terça-feira, 30 de dezembro de 2014
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
UMA GUINADA NO CURSO DA CRISE MUNDIAL
Jorge Altamira
Ainda que vários
comentaristas vejam na queda dos preços internacionais do petróleo a
oportunidade para uma reativação da economia mundial, o certo é que se anuncia
um período catastrófico para numerosos países que estão sobrevivendo à crise
graças ao elevado lucro da extração mineral. Entre princípios do século e uma
data recente, o barril de petróleo havia subido de 10 a 150 dólares – com uma
recaída muito forte em 2009, até uma cotação média de 100 dólares antes da
queda a 75 dólares. Agora, o declínio, em poucas semanas, tem sido superior, em
alguns casos, a 25%. Com a exceção dos EUA, as trocas nos preços internacionais
não repercutem nos preços internos e são, portanto, inócuos para reativar o consumo
final. Ocorre que a maior parte dos governos necessitam dos impostos aos
combustíveis para fazer frente ao pagamento da dívida pública e ao resgate dos
bancos. Enquanto o preço atual continua elevado em qualquer comparação, seu
impacto negativo sobre a taxa de lucro das companhias petroleiras é muito forte
devido ao aumento dos custos que acompanhou a elevação dos preços, seja por uma
distribuição da renda entre todos os setores que intervêm na produção (serviços
tecnológicos), seja pela incorporação de jazidas que exigem processos mais
caros, seja pelo incremento dos investimentos. A queda do preço do petróleo
replica a de todas as matérias primas de minerais metalúrgicos e alimentos.
Esta guinada modifica o curso da crise mundial porque bate em cheio na
periferia, no mesmo momento em que se faz mais aguda na Europa e Japão. A
princípio, esta tendência conecta a crise mundial atual com a dos anos 30 do
século passado, a qual se caracterizou, de entrada, por uma forte crise agrária
e o colapso do comércio exterior dos países de menos desenvolvimento.
A queda do preço
internacional do petróleo é atribuída a diversos fatores: uma queda da demanda
da China e Europa, um forte aumento da produção de combustíveis não
convencionais nos EUA e até uma recuperação da produção na Líbia e no Iraque. A
crise de superprodução na China é decisiva, porque a presença econômica da
China é um fator fundamental na expansão do mercado mundial. A China se
encontra, além disso, às vésperas de uma explosão financeira. De outro lado, o
elevadíssimo lucro do setor petroleiro havia aberto espaço para a produção
custosa de gás e petróleo não convencionais nos EUA. No mercado norteamericano,
o preço do gás caiu no limite da rentabilidade. A diminuição do preço da
gasolina na bomba – o do gás para a indústria e a calefação – será ofuscado
pelo fechamento de depósitos, cuja produtividade é declinante. O boom dos combustíveis nos EUA foi
impulsionado pelas baixíssimas taxas de juros, que permitiram financiar
investimentos que para outras taxas seriam proibitivas. De algoz na luta do
petróleo, os EUA poderia converter-se em vítima, no caso de que se cumpra a
ânsia do banco central de aumentar os tipos de juros. Se isso não acontecer
pela pressão da indústria, se bloquearia o intento oficial de evitar
ordenadamente uma explosão financeira internacional.
Uma “guerra do petróleo”
Um fator essencial na
queda do lucro do setor petroleiro é, obviamente, a Arábia Saudita, a qual se
nega a restringir a oferta de combustíveis para deter a descida do preço, para
não beneficiar a seus competidores. Pode-se dizer que se estabeleceu um tipo de
guerra do petróleo entre EUA e Arábia Saudita, porque embora os
norte-americanos ainda não exportem, deixaram de importar. Os sauditas possuem lastro
para resistirem a uma guerra de preços, mas até certo ponto: apesar de
possuírem os custos mais baixos do mundo, o orçamento do Estado depende como
nunca das receitas do petróleo. Uma diminuição dos subsídios públicos
desestabilizaria a ordem política no agitadíssimo Oriente Médio.
