segunda-feira, 5 de maio de 2014

A UCRÂNIA E O BOICOTE ÀS ELEIÇÕES DA OTAN

                                                                         
                 

Jorge Altamira


A Rússia e os governos da OTAN puseram-se de acordo, em Genebra, na semana passada, sobre a necessidade de desarmar as milícias que surgiram no leste da Ucrânia e de desocupar os prédios públicos que se encontram tomados. Motivou-os o afã por conter uma crise internacional maior, porém, principalmente o temor de que poderia desenvolver-se uma situação revolucionária. A Ucrânia é um vulcão social a ponto de explodir por todo o seu território.
            A “pacificação”, no entanto, não ocorreu. Os meios de comunicação atribuem a responsabilidade do fracasso a Putin, que estaria alimentando a ação armada dos grupos ‘pró-russos’. O assunto não é tão simples. Na realidade o governo usurpador de Kiev, instalado por um golpe de Estado manipulado fundamentalmente por Obama, sem eleições, com o voto da maioria parlamentar que havia sustentado, anteriormente, o governo derrubado; este governo lançou uma operação militar contra o leste, sob a direção dos funcionários da CIA e da NSA. O governo usurpador pretende legitimar o golpe pró-OTAN, no próximo dia 25 de maio, e anexar a Ucrânia à União Europeia e a Troika (da qual fazem parte a UE, o FMI e o Banco Central Europeu). É uma anexação na mesma linha estratégica a qual integrou a Alemanha oriental e a ex-Iugoslávia ao dispositivo econômico e militar do imperialismo. Os Estados Unidos envia aviões e tropas ao Báltico e inclusive tem instalado bases militares “provisórias”. Os delegados participantes da Conferência Europeia convocada pela CRQI, tomaram a decisão de impulsionar o boicote a estas eleições. A independência da Ucrânia do imperialismo e sua unidade nacional somente poderão ser asseguradas por uma Assembleia Constituinte, ou seja, uma deliberação democrática do povo da Ucrânia, que seja convocada pelas organizações dos trabalhadores.
            A Rússia propõe por seu lado, uma reforma da Constituição, que dê uma forma federal ao Estado ucraniano, com o propósito de manter uma influência decisiva no espaço geográfico limítrofe. A OTAN entregou a Crimeia, porem não quer ir mais além (ainda que seja o mesmo que o PSOE propõe para evitar uma secessão da Catalunha do Estado espanhol). Os porta vozes da rebelião no leste convocaram um referendo para o dia 11 de maio, com o propósito de impor a autonomia política de suas regiões de forma unilateral.
            O Estado, na Ucrânia é uma ficção. O partido que governou os últimos anos encontra-se pulverizado. As forças tradicionais do oeste não reúnem intenções suficientes de votos para ganhar as eleições no dia 25 próximo; um oligarca da indústria de chocolate encabeça as pesquisas. Este desequilíbrio político geral, interno assim como internacionalmente, não pode encontrar uma saída por meio de operações diplomáticas.
            A este cenário acrescenta-se uma acentuação dos conflitos entre os Estados Unidos e a China pelo controle do espaço marítimo que a China disputa com o Japão, Filipinas e outros países. Obama advertiu a China contra a tentativa de ultrapassar um certo teto de tonelagem naval, o qual tem recordado a mesma ameaça da Grã Bretanha e da Alemanha, que desatou a Primeira Guerra Mundial em 1914. Está se formando um tabuleiro de três lados, se agregarmos a isso a reticência da Alemanha de alinhar-se, de forma incondicional, com os Estados Unidos contra a Rússia. Entre esses dois países desenvolve-se uma forte disputa pelo controle da zona do euro e da UE (a França acaba de intervir para evitar que a empresa Alshtom seja adquirida pela General Electric, e em troca se associe a Siemens). Um jogo de sanções econômicas crescentes ameaça por desestabilizar ainda mais a economia mundial. A Rússia, de imediato, está sofrendo uma forte desvalorização do rublo. Se as sanções alcançarem a empresa Gazprom, o que até agora não ocorreu, a desestabilização econômica se acentuaria tanto na Rússia como na UE.

            É necessária uma campanha contra a tomada e ocupação da Ucrãnia por parte da UE e da OTAN, por um lado, e contra as pretensões de dominação do governo oligárquico capitalista de Putin, por outro. Lutamos por conjugar as tendências revolucionárias no leste e no oeste.