quinta-feira, 2 de outubro de 2014

DILMA, MARINA E AÉCIO:


                                                                     

                  

          O GOVERNO, A BURGUESIA E SEUS CANDIDATOS PREPARAM UM "TARIFAÇO" PARA DEPOIS DAS ELEIÇÕES!

            David Lúcius
           
         Nos próximos dias vão se realizar uma das eleições mais disputadas e complexas da história de nosso país. Com certeza essas eleições marcarão modificações profundas em todo o panorama político, independente de qual partido ou grupo político saia vitorioso. A grande burguesia e os principais setores do capital estão diante de um impasse em que os três principais candidatos são o centro da disputa. Todos os três principais candidatos têm financiamento e ligações profundas com o grande capital. Temos que analisar e tirar conclusões sobre o que se modifica com essas eleições no atual quadro político e o que isso afetará na vida da maioria da população daqui para a frente.
            Para podermos ter uma melhor compreensão do processo eleitoral iremos analisar as modificações que ocorreram na conjuntura política e econômica do país e suas inevitáveis consequências:
            1 - O desenvolvimento da crise econômica internacional, uma crise histórica que está colocando diante das massas o dilema do próprio esgotamento do capitalismo como modo de produção e como sistema econômico mundial. Essa crise, iniciada na década passada, se aprofundou em nosso continente e particularmente em nosso país, de forma constante e profunda, afetando praticamente todos os principais setores da economia, levando-a para um quadro de recessão, de aumento da inflação e do desemprego, atingindo, direta ou indiretamente, toda uma grande parcela da população, que formal ou informalmente (no Brasil, apenas cerca de um pouco mais da metade da população economicamente ativa tem um trabalho formal, registrado, com os devidos direitos trabalhistas) tenta trabalhar ou procura um emprego. A crise econômica é um fator determinante para todas classes sociais que lutam por seus interesses imediatos, e que procuram uma saída política para o impasse econômico que os afeta. O movimento centrífugo dessa crise contamina, de forma gradual, todas as regiões, camadas e grupos sociais, sendo o principal foco da atual instabilidade política. A crise econômica atual afeta todas as classes sociais (de modo desigual) levando a luta econômica paulatinamente para a esfera política. Esta é a base na qual desenvolve-se o desgaste do PT, do governo e de todo o regime político perante as massas, assim como é a base de todo impasse da burguesia diante do atual cenário político. Diante da crise, o PT reiteradamente tentou ocultar a realidade diante da população, modificando e adaptando sempre o seu discurso (“a crise não passa de uma marolinha”; “a economia apenas atravessa uma fase de desaceleração” “o Brasil não está em recessão” etc, etc) com a clara intenção de ocultar a realidade às massas. O PT e seus governos procuram, mais cedo ou mais tarde, sempre descarregar o ônus da crise nas costas da classe trabalhadora enquanto cedem com a outra mão subsídios e isenções fiscais ao grande capital e seus representantes nacionais e estrangeiros.
            2 - As Jornadas de Junho, que a partir do ano passado, contaminaram o espírito de luta da juventude e de uma importante parcela dos trabalhadores e da classe média, questionando o regime político como um todo, seus partidos políticos (que participam direta ou indiretamente na sustentação desse regime) e particularmente o PT, que há mais de uma década detêm as rédeas do Estado além de ser a peça de central de sustentação de todo esse processo político. O processo de luta aberto com as Jornadas de Junho não foi fechado ainda. Os efeitos da crise econômica sobre os ombros da maioria da população deve, no próximo período, ter como ponto de partida as lutas iniciadas nas Jornadas de Junho. A disseminação dessa disposição de luta da juventude para a classe trabalhadora já contamina a realidade da luta de classes.   