As cadeias débeis
incandescentes desta crise são Brasil, Rússia e Venezuela. Os custos da
Petrobrás, e da PDVSA superam tranqüilamente os preços atuais do petróleo;
nestes níveis, ambas empresas são inviáveis. O problema é que, além disso, existem
dívidas gigantescas e são fontes de financiamento de Estados com dívidas ainda
maiores. As ações da Petrobrás cotizam a metade de seu pico; os brasileiros
foram advertidos desta catástrofe com bastante antecedência, quando quebrou o
aventureiro nacional e popular do Brasil, Eike Batista. Na Rússia ocorre tudo
isto com o agravante de que várias companhias internacionais abandonaram sua
associação com companhias russas, no marco das sanções da OTAN pela crise da
Ucrânia. A oligarquia russa fez causa comum com o capital internacional e há
uma fuga de capitais da Rússia em grande escala; o rubro perdeu 30% do seu
valor em três meses. Tudo isto vale também para o Equador, ou Bolívia. A crise
brasileira afetará a toda sua vizinhança. Como foi dito antes, está despencando
todo o universo das commodities e
matérias primas.
A principal
repercussão, de uma aproximação da crise mundial em curso à dos anos 30, será
sobre o comércio mundial, porque reforçará as tendências para uma autarquia
econômica, e disto para uma crise do sistema monetário internacional. A
“ascensão” do partido republicano nos EUA possui uma relevância, neste
contexto, porque é o defensor da guerra comercial. E naturalmente da guerra
interna – e aí está o juízo de Ferguson...
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
DE ROUSSEF A YOUSSEFF, O PT NA LAMA
Osvaldo Coggiola
Dilma Rousseff começou seu segundo mandato (o quarto do seu
partido) depois de vencer o 2º turno com 51,6% dos votos. Nas eleições
presidenciais anteriores, no entanto, Lula havia obtido 61,3% e 60,8% (2002 e
2006) e a própria Dilma, 56% (2010), no 2º turno. No berço histórico do PT, o
ABC paulista, Dilma foi derrotada extraordinariamente. Depois da vitória de
Pirro há cerca de um mês atrás, sua primeira medida foi aumentar as taxas de
juros, para “acalmar os mercados”, isto é, aumentar a dívida pública. O capital
financeiro já tem uma taxa de lucro entre 40 e 50% maior que a média do país. A
segunda foi oferecer o ministério da Fazenda ao presidente do Bradesco (junto
com o Itaú, um dos maiores bancos do país), que rechaçou a oferta.
Simultaneamente o escândalo
de corrupção da maior empresa do país, a Petrobrás, chamado de Operação Lava Jato, adquiriu dimensões “fellineanas”.
O escândalo precedente, o mensalão (compra de votos parlamentares pelo
governo), havia sido definido como “o maior” e “o último”; o da Petrobrás supera,
com folga, ambos os títulos. Trata-se de esquema de propinas multimilionárias
para a concessão de contratos públicos. Encontram-se envolvidas as nove maiores
empresas construtoras do país (Camargo Correa, Engevix, Galvão, Mendes Júnior,
IESA, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC) que já possuem vários diretores
presos. Os beneficiários, diretores da empresa estatal, desviavam as propinas
para as contas dos “partidos” (eufemismo) da coalizão de governo (PT, PMDB, PP,
e algum outro da “base aliada”) e, claro, até suas próprias contas
(“comissões”). Não é necessário dizer que as propinas eram depositadas nas
contas (superfaturadas) das empresas: um esquema de saque multimilionário dos
cofres públicos.
Morgan Stanley calculou que as perdas da petrolífera devido
ao esquema seriam de R$ 21 bilhões (cerca de US$ 10 bilhões). Um dos
funcionários comprometidos, o já aposentado Pedro Barusco, ex Diretor de
Serviços, apresentou-se espontaneamente (sem ser citado!) à polícia,
comprometendo-se a devolver, de seu bolso, US$ 100 milhões (mas não os juros
produzidos por esse dinheiro nos últimos doze anos). Este é o partido e o
governo cuja vitória eleitoral os “progressistas” de toda a América Latina definiram
como “continuidade do processo de mudança” (troca de moeda nacional por dólares
em contas no exterior).
