sexta-feira, 2 de maio de 2014

Sectarismo, Centrismo e a IV Internacional(1)


                                                                     
           


         Leon Trotsky


                                                                                                         22 de outubro de 1935




                Seria absurdo negar a existência de tendências sectárias em nosso meio. As discussões e cisões desnudam o fato ante nossos olhos. Como poderia deixar de haver um elemento de sectarismo em um movimento ideológico irreconciliavelmente oposto a todas as organizações dominantes na classe operária, e submetido a perseguições monstruosas e sem precedentes no mundo inteiro?
            Os reformistas e centristas aproveitam qualquer ocasião para colocar o dedo na chaga de nosso “sectarismo”. Em geral, não se referem ao nosso lado débil, e sim ao mais forte: nossa seriedade teórica; nossa tentativa de analisar a fundo toda situação política e apresentar consignas e palavras de ordem claras; nossa hostilidade para as decisões “fáceis” e “cômodas”, que evitam as dores de cabeça de hoje e preparam as catástrofes de amanhã. Nos lábios de um oportunista, a acusação de sectarismo é, na maioria dos casos, um elogio.
            Por curioso que pareça, os que nos acusam de sectários não são somente os reformistas e centristas, mas também os adversários de “esquerda”, os sectários destacados que poderiam muito bem servir de amostra em um museu. Seu descontentamento conosco radica em que somos implacáveis com eles, em que tratamos de purgarmos das enfermidades infantis do sectarismo e de nos elevar-nos a um nível superior.
            Um pensador superficial poderia crer que os termos sectarismo, centrismo, etc, são apenas expressões polêmicas que os adversários empregam por carecer de epíteto mais apropriado. No entanto, os conceitos de centrismo e de sectarismo tem significados precisos no léxico marxista. O marxismo descobriu as leis que governam a sociedade capitalista e elaborou um programa cientifico baseado nas mesmas. É uma conquista colossal! No entanto, não basta elaborar um programa correto. É necessário que a classe trabalhadora aceite-o. Porém o sectário, por sua própria natureza, se detêm, uma vez cumprida a metade desta tarefa. Em lugar de participar ativamente na verdadeira luta das massas operárias, apresenta abstrações propagandísticas arrancadas de um programa marxista.
            Todo partido operário, e toda fração atravessam em suas etapas iniciais, um período de propaganda pura, ou seja de educação de seus quadros. O período de existência como círculo marxista, faz com que inevitavelmente seja interiorizado o hábito de enfocar os problemas do movimento operário de forma abstrata. Quem não é capaz de transcender oportunamente os limites desta existência limitada se transforma em um sectário conservador. Para o sectário, a vida social é uma grande escola e ele seu professor. Em sua opinião a classe operária deveria deixar de lado as questões de pouca importância e agrupar-se ao redor de sua tribuna professoral. Assim as tarefas se realizariam.
            Ainda que nomeie a Marx em cada frase, o sectário é a negação direta do materialismo dialético, que sempre toma a experiência como ponto de partida para logo voltar a ela. O sectário não compreende a ação e a reação dialética entre um programa acabado e a luta viva – ou seja, imperfeita e não acabada – das massas. O método intelectual do sectário é o do racionalista, do formalista, e o do iluminista. Em certa etapa do processo histórico o racionalismo é progressista, apontando suas criticas contra as crenças e superstições cegas (o século XVIII!). Todo grande movimento emancipador repete a etapa progressista do racionalismo. Porém o racionalismo (propagandismo abstrato) torna-se um fator reacionário, quando se dirige contra a dialética. O sectarismo é inimigo da dialética  (não em palavras, mas sim na ação) porque volta as costas ao verdadeiro processo que vive a classe operária.
            O sectário vive num mundo de formulas pré-fabricadas. Em geral, a vida passa ao seu redor sem que ele se aperceba de sua presença, porém de tanto em tanto a vida lhe dá um golpe que lhe faz girar 180 graus ao redor de seu próprio eixo; e em seguida continua seu caminho...na direção contrária. Sua discrepância com a realidade obriga-o constantemente a precisar suas formulas. Chama a isso de discussão. Para o marxista, a discussão é uma arma importante, porém funcional da luta de classes. Para o sectário, a discussão é um fim em si mesmo. No entanto, quanto mais discute, menos compreende as verdadeiras tarefas. É como um homem que sacia sua sede com água salgada: quanto mais bebe, mais sede tem. Daí sua irritação constante. Mas quem colocou sal no copo? Os “capituladores” do Secretariado Internacional, lógico! Para o sectário, todo aquele que trata de explicar-lhe que a participação ativa do movimento operário exige o estudo permanente da situação objetiva em lugar dos conselhos altaneiros pronunciados da tribuna professoral sectária, é um inimigo. Em lugar de dedicar-se a analisar a realidade, o sectário se dedica às intrigas, aos rumores e à histeria.
