domingo, 31 de janeiro de 2016

O BRASIL EM CRISE: DEPRESSÃO, IMPEACHMENT E AJUSTE!

                                                
                             



 SOMENTE A INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DO TRABALHADORES PODE GARANTIR SUA VITÓRIA NAS PRÓXIMAS LUTAS!

                                                                             

                                               David Lucius
                                               Colaboração de Guilherme Giordano   


                    A CONJUNTURA POLÍTICA, ECONÔMICA E SUAS PERSPECTIVAS:



       A atual crise política e econômica, em seu conjunto, pode ser considerada uma das maiores que o Brasil já enfrentou nos últimos 70 anos, e talvez ao longo de toda sua história.

Pela sua extensão, intensidade, profundidade, assim como, por concatenar de forma direta uma enorme e avassaladora crise econômica com uma das maiores crises políticas já vivenciadas por nosso país, concluímos que estamos diante de uma crise impar, singular, sem precedentes e de grandes conseqüências, que deve alterar significativamente o curso do atual regime político, sendo que o seu desenvolvimento e o seu desfecho são, por enquanto, ainda totalmente imprevisíveis. 

Abre-se um profundo período de instabilidade em nosso país, com suas inúmeras variantes e possíveis desdobramentos, no qual não deve ser descartado, em nenhuma hipótese, um acirramento da atual crise, tanto como conseqüência dos setores e frações da burguesia que lutam entre si por seus interesses econômicos diretos e pelo controle do Estado, como em decorrência de um choque frontal entre o movimento de massas (que se desloca do eixo de gravitação do PT e da frente popular de colaboração de classes que governa o país) que estava parcialmente contido e represado, mas que agora inicia paulatinamente um processo de ruptura com o PT e seus satélites, isso de um lado, assim como o colapso de todo o regime político (e até mesmo de parcelas do próprio Estado), de outro.

A possibilidade de que essa crise se aprofunde e que, com a intervenção direta das massas, transforme-se em uma crise pré-revolucionária (ou até mesmo revolucionária!) não deve ser descartada para o próximo período. A possibilidade de que haja um ascenso das lutas populares e que, com isso, se amplifique com mais profundidade e intensidade a crise política e econômica, deve ser uma tendência no cenário dominante para todo o próximo período. Tudo dependerá da concatenação e do desenvolvimento ulterior desta crise, e principalmente, dos efeitos com que a crise mundial do capitalismo afetará, tanto o mercado mundial, como os demais países em seu conjunto, especialmente a América Latina, e de como tudo isso afetará o Brasil e como as diversas classes sociais reagirão ao desenvolvimento e aos efeitos desta crise. O Brasil passou, em poucos anos, de pais “blindado” contra a crise (na verdade, o governo ocultava e postergava os seus reflexos) para um dos países mais vulneráveis do mundo aos efeitos diretos da crise mundial, diante disso, o futuro de nosso país está indissoluvelmente ligado ao desenvolvimento da crise mundial. 

A probabilidade, mesmo que latente, de um grande ascenso e radicalização dos trabalhadores e das massas (diante da intensidade e profundidade da crise) coloca, em última análise, todo o regime político diante do dilema de qual deve ser a “intensidade” que o ajuste deverá ter sobre a grande maioria da população. Ajuste esse que a grande burguesia necessita aplicar para manter um dos negócios mais parasitários e lucrativos para o seu bolso: os altos juros que alimentam os títulos da dívida pública, e que só em 2015 subiram 21,7%, chegando ao patamar histórico de 2,79 trilhões! Chegando ao gasto de 367 bilhões somente com o pagamento de juros em 2015. Não se precisa de muita sapiência e nem de uma análise política e econômica muito profunda para chegarmos à conclusão de que o aumento exponencial da dívida pública, somado com o ajuste fiscal, e potencializado pelo aumento do desemprego e da profunda recessão atual levará o país para um grande vórtice econômico, político e social.

O “saneamento” das contas públicas é a prioridade para o grande capital que além da exploração do trabalho assalariado, vive também de forma parasitária em suas relações com Estado e, logicamente, dos juros pagos pelos títulos da dívida pública. Dai resulta o “ajuste de austeridade” que tanto o governo como a oposição burguesa discutem, para sanear as contas do Estado e garantir o pagamento aos grandes investidores.

