terça-feira, 29 de abril de 2014

TRIBUNA CLASSISTA - Nº 17 – MAIO DE 2014


Uma publicação de simpatizantes da CRQI (Coordenação pela Refundação da IV Internacional) no Brasil

POR UM 1º DE MAIO DE CLASSE E DE LUTA




 BRASIL ÀS VÉSPERAS DA COPA


A recente sublevação da Polícia Militar da Bahia acendeu os alarmes do governo federal, que enviou 2500 membros do exército para socorrer o governador petista, em um quadro de saques. Ainda que o conflito fosse dissipado rapidamente, o temor é que as greves policiais se repitam. “Estamos com a mesma proposta de Brasília e dos outros estados: parar durante a Copa do Mundo”, assegurou o representante dos policiais do Rio. Frente a esta eventualidade, Dilma Rousseff treina efetivos do Exército e da Marinha para substituí-los.
A militarização do campeonato mundial começou pelas favelas. Um brutal operativo ocupou o complexo da Maré, no Rio, até finalizar o torneio. O governo impulsionou também a lei antiterrorista para penalizar possíveis manifestações. Além disso, os EUA estão cooperando com as forças repressivas, e o governo comprou um drone do estado sionista de Israel para vigiar os estádios.
O mundial está sendo também uma fonte de negociatas. O orçamento de construção e reforma de estádios supera o que se gastou nos dois mundiais anteriores. A desorganização e a improvisação é total: várias obras se encontram inconclusas (o estádio onde se deveria jogar a primeira partida foi entregue de maneira “simbólica”), o mesmo que alguns dos aeroportos privatizados. Muitos operários morreram na construção, pela aceleração dos ritmos para concluir as obras. Estão se desenvolvendo vários movimentos de protesto. A última marcha em São Paulo, com a participação da esquerda e movimentos como o Fórum Popular da Saúde e o “Não vai ter Copa”, que critica o excesso nos gastos, terminou com 50 detidos depois da repressão. Uma pesquisa do Instituto Datafolha assegura que o apoio ao mundial caiu de 79% em novembro para 52% nas últimas semanas. E 75% dos brasileiros não aprovam os investimentos realizados.
A preocupação adicional do governo é que os sindicatos explorem a visibilidade do campeonato mundial para reforçar a luta salarial. Medido na segunda semana de março, o aumento anual dos preços (comparado com o mesmo período de 2013) alcançou 6,5%, que é exatamente o teto definido pela equipe econômica brasileira para 2014. As greves aumentaram nestes anos no Brasil. Mesmo que a Força Sindical tenha anunciado protestos para a semana anterior ao início do campeonato, as direções sindicais (ligadas ao PT) não têm intenção de fazer manifestações. A próxima jornada de luta, para o dia 30 de agosto (com palavras de ordem como elevar o PIB da educação a 10% e igual salário para igual trabalho), não guarda relação com os ritmos da crise.
A queda livre da popularidade de Dilma Rousseff é produto das mobilizações massivas do ano passado, desencadeadas pelos aumentos no transporte e a posterior repressão. O governo arquivou todas as promessas realizadas nesse momento (Assembleia Constituinte, reforma política, pré-sal para educação, etc.). A decomposição do sistema político, que funciona sobre a base a subornos, joga lenha na fogueira da insatisfação popular. Ainda nem se dissipou o escândalo do mensalão e aparece outro que poderia apequená-lo. A denúncia da compra superfaturada, durante o primeiro governo Lula, de uma refinaria por parte da Petrobrás golpeia à própria Dilma Rousseff, que integrava no momento dos fatos o Conselho de Administração da companhia. José Sergio Gabrielli, homem do PT e gerente da Petrobrás no momento da compra, assumiu sua responsabilidade, mas envolveu também à presidenta: o relatório entregue ao Conselho de Administração da estatal, segundo Gabrielli, foi "omisso" ao esconder duas cláusulas que constavam do contrato, mas Dilma, que era ministra da Casa Civil e presidia o conselho, "não pode fugir da responsabilidade dela". A compra da refinaria de Pasadena rachou ao partido do governo, e acrescenta outro elemento de conflito na relação do PT com seu aliado PMDB. Dilma Rousseff não tem assegurado um triunfo no primeiro turno. Neste cenário, não são poucos os que impulsionam um regresso de Lula.
A oposição burguesa, tão envolvida como o PT em escândalos de corrupção, não consegue canalizar a queda de Dilma Rousseff nas sondagens para as eleições de outubro. Talvez por isso alente o novo mensalão, como uma maneira alternativa de derrubar o governo petista. O PSDB não chega a 16% nas pesquisas. A evangelista Marina Silva, que de forma individual aparece bem posicionada, cai quando se apresenta como vice-presidenta de Eduardo Campos, do PSB. As forças da esquerda (PSTU, PCB, PSOL) colhem prognósticos eleitorais marginais de 1%. Nem sequer um bom resultado da seleção brasileira na Copa do Mundo permitirá ao governo do PT escapar da montanha de problemas que estarão se acumulando ainda mais depois de junho. O primeiro a explodir será provavelmente o endividamento das cidades com o Tesouro Nacional derivado dos gastos realizados para a Copa: em dois anos, as dívidas das doze cidades-sede brasileiras da Copa cresceram, nada menos, em 51%...



                                                                           