             Neste sentido, o centrismo se opõe ao vértice ao sectarismo: aborrece-lhe as formulações precisas, trata de encontrar caminhos para a realidade por fora da teoria. Porém, apesar da famosa frase de Stalin, os “antípodas” muitas vezes resultam ser...”gêmeos”(2) . Uma formula separada da vida carece de conteúdo. Não se pode apreender a realidade viva sem teoria.  Assim vemos que os dois, o sectário e o centrista, vão com as suas mãos vazias e se unem...em seu ódio contra o marxista autêntico.
            Quantas vezes não encontramos com um centrista satisfeito que se intitula “realista”, simplesmente porquê se lança a nadar sem nenhuma bagagem ideológica e se deixa levar por qualquer corrente passageira. É incapaz de compreender que para o nadador revolucionário, os princípios não são um peso morto, mas sim um salva-vidas. O sectário, por sua parte, geralmente não quer nadar para evitar que molhem os seus princípios. Se senta na margem e pronuncia conferências moralizantes ante a torrente da luta de classes. Porém, de tanto em tanto, um sectário desesperado coloca a cabeça para fora d'água, se apega ao centrista, e ambos se afogam. Assim foi; e assim será sempre.
            Nesta época de desintegração e dispersão encontramos nos distintos países mais de um círculo que adquire um programa marxista, geralmente tomado dos bolcheviques, e que após isso vai ossificando sua bagagem ideológica.
            Vejamos, por exemplo, o espécime mais típico: o grupo belga dirigido pelo camarada Vereecken. Spartakus, o órgão desse grupo, anunciou em 10 de agosto sua adesão a IV Internacional. Este anúncio foi uma boa notícia. Porém, ao mesmo tempo, é necessário dizer que a Quarta Internacional estaria condenada a morte se fizesse concessões às tendências sectárias.
            Em seu momento, Vereecken se opôs contundentemente ao entrismo da Liga Comunista francesa no Partido Socialista francês. Isto não é um crime: trata-se de um problema novo, um passo arriscado e as diferenças eram totalmente lícitas. Em certo sentido, os exageros da luta ideológica também eram lícitos ou, ao menos inevitáveis. Vereecken vaticinou a ruína inexorável da organização internacional bolchevique-leninista como resultado de sua dissolução na Segunda Internacional. Aconselharíamos a Vereecken que voltasse a publicar no jornal Spartakus seus documentos proféticos de ontem. Porém isso não é o pior. O pior é que em sua última declaração Spartakus assinala de forma ambígua que a seção francesa manteve-se fiel a seus princípios “poderíamos dizer em grande medida”. Se Vereecken atuasse como político marxista, nos diria clara e concretamente em que se desviou a seção francesa de seus princípios e haveria de responder direta e francamente à pergunta: Quem teve razão, os adversários ou os partidários do entrismo? 
            A atitude de Vereecken para com a nossa seção belga, que entrou no Partido Trabalhista (POB) reformista, é ainda mais errônea. Em lugar de estudar as experiências derivadas do trabalho sob novas condições, e de criticar as medidas adotadas se o merecessem, Vereecken queixa-se das condições em que se realizou a discussão na qual foi derrotado. A discussão, vejam vocês, foi incompleta, inadequada e desleal: a água salgada não acalmou a sede de Vereecken. Não existe um “autentico” centralismo democrático na Liga Comunista Internacional! Com relação aos adversários do entrismo, a Liga mostrou-se...”sectária”. 
            É evidente que a concepção do camarada Vereecken sobre o sectarismo não é marxista, mas sim liberal: nisto aproxima-se dos centristas. Não é correto que a discussão foi inadequada; durou vários meses e desenvolveu-se oralmente e através de nossa imprensa e, para cumulo, a nível internacional. Quando Vereecken fracassou em seu intento de convencer aos demais de que ficar quieto e perder tempo é a melhor política revolucionária, se negou a respeitar as decisões das organizações nacionais e internacionais. Mais de uma vez os representantes da maioria disseram a Vereecken que se a experiência demonstrava que a medida resultasse incorreta, iriamos corrigi-la juntos. É compreensível que depois de doze anos de luta dos bolcheviques-leninistas não se tenha suficiente confiança na Organização para manter a disciplina na ação, ainda que existam diferenças táticas? Vereecken fez caso omisso dos argumentos fraternais e conciliadores. Quando a maioria da seção belga entrou no Partido Trabalhista, o grupo de Vereecken se encontrou, logicamente, fora de nossas fileiras. A culpa disso recai sobre o próprio grupo.