Tanto os principais setores do capital nacional como do capital internacional (imperialista) tem um acordo sobre impor o ajuste sobre as costas da maioria da população. O Brasil possui uma das 10 maiores reservas internacionais do mundo (superior aos 350 bilhões de dólares), grande parte investidos nos títulos do tesouro norte-americano, um valor que é três vezes superior ao de países com França, Itália, Alemanha ou Inglaterra! Por acaso algum setor da burguesia ou de sua imprensa reivindica que uma parcela desse dinheiro seja resgatado imediatamente como forma de sanear as contas do governo? Lógico que não! O programa da burguesia é que o ajuste caia nas costas da classe trabalhadora, somente entram em choques internos e contradições, entre suas diferentes frações. O impasse político é, principalmente, de quem, quando, como e em que grau, se aplicará o ajuste econômico de austeridade sobre as massas mais desfavorecidas.

Os diversos setores da burguesia lutam, entre outras coisas, para decidir qual tipo de ajuste será realizado, por uma maior fatia diante da rivalidade selvagem do mercado e para aumentar os seus lucros diante da debacle econômica que atravessa o país. A atual pugna política expressa os interesses econômicos em conflito. A luta pelo poder tem como pano de fundo a competição entre os diversos setores e frações da burguesia ante uma economia em profunda recessão (uma depressão econômica), então o controle do Estado e de seu governo torna-se uma questão obrigatória para cada uma dessas frações, desatando uma luta intestina, e as vezes autofágica, pela própria sobrevivência. O número de empresas fechadas entre 2010 e 2015 ultrapassa a cifra de 1 milhão, lógico que nessa conta estão computadas desde as micros até as grandes empresas, mas o número é avassalador e passa uma ideia da magnitude da crise que deve continuar intensamente no ano de 2016. O aumento do desemprego, a inflação e a recessão em conjunto, após um longo período de expansão e estabilidade, pode levar a que uma grande parcela da população se revolte contra todo o regime político. Além disso, não podemos nos esquecer que cada fração da burguesia ganha mais ou menos com cada quadro econômico e com diferentes políticas econômicas e cambiais, dai resulta as contradições internas que explodem, como parte da luta política.

Temos que acompanhar com atenção qual será o comportamento dos trabalhadores e da juventude nas próximas lutas para determinar se haverá um ascenso dessas lutas, e se houver, qual será a sua intensidade. A capacidade e a margem de manobra, tanto para os setores aliados ao PT e ao governo Dilma, quanto dos setores da oposição burguesa, para conter um grande ascenso de luta por parte dos trabalhadores, da juventude ou até mesmo da classe média (como o de 2013) está cada vez mais estreito. Um regime político totalmente desmoralizado não pode e não tem capacidade política de exigir das massas que tudo permaneça como está! A crise ameaça incendiar o ânimo da maioria da população, mas os bombeiros do regime político não estão em condições de apagar incêndios, muito pelo contrário, cumprem, sem querer, a função de verdadeiros incendiários, e isso coloca mais um agravante em toda a crise, que tende a deteriorar-se diante da falta de alternativas ou perspectivas imediatas.

A atual crise tem componentes políticos e econômicos, que se desenvolvem de forma isolada, porém que se fundem diante do acirramento e atomização da mesma. A ausência de setores tanto da situação, quanto da oposição burguesa, que não estejam afetados ou contaminados pelos inúmeros escândalos de corrupção e pela chantagem e pelos conchavos políticos, coloca um dilema diante da impossibilidade de uma alternância de governabilidade que possa ser feita de uma forma estável e segura. A ausência, na atualidade, de uma alternativa política burguesa que esteja de fora de toda essa crise, e que, portanto tenha capital político suficiente para impor medidas mais draconianas contra as massas, coloca sérios limites para a política do ajuste fiscal. Mas o butim pelas parcelas de poder que ainda podem ser saqueados é alvo de disputas e contendas pelos dois principais blocos em disputa, e em vez de funcionar como um atenuante, a disputa eleitoral transforma-se em mais um dos potencializadores da crise.