            3 - As greves e protestos sociais, que logo se espalharam pelas diversas categorias de trabalhadores e de vários setores da população, mostrando que o ascenso das lutas que se iniciara na juventude, em junho do ano passado, já contagiava profundamente a classe trabalhadora como um todo e  demonstrava que a burocracia sindical, elo de ligação do PT com a classe trabalhadora, estava visivelmente sofrendo uma pressão e, até mesmo, um acentuado desgaste perante uma parcela importante dos trabalhadores.  O ascenso das greves e lutas sociais começou antes das Jornadas de Junho, mas tomou impulso a partir do ano passado e continuou em diversas categorias e setores sociais como um indicador de que a classe trabalhadora esta se preparando para lutas de maior envergadura que se aproximam;
            4 - O PT sofreu durante todo esse período uma enorme sangria política perante as massas com sua pratica continuada de corrupção, favorecimento dos grandes grupos capitalistas, nacionais e imperialistas (como por exemplo com a venda de setores do Pré-Sal) e aliança com os setores mais reacionários, fisiológicos e oligárquicos da política nacional. A burguesia nacional e imperialista alia-se ao PT ou a outros grupos políticos dependendo de seus interesses específicos, do ponto de vista de classe não há diferença para os trabalhadores entre o PT e os outros patronais, se formal e aparentemente o PT ainda tenta manter sua fisionomia de um partido de esquerda, na luta de classes ele toma claramente o lado do grande capital. Uma grande parcela dos trabalhadores ainda se mantém alinhado ao PT, o próximo período, período de aprofundamento da crise econômica, deve marcar políticas econômicas ainda mais duras do PT contra as massas e favoráveis ao capital. Esse período deve demarcar e ampliar o divórcio entre as massas e o Partido dos Trabalhadores.
            O quadro de conjunto é de uma das maiores crises das duas últimas décadas e a qual será o cenário de uma eleição para presidente e demais cargos que ocorrerá nos próximos dias. Ganhe quem ganhar, assumirá o poder em uma intensa instabilidade política e econômica, com o acirramento da luta de classes, a politização de amplas camadas da população, o ascenso das lutas na juventude e na classe trabalhadora e em outros setores por reivindicações imediatas em um quadro de recessão em que os três principais candidatos estão comprometidos, antes de mais nada, em defender os interesses da grande burguesia e de seus aliados. Todo esse cenário aponta para um acirramento da luta de classes e para grandes conflitos para o próximo período, após as eleições.
Toda formulação de Marina como terceira via (ou segunda), ou seja, como uma candidata que pode fazer uma ponte do PT com o PSDB não foi construída por acaso. A própria candidatura de Marina foi construída a partir de uma ex-trabalhadora rural que foi senadora, e quadro político do PT (onde fez “escola” e aprendeu que poderia se aliar com os setores mais reacionários para tentar conseguir atingir seus interesses imediatos, projetando-se para fora do PT como uma liderança “carismática” dessa “nova política”), onde fez parte do grupo do setor mais a direita do partido (junto com Jose´Genuíno e Tarso Genro entre outros), onde já era desenvolvida a teoria de que a luta de classes era coisa do passado (Fukuyama em doses homeopáticas para ex-socialistas) e que era possível um governo de “coalizão” com setores mais à direita. O próprio Lula defendeu essas ideias na época do fim do governo Itamar (chamando o próprio FHC para ser seu vice em uma candidatura a presidente, o que, é obvio, ele recusou). Não é coincidência que essas ideias tenham se formado dentro do próprio PT, mas sim sua continuidade lógica, que devido às contradições inerentes ao próprio processo político ela não frutificou de forma cabal (de forma parcial a vários exemplos como a aliança feita pelo PSDB e o PT em Minas Gerais no passado recente), mas sim de forma parcial (alianças com o PMDB e outras variantes burguesas). Marina acabou levando as ideias de sua antiga corrente política para sua consequência lógica, ou seja: já que o PT alia-se a todos os setores da direita, Marina propõe um governo de coalizão com os “melhores elementos” (logicamente que do ponto de vista exclusivamente burguês) para conseguir impor um “choque de gestão” (um governo em que as medidas políticas econômicas burguesas sejam feitas de forma direta e não em doses homeopáticas), com a consequente independência do Banco Central, primeiro passo para o aumento da taxa de juros, aumento de inflação, desvalorização do real frente ao dólar e aumento do desemprego (tudo que já vemos no horizonte econômico, só que de forma concentrada).
