ônibus da Itália) ou de Hitler (que não precisou desse expediente, pois o dito cujo, o SPD de Ebert [que hoje empresta seu nome a uma fundação que financia petistas, petólogos e cutistas] e Noske, lhe aplainara o caminho, assassinando os únicos que poderiam tê-lo barrado, os espartacistas ou comunistas, Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Leo Jogiches, só para ficar nos mais conhecidos).
A linha auxiliar do sistema de marketing a que ficou reduzido o “sonho petista” invadiu e inundou as redes ditas “sociais” com sensacionais desvendamentos da real natureza da candidatura de Marina: antigay (pois oposta ao matrimônio civil de pessoas do mesmo sexo), antifeminina (pois oposta ao direito de aborto, em nome de Deus, seja ele evangélico, católico ou da religião que aparecer com algum caudal de votos), antilaica (pelas mesmas razões precedentes), misógina (em defesa do homofóbico Pastor Feliciano - o possuidor da “cura gay” - na presidência da Comissão de Direitos Humanos na Câmara, pela sua defesa dos evangélicos contra as supostas perseguições de que são objeto), para não falar de sua proximidade com a herdeira do Itaú, e por ai vai (o staff ex petista de Marina se encarrega cotidianamente de fazer crescer essa lista, sem limites à direita).
Acontece que isso não é a revelação científico/dialética de alguma essência por trás da aparência, pois Marina Silva não oculta o caráter ultrarreacionário de sua candidatura, ao contrário, faz questão de proclama-lo urbi et orbi como argumento dirigido ao eleitorado conservador, que é apenas um de seus alvos. O único trabalho adicional que teve Marina, depois da morte de Eduardo Campos, foi o de explicar, de um modo que, mais que beirar o ridículo, ultrapassou consciente e intencionalmente o ridículo, foi o de explicar, repetimos, que os fragmentos do programa do PSB (o programa de sua chapa com o finado governador pernambucano) relativos a essas questões que não eram explicitamente reacionários, deviam sua existência a erros tipográficos ou de transcrição da comissão partidária encarregada do programa, um argumento diante do qual até Tiririca coraria de vergonha. O PSB e seu programa ficaram reduzidos a papel higiênico.
E, como diria o velho Mussolini, me ne frega: com o programa “progressista” do PSB e a candidatura presidencial do governador do estado natal de Lula, devida ao não partido representado por Marina, a chapa marinatta patinava entre 8 e 10% das intenções de voto, com tendência a cair. Eliminado o primeiro obstáculo (não por um debate partidário interno do PSB, mas pelas ordens dadas por Marina diretamente na TV, com algum auxílio de seus assessores, e depois de um chute no traseiro dos assessores de Campos); e transformado o segundo em mártir aéreo (graças a um precário avião adquirido ilegalmente, mas tanto faz: não falta muito para que se afirme que seu decesso aconteceu no firmamento para encurtar seu caminho ao céu, de onde vela e reza, como bom socialista, pelo futuro do “novo Brasil”) a nova chapa peessebista pulou para cima em duas semanas até bater em 35% das intenções de voto, conquistando um 25% suplementar (o que equivale a pouco mais de 36 milhões de votos), derrotando Dilma no segundo turno, e reduzindo o fantasma tucano, invocado nas eleições precedentes pelo PT para chamar ao “voto útil”, às suas reais dimensões eleitorais: 14%, com tendência para uma queda ainda maior até outubro.  
O último prego no caixão do sonho foi cravado pela própria Marina, ao proclamar alto e bom som (e, presumivelmente, sem consultar ninguém além de seu círculo íntimo) sua oposição à revisão da Lei de Anistia, isto é, propor a expedição de um certificado de inocência e impunidade eternas para assassinos, torturadores e ladrões em grande escala do regime militar, ou seja, que nada será feito contra as consequências, bem presentes até hoje (a começar pela famigerada PM), de 21 anos de arbítrio armado elevado à categoria de Razão de Estado. O Clube Militar, que andava esquecido, ou melhor, escondido nos últimos tempos, saiu de sua toca para proclamar em Marina Silva seu “fio de esperança”, lhe oferecendo em bandeja de prata a última fatia do eleitorado que ela pretendia abocanhar: a dos saudosistas da ditadura militar. Com certeza, isto não significará destituir ou mandar às favas a Comissão da Verdade, que poderá continuar a trabalhar, e produzir finalmente um belo volume de histórias de crimes e de horror, que será devidamente arquivado nas estantes da Biblioteca do Senado. Página encerrada: como diz Marina, o segredo da vida é olhar para frente; o passado é só matéria para historiadores e proprietários de casas funerárias.