O impasse gerado pela falta de alternativas políticas que não estejam afetadas pelo desgaste diante das massas e pelos escândalos de corrupção demonstra que estamos diante de uma crise de todo o regime político. Outro fator que demonstra a profunda crise do regime político é que em todas as propostas de saídas, variáveis políticas ou de futuros governos burgueses temos como lugar comum o PMDB, um dos partidos mais fisiológicos de todo o regime político burguês. Um partido que funciona como âncora de todo o regime em putrefação. Tanto um governo do PT, quanto um do PSDB, irão, com certeza, pactuar com esse partido que é o sinônimo de toda a corrupção de todo um sistema. Sinal de que qualquer mudança que houver, por mais profunda que for na aparência, não será, em essência, mudança alguma, apenas uma nova forma de apresentar tudo que já está ai. O regime está apodrecido até a medula. Pior: não consegue apresentar uma saída ou alternativa institucional para contornar a crise. O esgotamento do regime político chegou a seu próprio limite. Só haverá mudanças profundas diante da ação e da luta das massas e da classe trabalhadora.

Um dos marcos de toda essa crise são os inúmeros escândalos de corrupção que assolam o Brasil. Temos que deixar claro que a corrupção é, historicamente, um dos meios usuais no qual o capitalismo (e logicamente a burguesia e o grande capital) se utiliza para corromper, cooptar e aumentar seus lucros. Inexistem países capitalistas onde não tem ou tiveram governos, governantes e empresas corruptas em algum momento de sua história. Só uma pequena parte de toda a corrupção aparece diante da opinião pública, a grande maioria fica oculta nos bastidores da história. Corromper é sempre um ato oculto. A relação entre a burguesia e o seu Estado sempre foi parasitária e incestuosa. No Brasil não é diferente. Ao contrário, nossa corrupção é mais profunda, tendo raízes históricas na colonização e no império, e um amplo desenvolvimento a partir da fundação da República. A corrupção é coadjuvante em toda acumulação do capital de nossa burguesia, tentar restringir sua ação ao último período histórico é desconhecer a própria formação do Estado brasileiro e de nossa própria burguesia.

O fato de que um partido que teve suas origens na esquerda, nas greves operárias e nos movimentos sociais, como o PT, fosse o principal e mais afetado pelos escândalos de corrupção (ao lado de outras inúmeras legendas que compõem a grande maioria dos partidos do regime político, e também da própria oposição burguesa, sem nenhuma exceção!), mostra o grau de profundidade, e promiscuidade com que o PT se relacionou com o Estado burguês e seus agentes (historicamente corrompido!) e com o grande capital (historicamente corruptor!).

O PT levou até o último grau a colaboração de classes, enquanto com uma mão conteve as lutas e demandas dos trabalhadores ao que era palatável para o grande capital, com a outra encheu os bolsos de seus dirigentes, aliados e partidários, através de inúmeros meios escusos e obscuros, utilizando-se de parcelas do Estado ou de empresas geridas por este (como o caso notório da Petrobras, entre outros) para financiar sua máquina partidária e de sua cúpula. O “Caixa 2” do PT na Petrobras é co-responsável pela demissão de 30 mil trabalhadores, com certeza haverá mais demissões. E ainda existe parcelas do que chamamos de “esquerda” (dentro e fora do PT!) que defendem com unhas e dentes os “mensaleiros” como “vítimas” de uma campanha sórdida da burguesia. Mas se a corrupção é fruto das alianças espúrias do PT com a própria burguesia e seus partidos! Como diz o antigo ditado: “não há pior cego que aquele que não quer ver”.

O aburguesamento do PT não foi apenas no plano ideológico (os anos ingênuos de sua história pregressa!), mas no sentido mais vulgar em que pôde desenvolver a sua vida material à sombra da luta cotidiana pela sobrevivência e afastando-se da luta de classes. Aos poucos se tornou um partido parlamentar e estatal no pior sentido do termo. Não se limitou às contendas políticas internas, mas se desenvolveu por meio de contas bancárias, desvios de recursos e financiamento pelas grandes empresas. Se perdermos de vista a profunda relação que teve esse partido com o Estado burguês e com o grande capital, não teremos claro que seu governo não tem nada de expressão de um governo popular ou dos trabalhadores, mas sim que é um governo que representa uma fração importante do grande capital (bancos, grandes empreiteiras, setor automotriz e de bens de consumo, etc., etc., etc.) que na falta de um outro partido ou coalizão que pudesse capitalizar o anseio popular, aliou-se ao PT, um partido pequeno-burguês pró-imperialista que já havia dado provas de que poderia “dar conta do recado”, administrar a crise do Estado e aprender rapidamente o “jogo” sujo e corrupto da política burguesa e do grande capital. O PT expressa através de sua corrupção a profundidade com que “penetrou” materialmente nos intestinos do grande capital e do Estado burguês, que isso ocorra com o partido que sempre teve em seu discurso a defesa da ética e da democracia burguesa, não é, e nem poderia ser, mera coincidência!