 
A GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS

Rodrigo Belinaso Guimarães


A juventude brasileira protagonizou em 2013 jornadas de luta que expressaram a indignação com a falta de qualidade da educação pública, o descaso com a saúde, os problemas de mobilidade urbana, a insegurança que muitas vezes é protagonizada pelo próprio Estado e, sintetizando, um forte questionamento sobre o destino da verba pública. A população se mostrou sensibilizada pelo escandaloso gasto governamental em estádios de futebol elitizados. Hoje, o capítulo mais recente de uma série infinita de escândalos com o dinheiro público é a compra da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos. A Petrobrás gastou com essa operação mais de US$ 1,3 bilhão em 2008, sendo que a mesma tinha sida adquirida pela empresa belga Astra Oil em 2005 por apenas US$ 42 milhões. Enquanto PT e PSDB duelam no congresso para saber quem são os mais corruptos, os trabalhadores sentem o descaso com seus salários e direitos.
Tais fatos explicam a queda acentuada na força do atual governo desde o ano passado. Em recente pesquisa do Ibope/CNI, o percentual da população que considera o governo ótimo ou bom caiu no último mês de 43% para apenas 36% em abril, enquanto o índice de ruim ou péssimo alcançou 27%. Esses índices alimentam-se da completa ausência de resposta do governo frente às mobilizações de junho de 2013. Assim, ao invés de atender as necessidades dos trabalhadores e da juventude, o governo continua garantindo o pagamento integral da dívida pública que só beneficia os bilionários que no Brasil crescem de número a cada edição do anuário da revista Forbes. Do mesmo modo, os debates sobre os 50 anos do golpe militar começam a apontar para os limites do atual sistema democrático, cujo funcionamento excludente, sustentado por leis de exceção e pautado nos interesses dos grupos hegemônicos foi questionado fortemente nas ruas e o será nas próximas eleições. Nas mais recentes pesquisas de intenção de voto para presidente, embora Dilma permaneça na frente, mas com tendências para queda, quase 25% do eleitorado afirma que votará branco ou nulo, ou seja, o governo Dilma vem perdendo apoio popular e as eleições, credibilidade. Nada indica que um novo presidente irá começar um governo forte, aclamado nas urnas, pois os indícios são de que haverá recordes de abstenções, votos brancos e nulos. Quem ainda espera que uma campanha eleitoral financiada por grandes empreiteiras e pelo capital financeiro internacional irá mudar a situação da classe trabalhadora neste país?
Se do ponto de vista político há claros sinais de crise institucional, do ponto de vista econômico os grandes empresários e latifundiários farão de tudo para transferir aos trabalhadores o ônus de sua crise. A balança comercial brasileira teve nos primeiros meses de 2014 seu pior déficit desde o início de sua medição em 1994, um saldo negativo de mais de US$ 6 bilhões. Tal fato pode ser explicado pela crescente desindustrialização da economia brasileira nos últimos anos e pela desvalorização dos produtos primários exportados pelo Brasil.
Da mesma forma, a transferência de renda para a especulação financeira continua em alta, a taxa selic apresenta aumentos consecutivos há um ano e atingiu o patamar atual de 11%. Assim, o pagamento de juros e amortizações da dívida pública alcançou a cifra de mais de R$ 1 trilhão nos últimos cinco anos. Mesmo assim, a agência norte-americana S&P rebaixou sua avaliação sobre a capacidade do Brasil de pagar a dívida pública, isso porque para os grandes financistas o governo deveria transferir ainda mais recursos para o pagamento de juros. Soma-se a tudo isso, a sonegação fiscal que retirou dos cofres públicos R$ 415 bilhões só em 2013, o equivalente a 17 anos de bolsa-família. Na outra ponta, 63% das famílias brasileiras possuem dívidas, sendo que 20% das famílias estão com suas contas em atraso, rolando juros abusivos no cartão de crédito. Dessa forma, o baixo crescimento econômico dos últimos anos, que era sustentado pelo consumo familiar, está encontrando seu limite. Nesse cenário, decai a capacidade governamental de fazer concessões aos trabalhadores, já que a prioridade é manter as taxas de lucro dos financistas, empresários e latifundiários. Em contrapartida, apenas a forte mobilização dos trabalhadores tem garantido algumas conquistas pontuais: as greves vitoriosas dos garis no Rio de Janeiro e dos rodoviários em Porto Alegre, ambas superando o peleguismo de seus sindicatos, o cinismo dos governos e as campanhas difamatórias da grande mídia. Neste início de ano, os servidores públicos federais estão se mobilizando para cobrarem do governo a conta de suas perdas inflacionárias que se acumulam desde 2010. Os servidores do Ministério da Cultura aprovaram indicativo de greve para maio, sendo que muitas de suas reivindicações procuram barrar a precarização em suas condições de trabalho. Os técnicos em educação das universidades ligados à FASUBRA estão em greve desde o dia 17 de março, com forte adesão da categoria. O SINASEFE, que congrega os servidores da educação federal dos Institutos Federais, Colégios Militares e CEFETs, deliberou indicativo de greve para o dia 21/04 em seu último congresso. O ANDES, sindicato dos docentes das universidades, também deliberou a deflagração de movimento paredista.
A maioria dos servidores públicos federais desde 2010 apenas conquistou, pela mobilização, a reposição salarial em parcelas de 5% em três anos: 2013, 2014 e 2015.
O saldo negativo acumulado entre 2010 e 2012 nos salários dos servidores chegou a 17% e se somam às atuais perdas inflacionárias, pois em 2013 a inflação oficial foi de 6,1% e em 2014 os dados apontam para uma aceleração. Cada vez mais o cenário inflacionário caminha no Brasil para se tornar muito parecido com o da Argentina, onde ninguém mais confia nos dados oficiais. Assim, motivos não faltam para aos servidores da educação federal saírem à luta. Alguns fatores que mobilizam os servidores e levam à crescente mobilização são: os prejuízos que o fundo de previdência complementar (FUNPRESP) causa aos novos servidores; a tentativa de estabelecimento de ponto eletrônico e outros mecanismos de regulação de carga horária para técnicos e docentes em institutos e universidades federais; a demora em atender o regime de trabalho de 30 horas; a falta de avanços nos grupos de trabalho estabelecidos na última greve; a privatização dos hospitais universitários; o avanço da tercerização dos serviços; o avanço de programas como o REUNI e o PRONATEC. Em resposta, os reitores dos institutos federais preocupados com o crescimento da insatisfação dos servidores, acenam com uma suposta negociação com o governo para garantir direitos aos técnicos em educação.
Os reitores propuseram a contratação de técnicos substitutos (para garantir a qualificação ou aprofundar a tercerização?) e a extensão dos benefícios financeiros do Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC) concedido aos docentes dos institutos federais também para a carreira dos técnicos em educação. Enquanto os reitores destilam boas intenções, os servidores das instituições federais de educação sofrem no dia a dia as consequências da precarização, com falta de pessoal e de infraestrutura, jornadas de trabalho excessivas e não valorizadas, insegurança, assédio moral, etc. O momento é de mobilizar por mais investimentos na educação, contra ameaças aos direitos dos servidores, e para lutar por novas conquistas dos trabalhadores do setor público ou privado.


AGU COMUNICOU QUE PARTICIPAÇÃO EM GREVE SUSPENDERIA REMUNERAÇÃO


A Advocacia Geral da União encaminhou Memorando Circular para comunicar que, em face da notícia veiculada pela imprensa, de que os servidores vinculados às instituições de ensino federais teriam deliberado por dar início a uma greve por tempo indeterminado, o artigo 7º da Lei 7.783/1989 prevê que a participação em greve suspende o contrato de trabalho e as respectivas relações obrigacionais, dentre as quais se inclui o pagamento por parte do ente empregador. Toda a força do Estado contra os trabalhadores: é nisso que concluiu o “governo dos trabalhadores” do PT.



