David Lucius
Após o governo ter
realizado uma redução de impostos que beneficiou as montadoras de automóveis
com quase R$ 7 bilhões em abatimentos, a GM decidiu, no final do ano passado,
demitir aproximadamente mil funcionários da fábrica de São José dos Campos. As
demissões foram realizadas por telegrama, uma forma baixa, vil e sorrateira (em
plena época de festas de fim de ano) de demitir os trabalhadores e tentar
impedir sua organização e sua luta.
Segundo
um dos executivos da empresa, Luis Moan, essas demissões já tinham sido
acordadas entre o sindicato, a GM, e o Ministério do Trabalho. O acordo havia
sido feito em janeiro do ano passado e previa a demissão dos trabalhadores da
fábrica de São José. Segundo Moan: “Ao todo foram tentados quatro acordos, que
não vingaram por causa do sindicato”. A colocação do executivo da GM vai no
sentido de colocar os trabalhadores em choque com o sindicato em um momento em
que a organização para a luta é essencial no movimento operário, não só
regionalmente, mas principalmente de forma ampla e nacional, como método para
se contrapor a tentativa das grandes empresas de jogar a crise capitalista nas
costas dos trabalhadores.
O
dirigente nacional do PSTU, José Maria de Almeida, no inicio do ano passado
comentava assim o acordo fechado naquele ano pelo Sindicato dos Metalúrgicos de
São José: “Após uma dura batalha com a empresa, conseguiu-se suspender
temporariamente as demissões” e em seguida “Foi o acordo possível, nas
condições de relações de forças existentes. Não é o acordo que queríamos fazer.
A extensão do lay off por mais dois meses garante que não haja demissões agora,
mas não impede que a montadora demita estes companheiros dentro de 60 dias” e
mais adiante “Longe de ser um bom acordo, foi o possível diante dessa dura
situação e não teria sido possível caso não houvesse mobilização”. As
contradições firmadas nesse acordo, explodiram agora, diante dos efeitos da
crise no setor automobilístico nacional e da decisão do governo de voltar a
elevar o IPI para todo o setor.
As
tentativas da GM de fechar a linha de montagem de automóveis (MVA) em São José
dos Campos vem desde 2008. No ano passado, logo após o acordo, a GM já havia
demitido cerca de 600 trabalhadores. Em julho passado, a presidente Dilma havia
afirmado que a redução do IPI estava condicionada a manutenção dos empregos.
Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a GM fechou
1217 postos de trabalho entre janeiro de 2012 e dezembro de 2013, mostrando que
o acordo de manutenção dos empregos para a para a redução do IPI foi
praticamente ignorado pela GM. Com o fim da redução do IPI anunciado para o
inicio de 2014, a industria automobilística aprofundou essa política e iniciou
uma pratica de demissões em massa como meio de reduzir custos, pressionar diretamente
os trabalhadores e os sindicatos em seus futuros acordos, aumentar a sua
lucratividade, e por tabela pressionar o governo a reduzir novamente os
impostos e a aumentar os seus subsídios (gerando, obviamente, mais lucros para
as empresas).
Diante
das demissões em marcha o sindicato luta por reverter as demissões: o caminho
jurídico de entrar com uma audiência de conciliação no TRT não foi o caminho
para essa reversão, a audiência de conciliação no TRT de Campinas fechou um
acordo que beneficia os trabalhadores demitidos com os mesmos direitos dos
trabalhadores que aderiram ao Programa de Demissão Voluntária (PDV), e mais o
recebimento de 1 a 5 salários, conforme o tempo de salário de cada trabalhador.
Mas as demissões continuam vigentes, demonstrando que o único caminho para
barrar as demissões é a mobilização e a luta nacional dos trabalhadores.
As
demissões na GM são o início de um processo de demissões em massa que se inicia
com o objetivo de descarregar a crise sobre os assalariados e a classe
operária. Os trabalhadores, diante dessa situação, devem discutir a fundo uma
política para enfrentar a tentativa do governo de Dilma Rousseff e seus
acólitos de jogar os efeitos da crise sobre suas costas, a organização de um
congresso de base, com ampla participação dos trabalhadores, para discutir uma
política classista frente às demissões em massa e para organizar um plano de
lutas para enfrentá-las, seria um passo importante na organização dos setores mais
combativos do movimento operário.