            Voltando ao eixo do problema, o sectarismo do camarada Vereecken ressalta com todo seu grosseiro dogmatismo. Como!, grita Vereecken, indignado: Lenin falou de romper com os reformistas, porém os bolcheviques-leninistas belgas ingressam em um partido reformista! Porem Lenin considerava a ruptura com os reformistas como consequência inevitável da luta contra eles, não como um ato de salvação independente de tempo e de lugar. Não pediu a ruptura com os sociais-patriotas para salvar sua alma, mas para que as massas rompessem com o social-patriotismo. Na Bélgica, os sindicatos então unidos com o Partido Trabalhista Belga; o partido belga é essencialmente o movimento operário organizado.
            É certo que o entrismo dos revolucionários no Partido Trabalhista Belga não somente abriu possibilidades, mas também impôs restrições. Para fazer propaganda das ideias marxistas é necessário ter em conta, não somente a legalidade que lhe outorga o Estado burguês, mas também a legalidade existente no partido reformista (legalidades, que acrescentamos, coincidem em grande medida). Em termos gerais, a adaptação a uma “legalidade” exterior envolve indubitavelmente um elemento de perigo. Porem isso não impediu aos bolcheviques utilizar a própria legalidade czarista: durante muitos anos, os bolcheviques em assembleias sindicais e na imprensa legal tiveram que abandonar o nome de social-democratas e usar o de “democratas consequentes”. É verdade que não saíram totalmente impunes: o bolchevismo atraiu uma série de indivíduos que eram democratas mais ou menos consequentes, mas de nenhuma maneira socialistas internacionalistas; no entanto, combinando o trabalho legal com o ilegal, o bolchevismo superou as dificuldades.
            É claro que a “legalidade” de Vandervelde, de De Man, de Spaalt e outros lacaios da plutocracia belga impõe restrições muito pesadas aos marxistas e, em consequência, criam perigos. Porém os marxistas que todavia não possuem as forças suficientes para criar seu próprio partido, tem métodos próprios para combater os perigos do cativeiro reformista: um programa claro, vínculos fraternais constantes, crítica internacional, etc, etc. Só se pode julgar corretamente a atividade da ala  revolucionária de um partido reformista avaliando a dinâmica de seu desenvolvimento. Vereecken não o faz no caso da fração ASR, nem tão pouco no caso do grupo Vérite. Se tivesse feito, teria que reconhecer que ASR realizou progressos importantes no último período. No entanto não se pode vaticinar um balanço final. Porém a experiência já justifica o entrismo no Partido Trabalhista Belga.
            Vereecken estende e generaliza seu erro ao afirmar que a existência de grupos pequenos e isolados que romperam com nossa organização internacional em distintos momentos, é uma prova de nossos métodos sectários. Ao dizer isso, mexe as relacionadas patas para cima. A verdade é que nas etapas iniciais, nas fileiras dos bolcheviques-leninistas entraram um bom número de elementos anarquizantes e individualistas, geralmente incapazes de respeitarem a disciplina organizativa; também as vezes algum incompetente incapaz de fazer carreira no Comintern. Para estes elementos a luta contra o “burocratismo”consistia mais ou menos o seguinte: Jamais se devem tomar decisões; a “discussão” deve ser a ocupação permanente. Podemos dizer com toda a justificação que os bolcheviques-leninistas foram muito pacientes (talvez até excessivamente pacientes) com tais indivíduos e grupúsculos. Quando conseguimos consolidar um núcleo internacional que ajudava às seções nacionais a purgar de suas fileiras a sabotagem interna, somente então a nossa organização internacional começou a crescer sistematicamente.
            Vejamos alguns exemplos de grupos que romperam com nossa organização internacional em determinadas etapas de seu desenvolvimento.
            O periódico francês Que Faire? (Que Fazer?) é um exemplo ilustrativo da combinação de sectarismo com ecletismo(3). Com respeito aos problemas mais importantes, este periódico difunde as posições dos bolcheviques-leninistas, trocando um par de vírgulas e criticando-nos severamente. Ao mesmo tempo, com o pretexto da discussão e da “defesa da URSS”, permite que prossiga com impunidade uma defesa do lixo social-patriota. Os próprios internacionalistas do Que Faire? São incapazes de explicar como e por que coexistem pacificamente  com os social-patriotas depois de romper com os bolcheviques. Porém resulta claro que, com semelhante ecletismo, Que Faire? É o menos capaz de responder a esta pergunta: o que fazer? (que faire?).