OS NÚMEROS DO ARROCHO E DA ENTREGA

                                                                     
                                                             
  

O Brasil gastou mais de R$ 1 trilhão nos últimos cinco anos com pagamento de juros da dívida pública. Parte do dinheiro usado para pagar juros vem da arrecadação dos governos federal, estaduais e municipais com impostos e itens extraordinários (receita de privatizações e concessões). Outra parte é obtida por meio da rolagem da dívida – processo em que o governo toma dinheiro emprestado para pagar juros. No ano passado, União, Estados e municípios destinaram R$ 91 bilhões do seu orçamento para a dívida (superávit primário). Como os juros somaram R$ 249 bilhões em 2013, ficaram faltando R$ 158 bilhões para pagar os credores. Este último valor, chamado de déficit nominal, corresponde ao que o governo precisou tomar emprestado para honrar seus compromissos. A maior parte dos juros tem sido paga por meio da rolagem, ou seja, por meio da criação de novas dívidas. De 2009 a 2013, os juros somaram R$ 1,1 trilhão, mas apenas R$ 491 bilhões foram pagos com dinheiro arrecadado com impostos e outras fontes. Os demais R$ 574 bilhões vieram de novas dívidas. Se o setor público aumenta a dependência de rolagem da dívida – e isso tem ocorrido nos últimos anos –, o “risco” de emprestar dinheiro ao governo também sobe. Consequentemente, a taxa de juros que os investidores cobram tende a aumentar também, criando um ciclo vicioso. A tendência é de que, quanto menos dinheiro de impostos o governo gastar hoje com dívida, mais terá que gastar no futuro. A dívida líquida do governo tem diminuído como proporção do PIB, o que é verdade. Mas o problema, neste momento, não é a dívida líquida, e sim a bruta. O Brasil é, assim, refém dos tubarões financeiros. O arrocho salarial dos servidores públicos deriva diretamente disso.







Orçamento Geral da União em 2014 (R$ 2,361 trilhões)







AS “MARAVILHAS” DOS FUNDOS DE PENSÃO


Mais de 70 fundos de pensão de empresas estatais e de prefeituras de todo o país correm o risco de perder a maior parte dos R$ 2,7 bilhões que investiram na compra de papéis lastreados por empréstimos originados no Banco BVA, em processo de liquidação desde agosto.
O investimento dessas entidades nesse tipo de papel é o dobro do que era conhecido até agora, segundo levantamentos feitos depois que a instituição passou à tutela do Banco Central.
Entre os bancos pequenos e médios, o BVA foi um dos que mais atraiu os fundos de pensão. As entidades o ajudaram a ter um crescimento relâmpago. Em seis anos, seus ativos aumentaram 17 vezes: de R$ 430 milhões, em junho de 2006, para R$ 8 bilhões, em junho de 2012.


PLANOS DE SAÚDE SEM FISCALIZAÇÃO


A Associação dos Servidores e demais Trabalhadores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (Assetans) denunciou a Medida Provisória 627/2013, de relatoria do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB). A MP prevê a drástica redução no valor das multas a operadoras de planos de saúde que se neguem a realizar procedimentos. Além da diminuição do valor, a medida reduz também o número de procedimentos pelos quais elas podem ser multadas. De um máximo de 50, para somente dois. Na prática, a MP acaba com o poder de fiscalização da ANS. A MP foi aprovada na Câmara dos Deputados e foi enviada para o Senado. Depois de atacar a saúde pública, o governo ataca também a “regulação” da saúde privada...


FAZER “MAIS COM MENOS” ELEVA ADOECIMENTO

José Menezes Gomes


O governo se reuniu com o ANDES SN para discutir a carreira docente. Os professores das IFES estiveram paralisados visando dar inicio à mobilização no sentido de pressionar o governo no atendimento da nossa pauta. Sabemos que somente com um movimento forte poderemos atingir este objetivo. Nesta direção, visamos ampliar a mobilização para que no final de abril possamos dar inicio ao movimento de greve nacional.Temos como objetivo um projeto de carreira docente que sustenta uma universidade baseada no tripé ensino, pesquisa e extensão.
O governo federal tem acelerado o processo de privatização dos serviços públicos em especial a criação da EBSERH. Além disso, continua a privatização de aeroportos, rodovias, portos, ferrovias. Ao mesmo tempo em que se expande este processo, observamos no orçamento de 2014 a destinação de um trilhão de reais para o pagamento da dívida pública. Além disso, este governo faz mais uma vez o corte de 44 bilhões de reais nos chamados gastos sociais. Estes consecutivos cortes dos gastos sociais são acompanhados por liberação do Tesouro Nacional de empréstimos ao BNDES e elevam a precarização das condições de trabalhos bem como o arrocho salarial dos servidores públicos.
Os recursos que deveriam ter sido investidos no funcionamento dos serviços públicos acabam sendo repassados aos grandes capitalistas a 5% ao ano. Com isso, parte crescente do dinheiro público é transferida via pagamento do serviço da divida para garantir grandes lucros aos banqueiros e o rendimento dos fundos de pensão. A outra parte destes recursos serve para subsidiar os maiores capitalistas do país, em particular, os gastos com a Copa de 2014, na construção de estádios.
O resultado disto é o constante ataque aos servidores públicos, especialmente com a privatização da previdência dos SPFs, da crescente terceirização, do aumento e intensificação da jornada de trabalho, do arrocho salarial que resultam na precarização das condições de trabalho, que se desdobra no aumento do adoecimento docente e num maior endividamento destes servidores. Neste quadro, o governo federal pretende fazer mais com menos recursos, tal como ocorreu com a introdução do REUNI, onde a expansão está ocorrendo por conta e risco dos servidores. Recente entrevista divulgada pela Associação dos Docentes da Universidade Federal do Pará (Adufpa-SSind) com o professor e pesquisador Jadir Campos aponta que a o produtivismo e a competividade impostos pelos órgãos oficiais de fomento e pelas políticas mercantilistas do Ministério da Educação (MEC) são responsáveis por prejuízos causados à saúde mental e física dos docentes.


IFCE: COMO A REITORIA QUEBROU A GREVE

Epitácio Macario


A 11 de abril ocorreu a assembleia geral do Instituto Federal no Ceara (IFCE), na sua sede em Fortaleza; eles são dirigidos pelo Sinasefe e contam com uma combativa seção sindical local do Sindifce. Sob aplausos, vaias e ameaças de estudantes que se aglomeravam na arquibancada do ginásio, a assembleia de servidores técnicos e docentes foi muito nervosa. Todo o staff da reitoria, direção intermediária e de base foi mobilizado para votar contra a greve. O debate foi muito tenso, ocorrendo várias interrupções das falas dos oradores pelo barulho dos alunos que gritavam “Uh, queremos aula!”; houve também embates raivosos entre servidores e professores que se posicionavam diferentemente. Não foi possível qualquer mediação, mesmo quando a diretoria do DCE sugeriu que se votasse a continuidade das aulas e a formação de ampla comissão de mobilização para formatar pautas e entregá-las e discuti-las com a reitoria. Os contra, não aceitaram a proposta e impuseram a votação da greve.
O objetivo era claro: acabar ali o estado ou indicativo de greve definitivamente. Quando já eram 21 horas, houve a votação e a esmagadora maioria votou pela não greve e ausentou-se imediatamente do ginásio, sob ensurdecedores aplausos das arquibancadas e saudações efusivas. Estava posta uma derrota ao movimento e, possivelmente, ao sindicato local – cujas últimas diretorias tem tido importante protagonismo na retomada da luta de base naquela instituição, inclusive com amplo apoio da Conlutas. Revivi ali, durante as 4 horas de assembleia, o que vivenciamos na Universidade Estadual do Ceará em início de novembro passado quando deflagramos nossa greve.