Também não significa que Marina deixe de se proclamar ambientalista e defensora dos povos da floresta, invocando seu próprio lendário passado. Proclamando como seu candidato a vice um agente direto do agronegócio, isto é, um inimigo da reforma agrária e um aliado dos desmatadores e perseguidores (ou matadores, sem o prefixo “des”) dos povos da floresta. O sindicato de trabalhadores rurais de Xapurí, o sindicato de Chico Mendes, já denunciou, em termos além de qualquer dúvida ou ambiguidade, a mentira e o caráter reacionário da candidatura de Marina, oferecendo um fundamental ponto de apoio para uma denúncia classista desta, mas sem a projeção midiática da campanha eleitoral daquela.
O outrora fascismo “verde” tupiniquim, o integralismo, também cultivava a demagogia florestal e até a apologia dos povos indígenas (anauê!), supostos portadores de uma “brasilidade” que os “camisa verde” opunham ao internacionalismo comunista-trotskista (que, lembremos, porque será cada vez mais necessário lembrar, os pôs para correr manu militari, numa bela tarde de outubro de 1934 na Praça da Sé, na que foi chamada “a revoada das galinhas verdes”, a melhor tradição da esquerda brasileira).  Mas o “fenômeno Marina” não é uma decorrência tardia da prédica doutrinária de Plínio Salgado, daquilo que J. Chasin chamou de “forma de regressão do capitalismo hiper-tardío”. A sua (de Marina) não passa de uma forma hiper-tardía e barata de oportunismo do tardo-capitalismo dos BRICs. Sua ascensão eleitoral só é surpreendente para quem se deu ao trabalho de ignorar os 20 milhões de votos (18% do eleitorado) que obteve nas eleições presidenciais de 2010, usando, como hoje, uma sigla eleitoral emprestada.
Seu próprio “partido” foi barrado pelo TSE do PT pelo mesmo motivo que, se usado universalmente, barraria um enorme percentual dos partidos políticos brasileiros, em especial os “nanicos de direita” (e até algum “de esquerda”): a falsificação de fichas de filiação. Na Folha de S. Paulo, há coisa de um ano, um escritório de advocacia brasiliense deu inclusive a conhecer suas tarifas para legalizar qualquer sigla político-eleitoral que lhe fosse posta em cima da mesa, acompanhada dos R$ 400-500 mil que abririam, para o grupo empreendedor que se candidatasse, o “fundo partidário” e o rendoso (e crescente) negócio do aluguel da sigla (para ter uma ideia de seu tamanho, baste saber que os gastos declarados com campanhas eleitorais quintuplicaram desde 1994, crescendo de R$ 352,6 milhões em 2010, para... R$ 916 milhões em 2014: vivemos, sem dúvida, num regime democrático, onde o gasto mínimo para se eleger um deputado supera um milhão de reais).
A “rede” de Marina não é o embrião de um partido fascista, ou de um NSDAP (Hitler) “verde” na Terra da Santa Cruz. Não tem ideologia nenhuma, e colhe seus temas segundo o aconselha a trajetória errático-oportunista de seu reduzido núcleo central. Se alguma analogia histórica fosse possível, seria a de uma versão degradada da “Sociedade de 10 de dezembro” de Luis Bonaparte (Napoleão III), também um aglomerado heteróclito oportunista com uma vaga origem de esquerda, que, nas condições de crise e vazio de poder decorrentes da crise de 1848, conseguiu governar França durante 22 anos (e convém lembrar que sua história terminou com a Comuna de Paris), as duas décadas concedidas pela história aos ditadores, o que não impediu Marx de caracteriza-lo de farsa. A “rede” (com minúscula) é a farsa de uma farsa, uma farsa ao quadrado.