            Os “internacionalistas” e os social-patriotas estão de acordo em relação a uma questão: abaixo a Quarta Internacional! Por quê? Porque não se deve “romper” com os operários comunistas. O SAP utiliza o mesmo argumento: não romper com os operários social-democratas. É um novo exemplo de antípodas que acabam sendo gêmeos. O curioso é que Que Faire? não está (e por sua própria natureza não pode estar) ligado a nenhum operário.
            É  menos o que podemos dizer sobre os grupos Internacionale ou Proletaire(4).  Também recolhem suas posições de La Verité e lhe acrescentam algumas improvisações criticas. Não tem a menor perspectiva de crescimento revolucionário, porém acertam-se para subsistir mesmo sem perspectivas. Em vez de tentar aprender dentro de uma organização mais séria (aprender é difícil), estes pretensiosos “dirigentes” que odeiam a disciplina querem ensinar a classe operária (o qual lhes parece mais fácil). Quando refletem seriamente, eles próprios devem compreender que sua mera existência como organizações “independentes” é apenas um mal entendido e nada mais.
            Nos Estados Unidos poderíamos mencionar o grupo de Field e de Weisbord(5)  Por toda sua fisionomia política, Field é um radical burguês que adotou as posições econômicas do marxismo. Para ser um revolucionário, Field deveria haver militado durante alguns anos como soldado disciplinado de uma organização proletária revolucionária; porém resolveu criar “seu próprio” movimento operário. Tomando uma posição à nossa esquerda (aonde mais, não é mesmo?) Field estabeleceu posições fraternais com o SAP. Como vemos, o acidente que sofreu Bauer não foi casual em absoluto. A ânsia de situar-se à esquerda do marxismo conduz inevitavelmente ao pântano centrista.
            Indubitavelmente, Weissborg aproxima-se mais que Field do tipo do revolucionário. Porém, ao mesmo tempo, é o mais puro exemplo do sectário. É absolutamente incapaz de manter as proporções, seja nas ideias ou na ação. Converte todos princípios em caricaturas sectárias. Por isso, em suas mãos até as ideias justas convertem-se em instrumentos para desorganizar suas próprias fileiras.
            Não é necessário que nos estendamos sobre grupos similares de outros países. Não se afastam de nós porque somos intolerantes ou intoleráveis, mas sim porque não quiseram nem puderam avançar. A partir de sua cisão e de sua defecção somente conseguiram demostrar sua impotência. Não houve uma só instância em que suas tentativas de unificar-se em escala nacional ou internacional produzissem resultados positivos: a característica do sectarismo é o poder da repulsão, e não o da atração. 
            Certo indivíduo excêntrico calculou a quantidade de “cisões” que tivemos e somou umas vinte. Para ele isso era uma prova incontestável do caráter de nosso regime. O irônico é que o próprio SAP, que publicou estas estatísticas com alarde triunfalista, em poucos anos de existência sofreu mais cisões do que todas as nossas seções juntas. Tomado de forma isolada, este fato não significa nada. O importante não são as estatísticas sobre as cisões, mas sim a dialética de seu desenvolvimento.  Apesar de todas as suas cisões, o SAP é uma organização extremamente heterogênea que será incapaz de resistir ao primeiro ataque, como consequência dos grandes acontecimentos. O mesmo fenômeno, ainda que em maior medida, é típico do “Burô de Londres para  a Unidade Socialista Revolucionária”, dilacerado internamente por contradições irreconciliáveis: no seu futuro não há “unidade” alguma, somente rupturas. Enquanto isso, a organização dos bolcheviques-leninistas, depois de depurar-se das tendências sectárias e centristas, não somente engrossou suas fileiras e fortaleceu seus vínculos internacionais, assim como fundiu-se com organizações de espirito afim (Holanda, Estados Unidos). As tentativas de destruir o partido holandês (desde a direita, através de Molenaar!) e ao partido norte-americano ( desde a esquerda, através de Bauer!) somente serviram para consolidar internamente estes dois partidos. Podemos prognosticar com segurança que, paralelamente com a desintegração do Buro de Londres, as organizações da Quarta Internacional crescerão ainda mais fortemente.
            Ninguém pode prognosticar hoje como se formará a nova Internacional, por quais etapas atravessará e qual será seu destino final. Porém não é necessário faze-lo: os acontecimentos históricos nos mostrarão. No entanto, é necessário iniciar proclamando um programa adequado às tarefas de nossa época. Sobre a base desse programa devemos mobilizar nossos correligionários, os pioneiros da nova Internacional. Não há outro caminho.