VIOLENTA DESOCUPAÇÃO DO PRÉDIO DA OI NO RIO DE JANEIRO
                                                         
                                                          


Esse prédio é também conhecido como Favela da Telerj. A ação, parte da política social higienista dos governos fluminense e carioca, fez com que cinco mil pessoas que ocupavam o prédio há onze dias perdessem seu teto - ainda que o prédio estivesse sem qualquer uso há 10 anos.
Cerca de 1650 homens da PM (500 do Batalhão de Choque) foram mobilizados a partir do início da manhã para retirar, à força, os moradores que ocupavam o local. A ação policial foi de extrema brutalidade, com bombas de gás, spray de pimenta e balas de borracha. Entre os feridos estão várias crianças. Helicópteros lançaram bombas de gás sobre os moradores. Cenas mostram ainda a utilização de armas de fogo pela polícia. Profissionais de imprensa foram coagidos pela polícia, e um fotógrafo d’ O Globo chegou a ser detido por registrar a ação.
Repudiamos a ação truculenta da Polícia Militar empregada contra a população que ocupava o prédio abandonado da Telerj/Telemar/Oi, iniciada na manhã do dia 11 de abril de 2014, sob a orientação da política de segurança pública do estado e do município do Rio de Janeiro. Tem sido marca dos presentes governos, criminalizar as lutas sociais como única forma de responder aos problemas concretos da população. A propriedade do solo urbano deveria cumprir função social frente às necessidades da população trabalhadora, não podendo servir como moeda de troca para fins de especulação imobiliária e intensificação do projeto de cidade voltado para o capital, como tem sido sistematicamente defendido pelo governo. Queremos habitação como direito, assim como uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, e saúde pública de qualidade e estatal.


ELEIÇÕES DO DCE/USP: “VITÓRIA” DA ESQUERDA



                                                                                          


As eleições do DCE da USP foram sempre consideradas como um mini barômetro da situação da esquerda em São Paulo. As eleições realizadas entre 8 e 10 de abril passado foram, além disso, as primeiras depois das jornadas de junho e julho de 2013. E foram também as realizadas depois das importantes lutas contra a presença da PM nos campi da USP, e das ocupações da Reitoria resultantes da luta contra o reitor J. G. Rodas e pela democratização da universidade. Foram inscritas oito chapas. Os resultados foram os que seguem: Para Virar a USP pelo Avesso (PSTU/PSOL) 4.991 votos, com 48 %; USPInova (PSDB/PSD) 2.405 votos, 23,1 %; Compor e Ouvir  (PT) 2.107 votos, 20,3 %; Maré Laranja (LERQI, filial brasileira do PTS argentino) 387 votos, 3,7 %; Território Livre (MNN, trotsko-anarco-niilistas) 182 votos, 1,8 %; Pra Fazer a Diferença (PCdoB) 86 votos, 0,8 %;  Frente Poder Estudantil (POR) 46 votos, 0,4 %; Autonomia Universitária (PCO) 29 votos, 0,2 %; brancos e nulos, 168 votos, 1,6 %.A participação estudantil se reduziu em quase 25%, pois votaram 10.401 estudantes (contra 13.134 em 2012). Percentualmente, a queda foi ainda maior, se levado em conta o crescimento do número de estudantes inscritos na USP.
A situação (PSTU/PSOL), novamente vencedora, perdeu dois mil votos (teve 4.991, contra 6.964 em 2012) e três pontos percentuais (48 % contra 51 % em 2012). A chamada “direita” (que inclui muitos votantes que não são de direita, mas que simplesmente a votam contra a situação) também retrocedeu, de 2.660 votos em 2012 contra 2.405 em 2014. As correntes governistas (PT e PCdoB) também retrocederam bastante. O peso das correntes e grupos anti-organização (black bloc e assemelhados) cresceu (a pesar de não fazerem campanha ostensiva contra a participação nas eleições), o que significa que as organizações tradicionais estão em retrocesso. O bloco informal PSTU/PSOL é a única esquerda não governista existente (chamar o PSOL de anti-governista seria um exagero, embora sim o sejam as correntes do PSOL presentes na USP). Uma radiografia da esquerda brasileira, em seu retrocesso e suas contradições.


Lembretes para um Programa (e para uma Organização)

DOGMATISMO E "LIBERDADE DE CRÍTICA"