Seu “programa” consiste em prometer a manutenção das “conquistas” precedentes (a estabilidade monetária tucana e os programas sociais petistas) com alguma atenção ao meio ambiente e eliminando a endêmica corrupção do Estado brasileiro, mas, deliberadamente, sem a menor proposta política para realizar esses objetivos, em condições em que o Brasil enfrenta a perspectiva de uma bancarrota financeira, de uma crise fiscal, de uma crise (apagão) energética e até hídrica, de uma inflação crescente acompanhada de taxas de juros estratosféricas, e de uma degradação sem par (isto é, pior do que a atual) do meio ambiente e da vida urbana, que foram o detonador das grandes mobilizações de junho-julho de 2013.
Sua única “proposta concreta” é a de um governo “técnico”, isto é, um “governo com as melhores cabeças do país”, qualquer que seja sua origem político-partidária ou não partidária, o que é: A) Uma manifestação de indigência intelectual e até mental; B) Um convite velado e multilateral à corrupção, pois não propõe porcaria nenhuma para eliminar sua base institucional (todas as benesses e licenças financeiras concedidas ao alto escalão executivo, legislativo e judiciário), mas apenas substituir a vigente (enorme) camada de administradores federais petistas por outra, abnegada, não já a um partido, mas a uma pessoa; C) Uma afirmação, decorrente da que precede, da tendência para um poder presidencialista – bonapartista, também endêmica no Brasil (o país dos decretos-lei e das “Medidas Provisórias”) o que, no caso presente, significa um governo de “mão firme (dura)”, com uso de todos os instrumentos do Estado (inclusive, e principalmente, os herdados da ditadura militar) contra as lutas de classe (dos operários, dos camponeses, da juventude), contra as lutas sociais em geral, e contra todas as causas progressistas em todos os âmbitos.
Que semelhante engendro (um não partido + uma não proposta) encabece as sondagens eleitorais é um índice certo e definitivo da falência do sistema político brasileiro e de seus partidos, isto é, da crise terminal da chamada “transição política”, a transição intransitiva do regime militar para uma pseudo democracia política. A tendência bonapartista seria também encampada pelo PT se este, en desespoir de cause eleitoral, lançar a cartada de propor e promover Lula como chefe da Casa Civil (transformado numa espécie de primeiro ministro), como garante do poder e governo de fato, transformando Dilma numa rainha de Inglaterra com data de validade, uma “aventura” híbrida de presidencialismo parlamentarista (ou parlamentarismo presidencialista) perante a qual qualquer governo Marina pareceria uma expressão da sensatez política.
Quais são as razões do sucesso eleitoral de Marina (sucesso inquestionável, mesmo que o “voto medo”, ora proposto pelo PT em substituição ao “voto útil”, acabe levando a melhor em outubro ou novembro)? As cabeças dos analistas da mídia brasileira foram chamadas a interessar-se neste mercado aberto pelo novo arcano político do país, e conseguiram, façanha difícil, bater os recordes precedentes de vulgaridade política e intelectual. Vejamos como.
Marina teria ido às alturas nas sondagens eleitorais empurrada pelo efeito político-religioso da morte de Eduardo Campos (por que não consegue o mesmo Dilma que, além de presente no velório, também esteve na inauguração do Templo de Salomão da empresa evangélica de Edir Macedo, e conta com o voto católico?); Dilma estaria sendo prejudicada pelos escândalos de corrupção (que se tornaram tão banais que já nem são notícia “quente”: as ondas ainda poderosas do mensalão não impediram a reeleição de Lula em 2006, nem a revelação de que família e amantes de Lula estavam todos com a boca na botija impediu a eleição de Dilma, o “poste” de Lula, em 2010); o “eleitorado” (conceito um tanto heterogêneo e impreciso) está cansado da polarização, ou bipartidarismo, PT-PSDB, como se isso fosse o equivalente da repetição recorrente da mesma novela das oito, afinal a eleição se reduziu ao horário eleitoral gratuito (mas essa polarização era fictícia: a vitória eleitoral do PT não correu perigo nas três últimas eleições presidenciais, mesmo quando o PSDB chegou ao segundo turno; o suposto “eleitorado tucano” era, pelo menos em sua metade, um eleitorado anti-PT; assim como, nas duas eleições vencidas por FHC no esteio do Plano Real, o PT não ameaçou sua vitória); e, para não esquecer os inevitáveis e simpáticos conspiracionistas de plantão, a “imagem” eleitoral de Marina estaria sendo construída desde há muito tempo (provavelmente desde antes de 2002) pelas “forças obscuras” do multipresente e impessoal “império” sem nacionalidade, sede ou sexo (não do imperialismo americano, europeu ou japonês, com os que se pode fazer vantajosos e rendosos negócios), conceito que é o último álibi dos oportunistas e mais recente carniça para idiotas, principalmente do tipo intelectual.    
