O
GOVERNO, A BURGUESIA E SEUS CANDIDATOS PREPARAM UM "TARIFAÇO" PARA DEPOIS
DAS ELEIÇÕES!
David Lúcius
Nos próximos dias vão se realizar uma das eleições
mais disputadas e complexas da história de nosso país. Com certeza essas
eleições marcarão modificações profundas em todo o panorama político,
independente de qual partido ou grupo político saia vitorioso. A grande
burguesia e os principais setores do capital estão diante de um impasse em que
os três principais candidatos são o centro da disputa. Todos os três principais
candidatos têm financiamento e ligações profundas com o grande capital. Temos
que analisar e tirar conclusões sobre o que se modifica com essas eleições no atual
quadro político e o que isso afetará na vida da maioria da população daqui para
a frente.
Para
podermos ter uma melhor compreensão do processo eleitoral iremos analisar as
modificações que ocorreram na conjuntura política e econômica do país e suas
inevitáveis consequências:
1 - O
desenvolvimento da crise econômica internacional, uma crise histórica que está
colocando diante das massas o dilema do próprio esgotamento do capitalismo como
modo de produção e como sistema econômico mundial. Essa crise, iniciada na
década passada, se aprofundou em nosso continente e particularmente em nosso
país, de forma constante e profunda, afetando praticamente todos os principais
setores da economia, levando-a para um quadro de recessão, de aumento da
inflação e do desemprego, atingindo, direta ou indiretamente, toda uma grande
parcela da população, que formal ou informalmente (no Brasil, apenas cerca de
um pouco mais da metade da população economicamente ativa tem um trabalho
formal, registrado, com os devidos direitos trabalhistas) tenta trabalhar ou
procura um emprego. A crise econômica é um fator determinante para todas
classes sociais que lutam por seus interesses imediatos, e que procuram uma
saída política para o impasse econômico que os afeta. O movimento centrífugo
dessa crise contamina, de forma gradual, todas as regiões, camadas e grupos
sociais, sendo o principal foco da atual instabilidade política. A crise
econômica atual afeta todas as classes sociais (de modo desigual) levando a
luta econômica paulatinamente para a esfera política. Esta é a base na qual
desenvolve-se o desgaste do PT, do governo e de todo o regime político perante
as massas, assim como é a base de todo impasse da burguesia diante do atual
cenário político. Diante da crise, o PT reiteradamente tentou ocultar a
realidade diante da população, modificando e adaptando sempre o seu discurso
(“a crise não passa de uma marolinha”; “a economia apenas atravessa uma fase de
desaceleração” “o Brasil não está em recessão” etc, etc) com a clara intenção de
ocultar a realidade às massas. O PT e seus governos procuram, mais cedo ou mais
tarde, sempre descarregar o ônus da crise nas costas da classe trabalhadora
enquanto cedem com a outra mão subsídios e isenções fiscais ao grande capital e
seus representantes nacionais e estrangeiros.
2 - As
Jornadas de Junho, que a partir do ano passado, contaminaram o espírito de luta
da juventude e de uma importante parcela dos trabalhadores e da classe média,
questionando o regime político como um todo, seus partidos políticos (que
participam direta ou indiretamente na sustentação desse regime) e
particularmente o PT, que há mais de uma década detêm as rédeas do Estado além
de ser a peça de central de sustentação de todo esse processo político. O processo
de luta aberto com as Jornadas de Junho não foi fechado ainda. Os efeitos da crise
econômica sobre os ombros da maioria da população deve, no próximo período, ter
como ponto de partida as lutas iniciadas nas Jornadas de Junho. A disseminação
dessa disposição de luta da juventude para a classe trabalhadora já contamina a
realidade da luta de classes.
