A crise política está levando o governo e todas as instituições do regime burguês a um poço sem fundo, turbinada por uma crise econômica sem precedentes. O índice de popularidade do governo Dilma caiu a 7,7%, com tendência cada vez mais decrescente.
O partido derrotado por uma pequena margem de votos no segundo turno de 2014 (PSDB) pôs sobre o tapete o impeachment da presidente, enquanto o principal aliado do PT na coalizão governamental, o PMDB (com as maiores bancadas parlamentares e o maior número de prefeitos) impulsiona a investigação dos numerosos casos de corrupção do governo petista, especialmente o petrolão.
Para neutralizá-lo, Dilma cedeu ao PMDB quase todos os cargos do "segundo escalão" do governo, sem conseguir quase nada e acenou ao presidente do Senado, Renan Calheiros, a incorporação ao seu programa de governo a infame Agenda Brasil, apresentada pelo mesmo, que se aprovada se tornará em pouco tempo em mais um combustível da crise, pois é uma verdadeira “pauta-bomba” contra a classe trabalhadora, o que inclui entre outros pontos nefastos, a aprovação do famigerado e repudiado PL 4330 da terceirização, já aprovado na Câmara Federal, o aumento da idade mínima para aposentadoria, revisão da regularização das terras indígenas, e arrocho salarial para os servidores públicos federais. Sem contar, que partiu do governo Dilma o “aterrorizante” PL 2016/15, que abre o precedente para criminalizar os movimentos sociais com até 30 anos de prisão. Deixando claro que os que gritam "pega ladrão!" são mais ladrões que os denunciados.
Contrariamente ao que afirma a “esquerda” (para defender o governo), não existe uma frente golpista unificada. Sem falar dos ultrapassados minoritários (mas muito ativos) que propõem uma intervenção militar, tanto o PSDB como o PMDB estão divididos até sobre os passos imediatos depois do impeachment da presidente.
Frente às acusações por sua corrupção, o governo levantou uma pontinha do tapete do vizinho, denunciando ao presidente da Câmara (Eduardo Cunha, PMDB) por atos similares. Cunha respondeu declarando sua ruptura com o governo e sua passagem à oposição, o que motivou que o PMDB imediatamente declarasse que se tratava de uma atitude pessoal. Nesse quadro, Obama interveio, dando-lhe uma ajudinha a Dilma em sua visita oficial aos Estados Unidos.
Enquanto o “ilibado” ex-presidente FHC, encorajado pelas manifestações do dia 16/08, que foram menores que as anteriores, passou a defender a renúncia da presidente Dilma, o Financial Times, principal órgão da comunidade dos negócios internacionais, defende a permanência da presidente, com o argumento de que “seria trocada uma mediocridade por outra, simplesmente.”
O governo Dilma-Levy impulsiona o mais brutal ajuste econômico já realizado no país. Os demitidos deste ano já se aproximam de 400 mil, e a cada mês se bate um novo recorde. Os salários dos servidores públicos federais estão congelados. A categoria desenvolve uma greve em campanha salarial nas universidades federais (que já dura três meses), no INSS, MTE e outros órgãos solicitando 27% de aumento linear e as reinvindicações específicas de cada setor, o governo ofereceu um miserável reajuste de 21,3% parcelado em quatro anos. Atacando o direito de greve, mais uma vez, o governo Dilma ordenou o desconto dos dias parados no INSS. Enquanto isso, novas isenções impositivas para o grande capital, anistia fiscal e penal para os que enviaram divisas ao exterior, novos aumentos das taxas de juros (as mais altas do mundo), corte de 70 bilhõesde reais (também recorde histórico) em gastos sociais. As agencias qualificadoras internacionais irão baixar igualmente os pontos de crédito do país, advertindo sobre uma fuga de capitais frente à possibilidade de descumprimento.
O PIB retrocederá (pelo menos) 2% este ano, e as novas projeções já indicam que este retrocesso se estenderá para 2016. A arrecadação fiscal caiu mais de 3%, com perspectiva de baixa. O ajuste, portanto, se está indo para o inferno, nem existe tampouco uma coalizão política sólida para implementá-lo.
A possibilidade objetiva e a urgência de uma
intervenção e de um programa operário independente para
que a crise seja paga pelos capitalistas supera de longe o
caráter defensivo das lutas atuais: somente os servidores
mantêm uma greve parcial pelo salário, com manifestações
convocadas para o dia 18/08. A crise galopante do PT é
uma evidência disso.
Em sua atual configuração política, a esquerda não
pode jogar um papel político independente. A "frente
popular" impulsionada pela esquerda petista e movimentista
reivindica um programa de reativação econômica capitalista
(que não mobiliza ninguém) e produz manifestos nos que
pede ao governo que chame ao povo às ruas para
combater aos golpistas. E o governo segue com o ajuste. E
a Frente Popular com seus manifestos virtuais. Os
manifestos são firmados, entre outros, pela CUT e o MST,
que não veem nenhum problema em criticar publicamente a
política do governo (não somente a econômica) e em
continuar integrados, com centenas de representantes,
nesse mesmo governo. Reivindicar a ruptura de todas as
organizações operárias e populares com o governo e o
Estado é o primeiro ponto de toda luta por uma saída
operária à crise.
Fora do PT e sua "área de influência", o PSOL, "um
balaio de gatos", atua de modo desnorteado ao sabor de
cada uma de suas numerosas tendências internas (o PSOL
é, na realidade, uma frente de tendências) provisoriamente
unificado na reivindicação de destituir a Eduardo Cunha da
presidência da Câmara, um apoio envergonhado ao
governo na perspectiva de algum êxito eleitoral nas
eleições municipais de 2016.
O PSTU ignora a crise política sob o ultrarradical
argumento de que "são todos o mesmo", salpicado por
alguma frase "contra a direita golpista". Nada propõe sobre
a ruptura de todas as organizações operárias com o
governo, pois a Conlutas se encontra em um duelo de
aparato de "disputa de base" com as centrais majoritárias.
O argumento eleitoreiro e a política de autoconstrução
estão deixando o PSTU, único partido de esquerda militante
no movimento operário, na marginalidade política e eleitoral
(menos de 0,1% nas duas últimas eleições gerais). A crise
econômica e política põe todas estas questões na
incandescência e promove um estado de deliberação
política operária, juvenil e popular, do que pode emergir um
reagrupamento revolucionário.
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TRIBUNA CLASSISTA