O espetacular e meteórico crescimento eleitoral de Marina Silva se deu, segundo revelam as sondagens e a simples intuição política, não devido a um misterioso carisma pessoal, mas comendo votos tucanos, indecisos, abstencionistas e até petistas, sem falar nos votos religiosos (o Pastor Everaldo, do PSC, que chegou a ser creditado de 4% das intenções de voto, parece ter selado agora um destino de figurante eleitoral), ou seja, angariando votos em todos os setores (não de modo uniforme, claro), consolidando-se como alternativa eleitoral diante da queda da fórmula Dilma-PT-PMDB, evidenciada logo depois de junho-julho 2013, fragilmente recuperada depois, e novamente posta em questão pela evidenciação da crise da economia capitalista brasileira em 2014.  
A catástrofe da seleção canarinha na Copa ilustrou a situação de um país no limiar da débâcle. As previsões oficiais de crescimento econômico (1% do PIB) não ocultaram as previsões mais realistas do “mercado”, que anteciparam um retrocesso econômico (maior ainda quando considerado o PIB per capita).  As exportações de manufaturados (base principal da produção industrial) estão em 2014 US$ 6 bilhões abaixo de 2008, um retrocesso absoluto de 17%. As demissões estão na agenda de todos os setores econômicos. Os indicadores industriais de produção, faturamento, uso da capacidade instalada, etc., embicaram para baixo nos últimos seis meses.
A ausência de investimentos (estatais ou privados) levou à crise os dois setores básicos da sobrevivência social: água e energia. A população de várias capitais já se encontra consumindo água contaminada, extraída do fundo das reservas hídricas, e se perfila o racionamento do consumo, já decretado em algumas regiões. As distribuidoras de energia (setor privatizado pelo “neoliberalismo” tucano, o PT se limitou a “regula-lo”, com os resultados que agora se constatam) estão em situação falimentar. Para evitar cortes imediatos de fornecimento, o governo teve que entrar com empréstimos diretos (70% do auxílio às empresas geradoras e distribuidoras foi realizado através de bancos públicos) e também como fiador de outros empréstimos em bancos privados. Nacionalizar todo o setor (produtores e distribuidores), que está saqueando a população e afundando o país, nem pensar.
Em um contexto de inflação crescente e de carestia, para “salvar a economia” até as eleições gerais, o governo petista apelou novamente para a receita da catástrofe: afrouxamento das regras financeiras (encaixes e depósitos compulsórios dos bancos) para incrementar ainda mais o crédito ao consumo, em condições de virtual default do consumo privado (63% das famílias estão endividadas, uma percentagem que é bem maior nas grandes cidades, com um 20%, ou 33% dos endividados, em situação de atraso ou inadimplência). Em agosto, o BC reduziu em R$ 15 bilhões o capital mínimo exigido para as operações bancárias, o que se somou ao corte de R$ 10 bilhões realizado em julho: com isso, os bancos podem adicionar ao sistema de empréstimos (de dívidas) a bela soma de R$ 225 bilhões, nove vezes o valor subtraído do capital mínimo exigido pelas normas de “regulação” financeira, uma verdadeira “fuga (cega) para a frente”.
Nos quatro anos de Dilma, o crescimento acumulado do PIB caiu de 19,6% para 7,4% (uma redução de 60%); a taxa de inflação acumulada aumentou de 22% para 27% (aumento de 20%); o principal, o déficit acumulado em conta corrente pulou mais do que a candidatura de Marina, de 98,2 bilhões de dólares para 268 bilhões da mesma moeda, um aumento de 170%. A política capitalista está levando o Brasil para o buraco mais fundo de sua história econômica.