3 - As
greves e protestos sociais, que logo se espalharam pelas diversas categorias de
trabalhadores e de vários setores da população, mostrando que o ascenso das
lutas que se iniciara na juventude, em junho do ano passado, já contagiava profundamente
a classe trabalhadora como um todo e
demonstrava que a burocracia sindical, elo de ligação do PT com a classe
trabalhadora, estava visivelmente sofrendo uma pressão e, até mesmo, um acentuado
desgaste perante uma parcela importante dos trabalhadores. O ascenso das greves e lutas sociais começou
antes das Jornadas de Junho, mas tomou impulso a partir do ano passado e
continuou em diversas categorias e setores sociais como um indicador de que a
classe trabalhadora esta se preparando para lutas de maior envergadura que se
aproximam;
4 - O PT
sofreu durante todo esse período uma enorme sangria política perante as massas
com sua pratica continuada de corrupção, favorecimento dos grandes grupos
capitalistas, nacionais e imperialistas (como por exemplo com a venda de
setores do Pré-Sal) e aliança com os setores mais reacionários, fisiológicos e
oligárquicos da política nacional. A burguesia nacional e imperialista alia-se
ao PT ou a outros grupos políticos dependendo de seus interesses específicos,
do ponto de vista de classe não há diferença para os trabalhadores entre o PT e
os outros patronais, se formal e aparentemente o PT ainda tenta manter sua
fisionomia de um partido de esquerda, na luta de classes ele toma claramente o
lado do grande capital. Uma grande parcela dos trabalhadores ainda se mantém
alinhado ao PT, o próximo período, período de aprofundamento da crise
econômica, deve marcar políticas econômicas ainda mais duras do PT contra as
massas e favoráveis ao capital. Esse período deve demarcar e ampliar o divórcio
entre as massas e o Partido dos Trabalhadores.
O quadro
de conjunto é de uma das maiores crises das duas últimas décadas e a qual será
o cenário de uma eleição para presidente e demais cargos que ocorrerá nos
próximos dias. Ganhe quem ganhar, assumirá o poder em uma intensa instabilidade
política e econômica, com o acirramento da luta de classes, a politização de
amplas camadas da população, o ascenso das lutas na juventude e na classe
trabalhadora e em outros setores por reivindicações imediatas em um quadro de
recessão em que os três principais candidatos estão comprometidos, antes de
mais nada, em defender os interesses da grande burguesia e de seus aliados.
Todo esse cenário aponta para um acirramento da luta de classes e para grandes
conflitos para o próximo período, após as eleições.
Toda formulação de Marina
como terceira via (ou segunda), ou seja, como uma candidata que pode fazer uma
ponte do PT com o PSDB não foi construída por acaso. A própria candidatura de
Marina foi construída a partir de uma ex-trabalhadora rural que foi senadora, e
quadro político do PT (onde fez “escola” e aprendeu que poderia se aliar com os
setores mais reacionários para tentar conseguir atingir seus interesses
imediatos, projetando-se para fora do PT como uma liderança “carismática” dessa
“nova política”), onde fez parte do grupo do setor mais a direita do partido
(junto com Jose´Genuíno e Tarso Genro entre outros), onde já era desenvolvida a
teoria de que a luta de classes era coisa do passado (Fukuyama em doses
homeopáticas para ex-socialistas) e que era possível um governo de “coalizão”
com setores mais à direita. O próprio Lula defendeu essas ideias na época do
fim do governo Itamar (chamando o próprio FHC para ser seu vice em uma
candidatura a presidente, o que, é obvio, ele recusou). Não é coincidência que
essas ideias tenham se formado dentro do próprio PT, mas sim sua continuidade
lógica, que devido às contradições inerentes ao próprio processo político ela
não frutificou de forma cabal (de forma parcial a vários exemplos como a
aliança feita pelo PSDB e o PT em Minas Gerais no passado recente), mas sim de
forma parcial (alianças com o PMDB e outras variantes burguesas). Marina acabou
levando as ideias de sua antiga corrente política para sua consequência lógica,
ou seja: já que o PT alia-se a todos os setores da direita, Marina propõe um
governo de coalizão com os “melhores elementos” (logicamente que do ponto de
vista exclusivamente burguês) para conseguir impor um “choque de gestão” (um
governo em que as medidas políticas econômicas burguesas sejam feitas de forma
direta e não em doses homeopáticas), com a consequente independência do Banco
Central, primeiro passo para o aumento da taxa de juros, aumento de inflação,
desvalorização do real frente ao dólar e aumento do desemprego (tudo que já
vemos no horizonte econômico, só que de forma concentrada).