Vladimir I. Lênin


"Liberdade de crítica" é, sem dúvida alguma, a palavra de ordem mais em voga atualmente, aquela que aparece com mais frequência nas discussões entre socialistas e democratas de todos os países. À primeira vista, nada parece mais estranho do que ver um dos contraditores exigir solenemente a liberdade de crítica. Acaso nos partidos avançados ergueram-se vozes contra a lei constitucional que na maioria dos países europeus, garante a liberdade da ciência e da investigação científica? "Há algo escondido" dirá necessariamente qualquer homem imparcial que tenha ouvido essa palavra de ordem em moda, repetida em todos os cantos, e que ainda não tenha apreendido o sentido do desacordo. "Essa palavra de ordem é, evidentemente, uma daquelas pequenas palavras convencionais que, como os apelidos, são consagradas pelo uso e tornam-se quase nomes comuns".
De fato, não constitui mistério para ninguém que, na atual social-democracia internacional, se tenham formado duas tendências, cuja luta ora "se anima e se inflama, ora se extingue sob as cinzas das grandiosas resoluções de tréguas". Em que consiste a "nova tendência que "critica" o "velho" marxismo "dogmático", disse-o Bernstein, e demonstrou-o Millerand com suficiente clareza. A social-democracia deve transformar-se de partido da revolução social em partido democrático de reformas sociais. Essa reivindicação política, foi cercada por Bernstein com toda uma bateria de "novos" argumentos e considerações muito harmoniosamente orquestrados. Nega ele a possibilidade de se conferir fundamento científico ao socialismo e de se provar, do ponto de vista da concepção materialista da história, sua necessidade e sua inevitabilidade, nega a miséria crescente, a proletarização e o agravamento das contradições capitalistas; declara inconsistente a própria concepção do "objetivo final", e rejeita categoricamente a ideia da ditadura do proletariado; nega a oposição de princípios entre o liberalismo e o socialismo, nega a teoria da luta de classes, considerando-a inaplicável a uma sociedade estritamente democrática, administrada segundo a vontade da maioria etc. Assim, a exigência de uma mudança decisiva - da social-democracia revolucionária para o reformismo social burguês - foi acompanhada de reviravolta não menos decisiva em direção à crítica burguesa de todas as ideias fundamentais do marxismo. E como essa crítica, de há muito, era dirigida contra o marxismo do alto da tribuna política e da cátedra universitária, em uma quantidade de publicações e em uma série de tratados científicos: como, há dezenas de anos, era inculcada sistematicamente à jovem geração das classes instruídas, não é de se surpreender que a "nova" tendência "crítica" na social-democracia tenha surgido repentinamente sob sua forma definitiva, tal como Minerva da cabeça de Júpiter. Em seu conteúdo, essa tendência não teve de se desenvolver e de se formar; foi transplantada diretamente da literatura burguesa para a literatura socialista. Prossigamos. Se a crítica teórica de Bernstein e suas ambições políticas permaneciam ainda obscuras para alguns, os franceses tiveram o cuidado de fazer uma demonstração prática, do "novo método". Ainda desta vez a França justificou sua velha reputação de "país em cuja história a luta de classes, mais do que em qualquer outro, foi resolutamente conduzida até o fim" (Engels). Ao invés de teorizar, os socialistas franceses agiram deliberadamente; as condições políticas da França, mais desenvolvidas no sentido democrático, permitiram-lhes passar imediatamente ao "bernsteinismo prático" com todas as suas consequências. Millerand deu um exemplo brilhante desse bernsteinismo prático; também, com que empenho Bernstein e Vollmar apressaram-se em defender e louvar Millerand! De fato, se a social-democracia não constitui, no fundo, senão um partido de reformas e deve ter a coragem de reconhecê-lo abertamente, o socialismo não somente tem o direito de entrar em um ministério burguês, como também deve mesmo aspirar sempre a isso. Se a democracia significa, no fundo, a supressão da dominação de classe, por que um ministro socialista não seduziria o mundo burguês com discursos sobre a colaboração das classes? Por que não conservaria ele sua pasta, mesmo após os assassínios de operários por policiais terem demonstrado pela centésima e pela milésima vez o verdadeiro carácter da colaboração democrática das classes? Por que não facilitaria pessoalmente o czar a quem os socialistas franceses não chamavam senão de knouteur, pendeur et déportateur? E para contrabalançar esse interminável aviltamento e auto-flagelação do socialismo perante o mundo inteiro, essa perversão da consciência socialista das massas operárias - única base que nos pode assegurar a vitória - são nos oferecidos os projetos grandiloquentes de reformas insignificantes, insignificantes ao ponto de se poder ter obtido mais dos governos burgueses! Aqueles que não fecham os olhos, deliberadamente, não podem deixar de ver que a nova tendência "crítica" no socialismo nada mais é que uma nova variedade do oportunismo. E se tais pessoas forem julgadas, não a partir do brilhante uniforme que vestiram, nem tampouco do título pomposo que se atribuíram, mas a partir de sua maneira de agir e das ideias que realmente divulgam, tornar-se-á claro que "a liberdade de crítica" é a liberdade da tendência oportunista na social-democracia, a liberdade de transformar esta em um partido democrático de reformas, a liberdade de implantar no socialismo as ideias burguesas e os elementos burgueses. A liberdade é uma grande palavra, mas foi sob a bandeira da liberdade da indústria que foram empreendidas as piores guerras de pilhagem, foi sob a bandeira da liberdade do trabalho, que os trabalhadores foram espoliados. A expressão "liberdade de crítica", tal como se emprega hoje, encerra a mesma falsidade. As pessoas verdadeiramente convencidas de terem feito progredir a ciência não reclamariam, para as novas concepções, a liberdade de existir ao lado das antigas, mas a substituição destas por aquelas. Portanto, os gritos atuais de "Viva a liberdade de crítica!" lembram muito a fábula do tonel vazio. Pequeno grupo compacto, seguimos por uma estrada escarpada e difícil, segurando-nos fortemente pela mão. De todos os lados, estamos cercados de inimigos, e é preciso marchar quase constantemente debaixo de fogo. Estamos unidos por uma decisão livremente tomada, precisamente a fim de combater o inimigo e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes desde o início nos culpam de termos formado um grupo à parte, e preferido o caminho da luta ao caminho da conciliação. Alguns dos nossos gritam: Vamos para o pântano! E quando lhes mostramos a vergonha de tal ato, replicam: Como vocês são atrasados! Não se envergonham de nos negar a liberdade de convidá-los a seguir um caminho melhor! Sim, senhores, são livres não somente para convidar, mas de ir para onde bem lhes aprouver, até para o pântano; achamos, inclusive, que seu lugar verdadeiro é precisamente no pântano, e, na medida de nossas forças, estamos prontos a ajudá-los a transportar para lá os seus lares. Porém, nesse caso, larguem-nos a mão, não nos agarrem e não manchem a grande palavra liberdade, porque também nós somos "livres" para ir aonde nos aprouver, livres para combater não só o pântano, como também aqueles que para lá se dirigem! (De O Que Fazer?, 1902)