A oposição neoliberal (PSDB) não capitalizou a crise porque, em primeiro lugar, nos dois estados principais em que governa (Minas e São Paulo) se encontra à cabeça do desastre hidroenergético. Em segundo lugar, porque seu programa (privatizar absolutamente todo, explodir o Mercosul e procurar acordos de livre comércio - entrega total - com a UE e os EUA, repressão total e sem limites contra os trabalhadores e a juventude) não terminou de seduzir à maioria do empresariado, que fez mais doações à campanha pela reeleição de Dilma Rousseff (R$ 300 milhões) do que à do governador mineiro Aécio Neves. Sem falar que, em matéria de repressão (militarização e prisões, “lei antiterrorista” em andamento parlamentar) o governo petista superou todos seus predecessores, com a vantagem adicional de que o partido controla a principal central sindical (a CUT). 
Depois de um período em que o repúdio popular à degradação econômica e social se canalizou principalmente através do crescimento das abstenções, os problemas políticos principais para o governo petista vieram de sua própria coalizão governamental: à deserção do PSB, à qual se somou a antiga cisão da eco-evangelista Marina Silva, agregou-se o fato de que o grande aliado do PT, o PMDB (dono da maior bancada nas câmaras e do maior número de municípios) está enfrentado ao PT, nos níveis abaixo da candidatura presidencial, em estados em que vive 75% da população do país. Ou seja, que apoiou a reeleição de Dilma, poupando-se do desgaste de uma disputa presidencial, para depois lhe por uma corda ao redor do pescoço.
A “surpresa Marina” não foi, por isso, raio em céu de brigadeiro, mas o arremate desse processo de crise e degringolada que, em caso de concretizar-se como derrota eleitoral, pode levar o PT à implosão, e ao realinhamento de toda a esquerda (e toda a política) brasileira em função disso. E Marina não é uma “traição” ou um desvio da linha petista: suas imprecações contra a “velha esquerda”, muito elogiadas pela grande imprensa, no debate eleitoral da Band, dirigidas formalmente contra a candidata do PSOL, eram na verdade (e a imprensa não se enganou) dirigidas por elevação contra Dilma e o PT. A “normalização” do PT contra as “tendências de esquerda”, iniciada no V Encontro Nacional (de 1987), e continuada do I Congresso Nacional (de 1991), preparou, como se sabe, o PT para ser “partido de governo”.
Os executores da caça às bruxas intrapartidária da década de 1990 foram, como aconteceu com os executores dos Processos de Moscou imediatamente depois destes, fritados e descabeçados durante o primeiro governo Lula, no episódio do “mensalão”. E, como aconteceu na ex URSS sob Ieltsin, o último tiro contra a “esquerda” foi dado por Marina (que a tudo aquilo assistiu comprazente e interessada em aprender, e aprendeu) contra o próprio PT, partido do qual foi dirigente, favorita de Lula, vereadora, deputada, senadora e ministro do Estado, para agora candidatar-se, seriamente, ao posto de coveiro. A escola do “partido socialista de novo tipo” baseado no “modelo petista” funcionou perfeitamente: Marina Silva foi sua aluna mais avantajada.
Qual é o papel e as perspectivas da esquerda no meio disso tudo? Responder isto exige responder uma pergunta prévia: o que é a esquerda, hoje, no Brasil?
Do ponto de vista das siglas partidárias, responder é fácil: o PSOL, o PSTU, o PCB e as correntes “de esquerda” do PT (das quais a única que não faz simples figuração é a “Articulação de Esquerda”, com publicações regulares e disputa de espaços políticos, no partido, nas eleições internas e gerais, nos movimentos de massa).[1] A história política do Brasil passou, nas últimas duas décadas, pelo PT. A “esquerda do PT”, porém, se limita principalmente a reivindicar “mais radicalismo” de Dilma-Lula, apoiando suas “medidas progressistas” sem criticar seu rumo burguês pró-capital financeiro, e sem se postular como alternativa política real às tendências e, sobretudo, às figuras dirigentes (não basta Valter Pomar participar regularmente do PED como opositor, obter 7% dos votos e esperar pelo próximo PED, para qualificar isso de luta política consequente, nem falar de luta de programa).