O PT por seu lado, também indica que em seu novo mandato fará modificações profundas em sua política econômica. Mantega não continuará a frente da política econômica e não precisa ser um gênio para prognosticar que isso indica a mesma linha proposta por Marina, Aécio e a burguesia. Além de todos os itens descritos no parágrafo anterior não podemos nos esquecer do aumento da energia elétrica e dos combustíveis, verdadeira cereja do bolo para o mercado financeiro.
            De qualquer forma, todos esses três candidatos expressam, do ponto de vista de classe, em maior ou menor grau, com um apoio mais intenso ou menos intenso, os interesses de setores fundamentais da burguesia. O fato de não haver uma convergência dos principais setores da burguesia em uma única candidatura expressa suas contradições internas, inerentes a seus interesses políticos e econômicos e que se acirram em etapas de crise, como a que estamos atravessando, e tenderão a se acirrar cada vez mais, mesmo após as eleições. A burguesia vêem as eleições como um grande negócio e colocarão suas fichas (ou seu dinheiro) nos seus principais candidatos, de acordo com a possibilidade que cada um demonstre em executar (após as eleições) a sua política econômica, para garantir seus gigantescos lucros em uma época de crise e recessão econômica. Se em momentos de vacas gordas a burguesia não descuida de forma alguma de seus interesses, não há dúvidas que em períodos de vacas magras a atenção e o cuidado com seus interesses ficam redobrados, assim como um indivíduo normal redobra sua energia na manutenção de sua existência quando sua vida é colocada diante de algum risco eminente.
Todos os três principais candidatos convergem para, depois das eleições, aplicar um grande ajuste ou “tarifaço” em que se aumentará o preço do petróleo e derivados (gasolina), da energia elétrica, desvalorização do real frente ao dólar (para favorecer o setor exportador da indústria, do comércio e mesmo do agronegócio), que acarretará em um aumento ainda maior da inflação (que não é expresso de forma real pelos índices oficiais em toda sua amplitude, mas de forma parcial e deformada, tendo como consequência imediata uma grande defasagem salarial nas grandes cidades, onde o processo inflacionário é mais forte e onde se concentra grande parte dos assalariados), sem contar na imediata consequência de aumento da recessão e do desemprego (que até mesmo os índices oficiais já começam a transparecer). 
            O “tarifaço” está sendo organizado para ser lançado após as eleições. Alguns setores econômicos já começam pontualmente a antecipar esse tarifaço: setores da energia elétrica que são atendidas pela empresa Elektro foram autorizados pela Aneel a aumentar em média 37% as contas de luz, isso já dá uma vaga ideia do futuro cinzento que espera a maioria da população após as eleições: aumentos de tarifas compatíveis com a hiperinflação, enquanto os salários (quando são reajustados) recebem pelos parcos índices do IBGE.   

            Nesse contexto um encontro dos setores combativos da classe trabalhadora, dos movimentos sociais e da esquerda seria importante nesse momento para traçar uma perspectiva de enfrentamento para organizar os trabalhadores para os próximos desafios. Vivemos a antevéspera de grandes lutas. O que se iniciou como um grande movimento de massas pode tomar contornos maiores e inesperados, tudo depende da resistência que as massas derem aos próximos golpes da burguesia. Se por um lado ainda não houveram grandes vitórias nas lutas do último período, também não houveram grandes derrotas. É aí que temos que focar toda nossa análise e nossa atenção. Por isso, a esquerda combativa e os trabalhadores deveríamos concentrar nossos esforços em unificar e organizar essas lutas para o próximo período, afinal as derradeiras lutas ainda estão por vir e com certeza virão...