CONFERÊNCIA EUROPEIA DISCUTIU UCRÂNIA E CRISE MUNDIAL



Pablo Rieznik


A 2ª Conferência Europeia que se desenvolveu nos últimos dias de março, em Atenas, reuniu características especiais. Foi uma iniciativa internacionalista, adotada pela frente de organizações que militam na Coordenação pela Refundação da Quarta Internacional – CRQI. Contou com a presença de delegações de uma quinzena de países europeus e do Oriente Médio. Da Grécia participaram como observadores, o NAR, da OKDE, de Spartakus, da Antarsya e da Organização Comunista Anasyntaxi. Também delegações operárias da fábrica Viome (ocupada), do comitê de greve de empregados municipais de Atenas, da fábrica Aluminium Hellas, do metrô de Atenas e trabalhadores de hospitais e da educação.
Assistiu uma delegação muito significativa da Rússia: do Partido dos Comunistas Russos (Iossif Abramson), da Associação de Organizações Marxistas (AMO), ambas fazem parte da Frente de Esquerda (ou “Frente Vermelha”); de Alternativyi (grupo de Alexander Buzgalin, que edita uma revista com esse nome); e, sobretudo, dois delegados do recentemente criado Partido Comunista Unificado (PCU), que reúne a frações do ex-PCUS e do ex-Partido Comunista da Federação Russa, liderado por A. Zyuganov.
Também estava na Conferência a Organização Contra a Corrente da Ucrânia (presente em quatro cidades do país e anteriormente vinculada ao grupo Lotta Comunista da Itália). Os militantes deste agrupamento estão traduzindo para o ucraniano obras de Trotsky e declarações da CRQI. Seu delegado, Yuri Shakhin, foi seriamente ferido em um ataque organizado pelo partido fascista Svoboda.
Outra vertente da Conferência teve a contribuição da Turquia: o Partido Revolucionário dos Trabalhadores da Turquia (DIP, da CRQI) e observadores da Frente Popular. Por convite do DIP esteve também na Conferência o grupo Neos-Antropos, do Chipre, que se reivindica trotskista e intervém na parte turca da ilha (também esteve presente um militante do EEK, da parte grega). O nome do grupo turco recorda o de uma velha organização trotskista balcânica. Junto à delegação do DIP esteve presente uma ativista do Irã.
Por último, é necessário mencionar as delegações da Hungria, um representante da Sociedade Karl Marx de Budapeste; da Bulgária, representantes do Movimento Social de Varna; da Polônia, uma ativista independente da esquerda. Do Oeste da Europa esteve, por Portugal, Raquel Varela (professora universitária e importante intelectual e ativista da esquerda). Pela França, Monique Karbowska, dirigente regional e candidata do Novo Partido Anticapitalista (NPA). Pela Escócia participou Hillel Ticktin (professor emérito da Universidade de Glasgow e editor da revista Critique), pela Finlândia, a Liga Marxista dos Trabalhadores (CRQI) e pela África do Sul, Latief Parker (da redação de Critique) e Godfrey Mding (ativista negro independente, ex-CNA). Da Itália participaram dois companheiros do PCL (CRQI). Com a delegação de nosso Partido Obrero, a Conferência sob a responsabilidade da CRQI, somou um total de 21 organizações e 4 militantes e ativistas independentes.
Os trabalhos da Conferência Europeia foram organizados em três sessões: “A UE, Ucrânia, Rússia, Europa do Leste e os Balcãs”; “A crise na UE frente às eleições de maio de 2014”; “A UE, o Oriente Médio, África e América Latina”. Intervieram todas as delegações, de forma polêmica, e aconteceram numerosos debates. As polêmicas mais fortes se desenvolveram na primeira sessão em torno à questão ucraniana. Iossif Abramson, do Partido dos Comunistas Russos, denunciou a operação anexionista da UE e também a de Putin, e rechaçou a anexação da Crimeia, ainda que o fez em termos legalistas-democratizantes (propondo até a possibilidade de sanções internacionais). Com um pensamento oposto, os companheiros do DIP da Turquia defenderam a legitimidade do referendo pró-russo da Crimeia, como uma resposta à agressão ianque-europeia. Também os representantes do PCU russo destacaram o ataque imperialista contra a Rússia e o perigo da emergência de um poder nazifascista na Ucrânia (e Europa do Leste), mas não pouparam uma crítica de grosso calibre contra Putin e a “oligarquia”. Os representantes do PCL marcaram sua posição no final da Conferência, quando tudo já havia sido dito: conceberam concluída a restauração capitalista no ex-espaço soviético, e a Rússia como “potência imperialista”, para descartarem a caracterização de “oligarquia restauracionista” para o regime de Putin. O delegado ucraniano caracterizou como reacionário o movimento “Euro-Maidan” (sem deixar de reconhecer a participação de importantes setores populares), e a disputa sobre a Crimeia como um enfrentamento entre dois chauvinismos, carregando sobre o ucraniano, porque é aliado do imperialismo ocidental. Destacou o que chamou uma “destruição da consciência de classe” na Ucrânia. Os companheiros húngaros e polacos falaram de “passividade” do povo em seus países; os búlgaros, ao contrário, destacaram um forte reafloramento de movimentos de luta e greves.
A discussão das exposições mostrou uma reconfiguração das posições. O Partido Obrero defendeu suas análises e propostas, o que se viu refletido na resolução final. A declaração aprovada propõe uma Ucrânia independente e socialista, contra o protetorado que busca estabelecer a UE e Obama, e contra toda anexação da Rússia e o  desmembramento do país. Denuncia o caráter reacionário da disputa pela partilha da Ucrânia entre os oligarcas e o imperialismo e se pronuncia por uma nova União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e pelos Estados Unidos Socialistas da Europa. Foi aprovada pelo voto de todas as delegações, com exceção do DIP turco e o PCL italiano (organizações da CRQI), que se abstiveram no ponto relativo à Ucrânia.
Na segunda sessão, Hillel Ticktin (Escócia) caracterizou a crise capitalista como uma profunda depressão devido à “superacumulação de capital” (descartando de imediato as explicações sub-consumistas), e destacou a contradição entre a superabundância monetária (um banco de Nova York possui depósitos de U$ 37 trilhões, 40% do PIB mundial), e a “greve de investimentos (produtivos)”. Raquel Varela (intelectual e militante de esquerda de Portugal) acompanhou as explicações de Ticktin, caracterizando que, em especial na península ibérica, o proletariado está submetido a condições salariais e de trabalho que permitem somente sua sobrevivência biológica, comprometendo até sua reprodução. Varela se referiu, além disso, às lutas dos estivadores de Lisboa, em que a mesma participou, como uma luta internacional exemplar. O informe do EEK esteve centrado nas lutas em seu país, assim como o do representante finlandês, que caracterizou um ressurgimento das lutas de classe na Escandinávia. Os companheiros do PCL se referiram à crise política italiana e definiram o PCL como “o único partido comunista da Itália”. Os dois oradores cipriotas, muito jovens, enfatizaram a necessidade de um programa estratégico (por um Chipre independente e unificado, no marco dos Estados Unidos Socialistas da Europa) para a crise da ilha.
Na sessão final, Sungur Savran informou sobre o Oriente Médio, chamando a atenção sobre a crise do governo de Erdogan (Turquia), e suas projeções internacionais, em especial o conflito palestino. Destacou o caráter explosivo e a importância internacional da questão kurda. A oradora iraniana marcou uma mudança completa da situação de seu país, com o retrocesso da ala “dura” dos mollahs, devido à crise interna e internacional. Os oradores sul-africanos se delimitaram do balanço apologético da obra de Nelson Mandela, caracterizando a crise do capitalismo sul-africano (apresentaram um documento extenso). O PO, finalmente, informou sobre a América Latina, caracterizando a crise dos regimes pseudonacionalistas e explicando a política e as vitórias do Partido Obrero e da Frente de Esquerda na Argentina em termos de um largo trabalho de diferenciação política de classe. Foi ouvido muito atentamente quando assinalou o caráter decisivo da concepção de unidade da esquerda revolucionária e o movimento operário.
O fechamento do intenso trabalho da Conferência foi assinado pelo coro da Internacional, no canto poliglota dos idiomas mais diversos. A apreciação de conjunto sobre a atual situação no velho continente, as palavras de ordem e as formulações para a intervenção podem ver-se integralmente na declaração aprovada (www.po.org.ar). A Conferência abriu para a CRQI (Coordenação pela Refundação da IV Internacional), um amplo campo de debates e de luta em comum com setores importantes e decisivos da esquerda europeia, em especial na Rússia e na Europa do Leste, ou seja, demarcou um novo e importante salto na luta pela refundação da IV Internacional.