Afora essas siglas e correntes políticas, existe uma miríade de grupelhos sem política própria, cuja enumeração seria inútil, pois em geral se comportam como satélites parasitas dos partidos mencionados (em especial do PSTU) e se encontram em permanente processo mitocondrial, o que torna qualquer enumeração provisória e irrelevante.
A esquerda do país não se limita a essas siglas, pois o grosso de sua militância se encontra enquadrado em uma série, um verdadeiro arquipélago, de “movimentos sociais”, como o MTST, o MPL ou, o mais antigo, o MST (embora este se encontre, desde 2003, com um pé dentro e um pé fora do governo, chegando a jogar um papel de bombeiro “de esquerda” nas mobilizações de junho-julho 2013), para não falar dos milhares de militantes sem filiação partidária nem “movimentista” que se encontram nas fileiras do sindicalismo classista. Estes movimentos são, obviamente, imprescindíveis nos setores sociais em que atuam.
A autolimitação política que se impõem, em função da preocupação de não “descolar” de modo vanguardista de sua base social, se transforma em obstáculo quando transformam essa necessidade em virtude, através de um discurso contra a “esquerda organizada”. Esta oscilação permanente entre Scylla e Caribdis não pode ser quebrada “de dentro”, mas pela intervenção da polêmica e das propostas da esquerda política. Na ausência desta, o “movimentismo” conclui, inevitavelmente, no culto da ação pela ação, sem programa nem organização, que o black bloc representa em estado puro, cumprindo um papel de desorganização, eventualmente até de provocação, nos movimentos de luta.
Na esquerda propriamente política, o PCB cumpre, até o presente, um papel secundário e complementar. Sua importância deriva menos de seu registro eleitoral do que de sua condição de pretenso continuador do partido fundado em 1922 (no que concorre, em grande desvantagem, com o PCdoB, uma máquina empresarial-eleitoral aliada a qualquer governo que lhe abra um espaço, inclusive de direita). O PCB pretende superar programaticamente o velho “partidão” pela caracterização de “capitalista”, e não mais de “feudal”, da formação econômico-social brasileira (até que enfim, né?), não derivando isto da caracterização da economia mundial e seu desenvolvimento desigual, e sem superar as limitações programáticas do velho stalinismo, pois propõe, para a “transição para o socialismo”, um “poder popular” tão indefinido quanto a própria noção de “povo”, em substituição da noção “ultrapassada” de ditadura do proletariado, ou seja, do regime político de um governo operário e camponês. Esta superação do stalinismo é puramente intelectual, não política; o próprio PCB é, sobretudo, um partido de intelectuais.
O PSOL, por sua vez, não é um partido, mas uma federação de tendências originadas em outros partidos (PT e PSTU) que chegam a protagonizar enfrentamentos internos acirrados até de natureza física (em Amapá, uma convenção do PSOL chegou a ter a participação da polícia para proteger um setor interno), sem que o sangue nunca chegue ao rio. O enfrentamento “direita vs. esquerda”, no PSOL, não corresponde a tendências que foram se delimitando a partir de uma base programática ou histórica comum, mas ao confronto de tendências que construíram um partido-frente a partir de programas e organizações diferenciadas, até diametralmente opostas, ou seja, é um confronto de aparelhos (ou de aparelhinhos).