A “esquerda” (PT e “progressistas”) denuncia um golpe
judicial. A Petrobrás (cujo valor de mercado caiu de R$ 410 bilhões em 2011
para R$ 160 bilhões) é responsável por 10% da arrecadação de impostos do país:
o escândalo terá impacto nas contas públicas. As nove empresas (o “cartel”)
faturaram em 2013 “pelo menos” (ou seja, mais) R$ 33 bilhões com contratos
públicos, financiaram candidatos a deputados com R$ 721 milhões, e candidatos a
senadores com R$ 274 milhões (em 2010), e viva a democracia.
Por que o escândalo não explodiu abertamente durante a
campanha eleitoral, quando as investigações já estavam em curso, para
prejudicar a candidata do PT/PMDB? Primeiro, porque o juiz envolvido na causa
declarou que o “cartel” opera desde “pelo menos” (ou seja, mais) há 15 anos,
quando o governo (e Petrobrás) estavam nas mãos do partido opositor (PSDB), que
havia chegado ao segundo turno. O “propinoduto” é um “modelo de negócios”. O
intermediário do esquema (um tal Alberto Youssef, que também abriu a boca) já
havia estado preso em 2003 (e outras vezes) por crimes semelhantes e está
metido em outros escândalos menores que beneficiam, claro, o PSDB. Ou seja, mancomunaram-se
entre todos.
Os resultados das eleições recentes, portanto, merecem uma
segunda leitura: consagraram a um candidato da oposição (Aécio Neves), com 49%
dos votos, como suplente, em caso de crise institucional e de eleições
antecipadas, se o escândalo "pluripartidário" se impuser na situação
política.
A negativa do presidente do Bradesco em assumir como
ministro não é um caso isolado: o PMDB, partido do governo, propõe para
presidente da Câmara o seu deputado Eduardo Cunha, que apoiou abertamente ao
opositor Aécio Neves no segundo turno. Tarso Genro (atual governador petista em
fim de mandato do RS e ex-ministro da Justiça de Lula) interpreta esta proposta
como um passo para uma ruptura da aliança governamental. Desenvolve-se uma
crise política que pode levar ao impeachment
da Presidenta.
O déficit comercial e em conta corrente do país são os
piores dos 12 anos de “governo progressista”. O déficit das contas externas
alcançou 3,7% do PIB, um nível que não era alcançado desde 2001-2002 (crise
Argentina) que, naquele momento, mandou à lona ao governo de FHC. Furlán,
representante do agronegócio (e ex-ministro de Lula) propõe abertamente a saída
do Mercosul e a assinatura de acordos bilaterais com os EUA e a UE, o que
também propõe Celso Lafer, ideólogo “internacional” do PSDB. Vai se formando um
consenso. O PT busca adaptar-se, anunciando medidas de ajuste violentas (um
“sistema único do trabalho”, que libera as demissões e a flexibilização
trabalhista). Manipula as contas fiscais para assegurar o pagamento da dívida
externa, que está comprometido, em especial devido à dívida privada.
Como se encontra a esquerda nesta conjuntura? O PSOL, depois
de obter 1,6 milhão de votos no 1º turno (o dobro de 2010) rifou a votação
obtida com o apoio a Dilma (“entusiasta”) no 2 º turno. O PSTU, que fez uma
votação quase marginal (menos de 100 mil votos) só consegue propor, frente à
enorme crise: “Somente a luta pode garantir mudanças e evitar retrocessos”. Ou
seja, que houve “avanços” e que se deve seguir mudando.
Também “os movimentos” e, sobretudo, as ONG’s e fundações que
recebem fundos dos Estados e as corporações, limitam-se a criticar ao governo
por temas pontuais. Agora que a crise coloca-se pesada, denunciam “o golpismo”
e apoiam ao governo: assim já fizeram em junho de 2013, assim o fazem agora – e
denunciam a esquerda classista por “golpista”.
É necessário refundar a esquerda classista no Brasil.
Altamira con Sylvestre en Radio Del Plata:
https://soundcloud.com/partidoobrero/altamira-con-sylvestre-en-radio-del-plata-091214/
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