O PT por seu lado, também
indica que em seu novo mandato fará modificações profundas em sua política
econômica. Mantega não continuará a frente da política econômica e não precisa
ser um gênio para prognosticar que isso indica a mesma linha proposta por
Marina, Aécio e a burguesia. Além de todos os itens descritos no parágrafo
anterior não podemos nos esquecer do aumento da energia elétrica e dos combustíveis,
verdadeira cereja do bolo para o mercado financeiro.
De
qualquer forma, todos esses três candidatos expressam, do ponto de vista de
classe, em maior ou menor grau, com um apoio mais intenso ou menos intenso, os
interesses de setores fundamentais da burguesia. O fato de não haver uma
convergência dos principais setores da burguesia em uma única candidatura
expressa suas contradições internas, inerentes a seus interesses políticos e
econômicos e que se acirram em etapas de crise, como a que estamos
atravessando, e tenderão a se acirrar cada vez mais, mesmo após as eleições. A
burguesia vêem as eleições como um grande negócio e colocarão suas fichas (ou
seu dinheiro) nos seus principais candidatos, de acordo com a possibilidade que
cada um demonstre em executar (após as eleições) a sua política econômica, para
garantir seus gigantescos lucros em uma época de crise e recessão econômica. Se
em momentos de vacas gordas a burguesia não descuida de forma alguma de seus
interesses, não há dúvidas que em períodos de vacas magras a atenção e o
cuidado com seus interesses ficam redobrados, assim como um indivíduo normal
redobra sua energia na manutenção de sua existência quando sua vida é colocada
diante de algum risco eminente.
Todos os três principais
candidatos convergem para, depois das eleições, aplicar um grande ajuste ou “tarifaço”
em que se aumentará o preço do petróleo e derivados (gasolina), da energia
elétrica, desvalorização do real frente ao dólar (para favorecer o setor
exportador da indústria, do comércio e mesmo do agronegócio), que acarretará em
um aumento ainda maior da inflação (que não é expresso de forma real pelos
índices oficiais em toda sua amplitude, mas de forma parcial e deformada, tendo
como consequência imediata uma grande defasagem salarial nas grandes cidades,
onde o processo inflacionário é mais forte e onde se concentra grande parte dos
assalariados), sem contar na imediata consequência de aumento da recessão e do
desemprego (que até mesmo os índices oficiais já começam a transparecer).
O “tarifaço” está sendo organizado
para ser lançado após as eleições. Alguns setores econômicos já começam
pontualmente a antecipar esse tarifaço: setores da energia elétrica que são
atendidas pela empresa Elektro foram autorizados pela Aneel a aumentar em média
37% as contas de luz, isso já dá uma vaga ideia do futuro cinzento que espera a
maioria da população após as eleições: aumentos de tarifas compatíveis com a
hiperinflação, enquanto os salários (quando são reajustados) recebem pelos
parcos índices do IBGE.
Nesse contexto um encontro dos
setores combativos da classe trabalhadora, dos movimentos sociais e da esquerda
seria importante nesse momento para traçar uma perspectiva de enfrentamento
para organizar os trabalhadores para os próximos desafios. Vivemos a antevéspera de
grandes lutas. O que se iniciou como um grande movimento de massas pode tomar
contornos maiores e inesperados, tudo depende da resistência que as massas
derem aos próximos golpes da burguesia. Se por um lado ainda não houveram grandes vitórias nas lutas do último período, também não houveram grandes
derrotas. É aí que temos que focar toda nossa análise e nossa atenção. Por
isso, a esquerda combativa e os trabalhadores deveríamos concentrar nossos
esforços em unificar e organizar essas lutas para o próximo período, afinal as
derradeiras lutas ainda estão por vir e com certeza virão...