Como acontece nestes casos de partido-frente (há outros exemplos no mundo, como o NPA francês ou Die Linke, na Alemanha) o setor oportunista/aparelhista tende a levar a melhor, levando o partido a situações que beiram o ridículo, como o afundamento “interno” da candidatura presidencial ultraoportunista do senador Randolfe Rodrigues, literalmente boicotada pelos setores militantes do partido, e que precisou ser substituída pela candidatura de Luciana Genro. Em SP, estado “avançado” da federação, a beira do ridículo psoliano teve ares “intelectuais” (afinal, São Paulo sempre honra o fato de ser o berço do Cebrap, de FHC e da “escola paulista de sociologia”), pois até as tendências de esquerda do partido celebraram a pré-candidatura ao governo estadual de um filósofo uspiano, filiado na véspera e declarado adversário da esquerda classista e organizada, que ele declara velharias ultrapassadas (pelas suas próprias elucubrações sem pé nem cabeça, veiculadas na Folha de S. Paulo, esse importante órgão da esquerda “moderna” brasileira). Felizmente, a vergonha e o ridículo foram evitados, pois a inconsistente candidatura filosófica, como a de Randolfe, também afundou, e foi substituída pela de Gilberto Maringoni, que possui uma trajetória militante, e que acabou convergindo com o PSTU na “frente de esquerda” estadual.
O PSTU é, das formações políticas citadas, a única que possui consistência partidária e uma relação ativa com o movimento operário organizado e sua vanguarda, em especial através da Conlutas, e uma presença militante em importantes centros do operariado industrial. Seu principal problema político (sem entrar na sua trajetória pregressa, nem nas suas referências ideológico-programáticas) não é sua fraqueza eleitoral (em relação ao PT ou ao PSOL), mas sua tendência para a autoproclamação sectária, uma tendência também internacional (embora muito minoritária, nesse plano), consistente, não na sua defesa do partido (isto é, da forma-partido), mas na afirmação de que a questão do partido está resolvida, no Brasil, pela própria existência do PSTU.
Isso o leva a colocar a questão da unidade classista da esquerda sob a forma limitada e estreita da frente de esquerda (e não do partido), uma forma que a atual (e as precedentes) gerações operárias e lutadoras brasileiras já superaram, ou melhor, experimentaram sem superar politicamente, através da experiência do PT (e, de modo muito mais limitado, pela experiência do PSOL), ou seja, de diversas formas-partido (o partido oportunista, caudilhista e sem programa - o PT - e o partido-frente de tendências - o PSOL), um fato que constitui a principal peculiaridade brasileira no contexto latino-americano.
Nessas condições, uma nova etapa histórica se abre no Brasil, devido à crise econômica, à crise política galopante (da qual Marina Silva é uma expressão, não uma protagonista independente) e à nova etapa da luta de classes: as greves, que entre 2003 e 2005 oscilaram em torno do número de 300 anuais (compreendendo entre 15 e 20 mil horas paradas) pularam em 2012 para 873 anuais, com quase 87 mil horas paradas (segundo medições do Dieese). Em São Paulo, a recente greve de quase 110 dias das universidades estaduais paulistas, com sistemáticas assembleias e mobilizações de rua, foi um símbolo da nova etapa política que se abriu.
Para a esquerda brasileira, e para toda a esquerda mundial (pois a verdadeira esquerda classista é, antes de tudo mais, internacionalista) o novo patamar em que se põe a questão do partido revolucionário no Brasil constitui um desafio histórico decisivo. Os elementos políticos e organizativos de sua solução já foram integralmente postos pela experiência histórica das últimas décadas no Brasil, na América Latina, no mundo todo. Cabe agora tirar as conclusões políticas, através do seu  debate aberto.



[1] Existe outra sigla, que não merece ter seu nome citado, que algum desavisado considera ainda como “de esquerda”, o que não procede em absoluto, pois além de ser uma seita autorreferente, autoproclamada e ideologicamente troglodita (detalhes secundários), é perfeitamente reacionária, defendendo, entre outras porcarias, o imposto sindical, a peça mestra da arquitetura corporativa – atrelada do sindicalismo brasileiro, criada pelo varguismo e aperfeiçoada pela ditadura militar, ainda não superada, sequer legalmente. Trata-se (a sigla) de uma linha de auxílio do pior da política e do sindicalismo do país, notabilizando-se apenas pelas suas sistemáticas provocações e agressões físicas contra a esquerda e o ativismo classista. Sua única relevância é possuir um registro eleitoral, o que a torna potencial veículo de uma aventura provocadora reacionária de maior voo (como aquela que alguma vez serviu de veículo a Fernando Collor). Sua exclusão clara e explícita de todo e qualquer fórum da esquerda ainda se faz esperar.