As grandes intervenções de massas no último período foram em grande parte, abertas pelos protestos multitudinários do ano de 2013, em que já se podia antever o início de uma grande crise de grande envergadura que afetava todo o conjunto da sociedade, a economia, a política e a grande desilusão das massas para com todo o regime. Em germe todos os elementos já estavam ai: desde a crise econômica, até a crise política, a repressão do Estado, o desnorteamento da esquerda, a petulância e o oportunismo da direita e o inicio da ruptura das massas com a política de colaboração de classes da frente popular.

A ação direta das massas através de manifestações refluiu, mas não desapareceu. No próximo período deveremos ter um novo ascenso desse movimento, principalmente da classe trabalhadora que é o setor que mais sente os efeitos da crise sobre sua cabeça. A equação que soma o ajuste fiscal, desemprego, depressão econômica, inflação alta, arrocho salarial e dos ganhos de diversas camadas de trabalhadores e a falência do Estado no atendimento dos serviços básicos só pode, e deve terminar em uma grande revolta popular. As manifestações de 2013 não fecharam seu ciclo e ameaçam recomeçar do mesmo ponto no inicio de 2016, só que em um cenário muito mais conturbado, mais deprimido e mais tenso, em que a crise econômica e política pressionam a consciência das massas como uma bomba relógio prestes a explodir. Ao respirar, diária e cotidianamente, sentimos o cheiro de pólvora no ar...

                                                                            



                                              Crise Econômica

A atual crise econômica nacional é, em última análise, o reflexo direto da crise econômica mundial e histórica do capitalismo, que teve seu epicentro e o seu ressurgimento nos EUA, a partir de 2008, e que posteriormente desenvolveu-se na Europa nos anos subsequentes, e numa segunda fase atingiu a América Latina e os países produtores de commodities, de uma forma determinante, particularmente o chamado Cone Sul do nosso continente, o qual foi afetado pela derrubada dos preços das matérias-primas e do petróleo no mercado mundial. No início de 2016 o preço do barril de petróleo encontra-se abaixo dos 30 dólares, e com o fim recente das sanções ao Irã haverá uma forte tendência de queda que afetará profundamente a economia internacional. Outra tendência que nos afeta é a curva descendente que a economia chinesa vem apresentando no último período, afetando especialmente o Brasil, que tem na China a sua principal parceira comercial. A China deve transformar-se aos poucos no nó górdio da economia mundial. O receio de que a crise internacional se acentue e tome proporções inesperadas torna-se a cada dia mais palpável diante da queda das bolsas de valores nos principais países do mundo.

A intensidade com que a crise econômica internacional atingiu o Brasil demonstra de um lado a força, o dinamismo e a profundidade dessa crise histórica que acarreta toda uma falência do sistema capitalista mundial em seu conjunto, atingindo todos os continentes e classes sociais, mas de outro lado, também demonstra a fragilidade e a peculiaridade da nossa economia nacional, que vem sofrendo uma intensa, profunda e vertiginosa desindustrialização nas últimas décadas (em 1985, a produção industrial representava cerca de 35% do nosso PIB, em 2015 chegamos próximos aos 10% do PIB) e que depende cada vez mais das vendas de commodities e matérias-primas para realizar exportações.

Como a crise mundial causou uma queda acentuada dos preços dessas matérias-primas, isso afeta diretamente o saldo da balança comercial e toda a economia nacional. O sonho, que uma parte da burguesia acalentava, de ver o Brasil despontar como economia emergente e ficar lado a lado (e até mesmo rivalizar) com os países imperialistas do, assim chamado, “primeiro mundo”, virou um enorme e sinistro pesadelo, em vez de subir ao cume do mundo, estamos caindo da beira de um enorme precipício...