PORTUGAL: AS NOVAS TAXAS E O “MONSTRO” DA DEFLAÇÃO
Raquel Varela


Generalizaram-se os comentários na imprensa comum sobre o risco de deflação na Europa. Este risco de “deflação” traduzido significa que vem aí uma nova crise, em termos muito simples, simplistas até, não compensa colocar os produtos no mercado à venda porque o seu lucro médio cai. Na última crise foi assim: deflação (no preço de produção, e não no preço de venda), queda da taxa média de lucro, propriedade desvalorizada, banca em pré falência, Estado imprime dinheiro para salvar estes capitais, a dívida passa de 70% para 130% do PIB. Primeiro o Estado tinha que salvar a Banca porque “sim”, 6 meses depois, no início de 2009 o discurso mudava: “os portugueses viveram acima das possibilidades”. A hipótese do atual governo taxar produtos "nocivos para a saúde" é nociva. O IVA é um imposto que não devia existir - é um imposto regressivo, paga mais quem ganha menos. Mas é um imposto intolerável quando diz respeito a comida. Prejudicial para a saúde dos portugueses é deixarem de comer peixe grelhado com arroz de grelos e comerem pão com alface e atum. A base da alimentação de quem trabalha é cada vez mais trigo, leite e açucar e não é porque os portugueses são ignorantes. É porque a relação tempo/energia/preço nesses alimentos faz com que sejam mais baratos. Mesmo que depois se gaste 12% dos custos do Estado com saúde a tratar diabéticos. 23% de IVA para se sentar à mesa e almoçar é nocivo. Nocivo para a saúde, nocivo para o emprego, arrasando com pequenos negócios de família e nocivo para o prazer de viver. Como os lugares de trabalho, com o desemprego galopante, se tornaram espaços de exaustão, medo e competição (conhecidos popularmente por cansaço, stress e inveja), a mesa com os amigos era para muitos o momento melhor do dia. Um governo que fecha restaurantes à mesma velocidade com que regressa a marmita, é nocivo.
A taxa média de lucro já foi recuperada (os afogados de 2008 há muito saíram da crise, são agora parte dos 870 milionários), a Banca está a abarrotar de capitais que não investe, coloca-os na dívida, que é sustentada pelos cortes de pensões e salários. Empurrar um morto vivo – o pujante capitalismo português – só é possível matando as pessoas de exaustão ou salários abaixo da sobrevivência. Mas é possível. A regressão histórica é sempre possível e não depende só de quem quer ver os seus capitais protegidos da temida deflação, depende da resistência de quem não aceita os cortes nos salários e pensões. São dois lados em conflito e na luta, literalmente, por ver quem vai ganhar. Porque é óbvio que o pacto keynesiano, em que ambos se mantinham a crescer – salários e lucros – morreu.


DEZENAS DE MILHARES NAS RUAS DA EUROPA CONTRA A “AUSTERIDADE”


Dezenas de milhares de trabalhadores europeus saíram às ruas no sábado 12 de abril para protestar contra os planos de austeridade que retiram direitos dos trabalhadores para ajudar os bancos e as grandes empresas. Em Paris, na França, os organizadores dizem que a manifestação teve presença de 100 mil pessoas. Já em Roma, na Itália, o número estimado de participantes no protesto foi de 30 mil.
Em ambos os países há planos de afrouxar as leis trabalhistas e de realizar reformas que beneficiem política e economicamente as empresas em detrimento dos trabalhadores. Por isso, trabalhadores, estudantes e desempregados franceses e italianos tomaram as ruas para exigir que a política seja feita para os trabalhadores, e não para os detentores de capital. O presidente e primeiro-ministro franceses, François Hollande e Manuel Valls, respectivamente, e o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, foram os principais alvos de críticas dos manifestantes.
Na capital italiana a polícia reagiu de forma violenta à manifestação, transformando a rua em palco de batalha, com cassetetes, balas de borracha e gás lacrimogêneo. Cem pessoas ficaram feridas - entre eles um manifestante que perdeu a mão - e seis pessoas foram presas. Outros países europeus, como Espanha, Grécia e Bélgica, também têm seus trabalhadores em movimento contra a política de austeridade, propagada como a única saída possível para a atual crise econômica.


CONTRA O “AJUSTE” KIRCHNERISTA: GREVE GERAL PARALISA A ARGENTINA


A Argentina parou na quinta-feira 10 de abril por conta de uma paralisação geral convocada pela maioria das centrais sindicais do país. A paralisação teve como pautas os reajustes salariais, o combate à inflação e o aumento da aposentadoria. Segundo os sindicalistas, a adesão à greve foi elevada, e – afora as manifestações - as ruas das principais cidades do país estavam vazias. Sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda aderiram à greve e passaram todo o dia, desde as primeiras horas da madrugada, construindo piquetes em importantes vias de acesso às cidades e resistindo contra a forte repressão policial. A paralisação tomou grande parte dos setores da Argentina, em especial as montadoras, a educação, as empresas alimentícias e o transporte público. Todos os voos da empresa estatal foram cancelados, e outros voos também não decolaram ou pousaram por conta da paralisação dos trabalhadores dos aeroportos.
O governo de Cristina Kirchner, assustado pelo tamanho da mobilização, criticou os grevistas atribuindo-lhes “motivação política”. A greve expressa um conjunto de demandas concretas dos trabalhadores, mas também evidencia uma enorme demonstração de força da oposição classista e de esquerda ao governo Kirchner, considerando que há eleições para a presidência do país no ano que vem e que o oficialismo sofreu grandes derrotas nas eleições legislativas do ano passado. Segundo Marcelo Ramal, deputado do Partido Obrero pela Frente de Esquerda (FIT), “a paralisação foi um verdadeiro pronunciamento massivo e contundente de toda a classe trabalhadora contra o ajuste, em defesa do salário e das aposentadorias e para acabar com os impostos sobre os salários. Os piquetes que fizemos em Buenos Aires e em todo o país contribuíram para dar força à paralisação e ao mesmo tempo deixaram claro um programa sindical e político para o país”. A Coordinadora Sindical Classista, impulsionada pelo Partido Obrero, garantiu, junto com outras correntes, a greve ativa com centenas de piquetes espalhados por fábricas e outros diversos centros de trabalho de todo o país. A paralisação geral da Argentina dinamitou literalmente o programa de ajuste do agonizante governo “nacional e popular” kirchnerista. Uma lição para os trabalhadores do Brasil.


 UCRÂNIA: OBAMA VAI À GUERRA?
Jorge Altamira
                                                                                                  

                                                                                                