            O Manifesto Comunista de Marx e Engels, dirigido contra o socialismo utópico-sectário em todas as suas variantes, assinala energicamente que os comunistas não se opõem às mobilizações reais da classe operária, pelo contrário: eles participam como vanguarda das mesmas. O Manifesto era por sua vez o programa de um partido novo, nacional e internacionalmente. Para o sectário, o programa é uma receita de salvação. O centrista guia-se pela famosa formula (no fundo, carente de significado) de Eduard Berstein: “O movimento é tudo; o objetivo final...nada”.(7)  O marxista toma o seu programa científico do movimento em seu conjunto, para aplica-lo depois em cada etapa concreta do movimento.    
            Os primeiros passos da nova Internacional vem-se dificultados, por um lado, pelas velhas organizações e por outros grupúsculos divisionistas, e por outro, se vem facilitados pela colossal experiência do passado. O processo de cristalização, que nas primeiras etapas é sumamente difícil e sacrificado, adquirirá um ritmo veloz e impetuoso no futuro. Os últimos acontecimentos internacionais possuem uma importância enorme para a formação da vanguarda revolucionária. De uma certa maneira, Mussolini “auxiliou” a causa da Quarta Internacional: os grandes conflitos varrem com tudo que é indefinido e artificial e, por outra parte, fortalecem tudo o que é viável. Em uma guerra somente duas tendências tem lugar para o movimento operário: o socialpatriotismo, capaz de qualquer traição, e o internacionalismo revolucionário, audaz e disposto a continuar até o fim. Precisamente por isso os centristas, atemorizados pelos acontecimentos que se avizinham, livram uma luta raivosa contra a Quarta Internacional. De sua maneira eles tem razão: as únicas organizações que sobreviverão às grandes convulsões e que seguirão desenvolvendo-se, serão as que tenham purgado suas fileiras do sectarismo e as educarem sistematicamente no espirito do desprezo pela vacilação e pela covardia ideológica.



(1)   O texto Sectarismo, Centrismo e a Quarta Internacional foi editado originalmente no jornal New Militant em 4 de janeiro de 1936.
(2)   A famosa expressão de Stalin no “Terceiro Periodo” dizia que a social-democracia e o fascismo não eram antípodas (opostos) mas sim gêmeos.
(3)   Trotsky equivoca-se com respeito às origens de Que Faire? Originou-se em 1934 como um pequeno grupo centrista dentro do PC francês, que publicava um boletim com esse nome e reivindicava a frente única com a SFIO (Section Française de l'Internationale Ouvrière, partido socialista fruto da fusão do Partido Socialista Francês com o Partido Socialista da França). Em seguida, alguns ex-trotskistas como Pierre e Kurt Landau uniram-se ao grupo. Seus dirigentes principais, como André Ferrat e Georges Kagan foram expulsos do PCF em 1936. Que Faire? Converteu-se em uma revista e seguiu aparecendo até 1939. A maioria de seus membros uniram-se a tendência Bataille Socialiste da SFIO em 1938, e apoiaram a unidade orgânica.
(4)   L'Internacionale: periódico da Union Communiste, pequeno grupo criado em 1933 depois da cisão do PC francês em 1931. O Proletaire d'Avant-Gard era o boletim de um pequeno grupo que rompeu com a seção francesa e ingressou na SFIO em 1934.
(5)   B. J. Field: expulso da CLI por violar a disciplina partidária em 1934. Organizou a Liga por um Partido Operário Revolucionário, que desapareceu pouco depois. Albert Weisbord (nasceu em 1900), expulso do PC norte-americano em 1929, organizou um pequeno grupo, a Liga de Combate Socialista, que aderiu nos princípios da década de trinta, ainda que sua política oscilava entre as posições de direita e de esquerda. Rompeu com o marxismo e depois foi dirigente da AFL (a central operária dos EUA).
(6)   Jan Molennar: ex dirigente da juventude da OSP, era membro do Buro partidário do RSAP e dirigente de sua organização juvenil unificada, a RSJV (Liga Juvenil Socialista Revolucionária). Em outubro de 1935 provocou uma cisão na RSJV porque se opôs a que se aderi-se a Carta Aberta Pela Quarta Internacional. A cisão estendeu-se ao RSAP. Molenar morreu em um campo de concentração nazista durante a guerra.

(7)   Eduard Bernstein (1850-1932): principal teórico do revisionismo na social-democracia alemã. Sustentava que o marxismo havia deixado de ser valido e devia ser “revisado”; o socialismo (para Bernstein) não seria produto da luta de classes e da revolução, mas sim da reforma gradual do capitalismo por vias parlamentares. Defendia a colaboração de classes.