A decisão, por parte do governo oficial da Ucrânia, de enviar tropas especiais para evacuar os aeroportos e edifícios públicos ocupados pela população local em várias regiões do leste do país, leva toda a marca ‘made in USA’. Aviões de combate e helicópteros sobrevoaram as zonas rebeldes, em operações intimidatórias, enquanto as autoridades de Kiev, a capital do país, estariam planejando um assalto em regra por meio de tanques, artilharia pesada e carros blindados.
Na tarde de quarta-feira, 16/04, chegavam as notícias dos companheiros ucranianos que assistiram recente conferência organizada pela CRQI, em Atenas: “Queridos companheiros! O governo de Kiev não conseguiu derrotar o levante popular. A guerra contra os povos do leste não logrou decolar. Alguns setores do exército da Ucrânia se negaram a reprimir as mulheres e as crianças e outros passaram para o lado do povo. Ainda que estes últimos sejam todavia poucos, o processo arrancou. De modo que penso que Slaviansk e Khamatorsk vão se converter em uma sorte de Stalingrado para os dirigentes ucranianos”.
Expressamos o mesmo desejo. A condição, no entanto, para a vitória autêntica dos levantes contra a operação militar da OTAN, é que se tornem independentes da tutela da oligarquia pró-russa da região, que está negociando neste mesmo momento com a OTAN. É necessário unir aos trabalhadores do leste e oeste da Ucrânia, para lutar por uma nação unida, independente e socialista. O porta-voz da Casa Branca pôs todas as impressões digitais no dia anterior, quando assinalou, em uma conferência de imprensa: “Urgimos que o governo da Ucrânia vá adiante…”. No fim de semana anterior havia viajado à Ucrânia, o chefe da CIA, John Brennan, sem esclarecer em nenhum momento o propósito de semelhante visita. Desde o começo da crise, o governo de Obama foi sempre mais resolutamente adiante na ofensiva política para converter a Ucrânia em um protetorado da UE e da Otan, como ficou registrado em uma conversação telefônica, gravada pelos serviços de espionagem da Rússia, na qual disparava adjetivos grosseiros contra a ‘timidez’ dos governos da UE. Os EUA torpedearam o acordo tecido pela UE com as partes em conflito na Ucrânia, que prolongava até dezembro o mando do agora ex-presidente Yanukovitch, em troca de uma reforma constitucional que despojara de suas principais prerrogativas ao poder executivo. Os norte-americanos, na noite de 21 de fevereiro, lograram meter um golpe de estado dentro do golpe de estado orquestrado por seus aliados europeus.
A exortação da CIA para que o governo oficial da Ucrânia fosse adiante coincidiu com declarações do presidente substituto desse país, que admitiam discutir uma reforma constitucional que estabelecera um regime político federal – a demanda principal dos oligarcas que dominam o leste da Ucrânia e dos oligarcas russos e o governo de Putin. Exigiam, além disso, que a Ucrânia adote o status de neutralidade que têm, por exemplo, Finlândia e Áustria – algo que também propõem vários ex-membros do aparato de segurança nacional dos Estados Unidos. Putin fez esta proposta com o objetivo subalterno de fazer naufragar as eleições gerais, na Ucrânia, prevista para o 25 de maio próximo. A operação militar instigada por Obama, tem o propósito claro de abortar qualquer procedimento que obstaculize a consagração de um governo partidário de submeter a Ucrânia à UE, nessas eleições. Em definitivo, a Rússia e os países da OTAN não lograram pôr-se de acordo em uma partilha da Ucrânia, que deixaria a Crimeia e o acesso ao mar Negro à Rússia, e o conjunto da Ucrânia à exploração econômica por parte da UE. Em uma nova mudança de posição, o governo oficial, com o respaldo também oficial de Washington, exige que um regime de autonomias seja submetido a um referendo de alcance nacional, cujo resultado seria determinado pelas regiões ocidentais do país.
A crise internacional acelerou como consequência dos planos de ajuste que já começaram a serem aplicados na Ucrânia, em especial os tarifaços na energia, e que ameaçam em reduzir a maioria da população à fome. A Rússia retirou o subsídio ao gás que vende a Ucrânia e reclama o pagamento dos empréstimos que concedeu quando quis apoiar ao governo precedente. O FMI meteu-se no assunto, mas longe de organizar um “plano Marshall” (créditos a longo prazo e juro baixo), sustenta que a Ucrânia deve, primeiro, alcançar o equilíbrio de suas contas.
O choque pela Ucrânia se estende até a Moldávia, cuja burocracia restauracionista já firmou um tratado de livre comércio a favor da UE. Ocorre que uma região do país, a Transdniepster, rechaça o acordo e declara abertamente que arruinaria sua economia. Com forte influência russa, está organizando um referendo para separar-se da Moldávia. O desenho ‘geopolítico’ que as grandes potências armaram para a Europa, depois da dissolução da URSS, simplesmente se desmorona. A crise mundial está fazendo seu próprio trabalho neste terreno, como se demonstra no pedido de separação da Catalunha, na Espanha, e Escócia, na Grã Bretanha.
A reação de Putin contra o anexionismo que desenvolvem as potências da OTAN não deveria surpreender. O chefe da OTAN, em um longuíssimo artículo publicado pelos principais jornais, simplesmente negou que a OTAN tenha dado alguma vez garantias de que não pretendia anexar aos estados emergentes da URSS, não somente na Europa, como também no Cáucaso. Quando a OTAN operou para separar Kosovo da Sérvia, em meados da década de 90, na guerra pela ex-Iugoslávia, inclusive o ex-presidente russo, Yeltsin, pensou em socorrer aos sérvios, que teve que abandonar, porque a própria Rússia se encontrava em um avançado grau de desintegração. A OTAN tem em pé uma oferta para integrar também a Rússia a esse bloco, o que significaria a colonização do maior território do mundo e de uma potência tecnológica! Implicaria o último estágio da restauração capitalista.
Ao propor a formação de um bloco “euroasiático”, a oligarquia capitalista da Rússia busca estabelecer uma plataforma de negociação com as principais potências capitalistas – de nenhum modo estabelecer um regime sobre a base de princípios antagônicos ao capitalismo. Os serviços russos procuram pôr um dique a uma desintegração potencial da Rússia. Nenhum trabalhador deve defender a posição da Rússia neste choque com a OTAN, mas sim aproveitar a crise aberta entre eles para promover a luta contra ambas alternativas, ou seja, por uma Ucrânia independente, unida e socialista, que sirva de alavanca para estender a resistência popular ao ajuste da Rússia e aos países da UE. A resistência armada que se desenvolve no leste deveria ser independente de sua direção oligárquica e que se transforme em um duplo poder. Deveria ser objeto de discussão a palavra de ordem de uma Assembleia Constituinte soberana, convocada por um novo governo, constituído por representantes eleitos das principais regiões do país.
A investida norte-americana contrasta com a relutância da Europa – Alemanha, Grã Bretanha e Espanha. É que o objetivo dos EUA é usar a crise da Ucrânia para restringir a autonomia da própria UE, a quem pretende impor-lhe também um tratado de livre comércio extorsivo. Putin sabe que a disputa se desenvolve em vários cenários, por isso alimenta uma ilusão fatal nos alemães. A China, por seu lado, observa com receio a ofensiva ianque, mas igualmente os perigos de uma Eurásia russa, porque a China também tem ambições nesses territórios – ricos em gás, petróleo e minerais metalíferos de que precisa. É claro que a crise na Ucrânia é uma confrontação mundial. Pensando bem, é a manifestação desenvolvida da bancarrota capitalista. A disputa entre as frações do capital deve ser convertida em uma luta revolucionária contra o capital.


Tribuna Classista
Conselho de Redação: Carlos Sanches – Rodrigo Belinaso Guimarães – Guilherme Giordano – Cristiana de Vasconcelos Lopes – David Lucius – Edgar Azevedo – José Menezes Gomes – Fabio André Pereira – Alfeu Goulart
e-mail: tribunaclassista@hotmail.com
blog: http://tribunaclassista.blogspot.com.br/