Todas as classes sociais, e suas diversas camadas e estratos são atingidos diretamente por essa crise. Nenhuma das crises anteriores conseguiu atingir de forma concomitante, fulcral e profunda a tantas classes sociais, suas inúmeras frações, seus diversos interesses, a política, a economia e a sociedade a um só tempo. Não vamos analisar aqui todos os dados econômicos e suas respectivas quedas. Mas apenas lhe dar uma visão episódica e panorâmica.

Lenta e paulatinamente a economia brasileira vem sofrendo durante todo esse período, e principalmente nos últimos anos, reflexos da crise econômica mundial, mas também de uma política econômica que privilegiou os grandes setores da burguesia com grandes incentivos, subsídios e isenções e para os banqueiros e outros setores do grande capital, com uma das maiores taxas de juros do mundo (ultrapassando a casa dos 14% e em tendência de alta para o próximo período), quase a metade de todo orçamento do governo federal para 2015 (que já supera um trilhão de reais) serão para pagar os juros da dívida pública e alimentar os altos lucros dos grandes banqueiros. Nos últimos vinte anos o endividamento público estourou em termos percentuais. O endividamento bruto do setor público se aproxima dos 70% e o líquido cerca de 35% (sem contar Petrobras, Eletrobras e bancos públicos). A relação dívida bruta/PIB era de 53% em 2013, saltou para 59% em 2014 e ameaça chegar a quase 70% em 2015. Alguns prognósticos apontam que terminará 2016 com cerca 75%! Uma escalada aritmética em um período de queda vertiginosa do PIB! Na avaliação do próprio Tesouro, a dívida deve ultrapassar os três Trilhões até o final de 2016!

O atual governo concede ao imperialismo uma das maiores aplicações em títulos da dívida pública (principalmente em títulos dos EUA) do mundo por meio de nossas reservas internacionais (cerca de US$ 350 bilhões), aplicações essas que pagam um valor quase irrisório de juros (cerca de 1%, ou menos), enquanto isso pagamos uma das maiores taxas de juros do mundo ao sistema financeiro nacional e internacional, a diferença resultante entre o baixo valor pago pelos juros das reservas internacionais e valor descomunal pago pelo governo aos títulos da dívida pública nacionais são pagos pela classe trabalhadora, sob a forma do ajuste econômico, o saque do pré-sal e da Petrobrás, a futura reforma da previdência e novos tributos que podem ser aprovados em breve (CPMF, etc). A relação do capital financeiro com o regime político deixa de forma exposta as vísceras da política burguesa no Brasil.

O governo Lula, primeiro, e depois o governo Dilma, tentaram abafar a crise com planos que tentaram desonerar uma parte da burguesia. Subestimaram a crise histórica do capitalismo e tentaram adiar seus efeitos sobre o Brasil, tudo indica que imaginavam que em poucos anos a economia internacional voltaria a ganhar fôlego e o Brasil passaria incólume pela crise, o PT substituiu a análise objetiva da história e da economia pelos sonhos e ideais de seus dirigentes. Somente conseguiram adiar o problema, só que a crise acumulou-se e estourou de forma mais impactante e pungente. A crise é como um câncer em desenvolvimento econômico e social, as medidas paliativas que os governos Lula e Dilma tomaram possibilitaram sua metástase.

Os governos Lula e Dilma utilizaram, durante certo período, de uma grande quantidade de subsídios, empréstimos e financiamentos para tentar impedir que a crise mundial batesse no Brasil anteriormente. Em vez de resgatar o emprego e o salário, preferiram resgatar alguns setores capitalistas que considerava “estratégicos”. As construtoras foram mais privilegiadas, não só por obras públicas (com notórios casos de corrupção!), mas também com o financiamento imobiliário para amplos setores da população. Diante do aumento da inadimplência, recessão e do desemprego o mercado imobiliário está próximo de seu limite. Segundo o relatório FipeZap, o valor médio dos imóveis em 2016 deve voltar ao patamar de 2011. E com tendência de continuar em queda, logicamente! No Brasil grande parte da carteira imobiliária encontra-se em mãos da Caixa Econômica, banco estatal (a Caixa exige 30% de entrada no imóvel), ou seja, isso afetará em pouco tempo o governo federal, além da economia como um todo. Mas a cadeia produtiva que tem relação direta com o mercado imobiliário é enorme e terá impacto profundo na economia (sem contar que muitas construtoras também foram atingidas devido aos escândalos de corrupção que atingem o governo). Muitos imóveis começam a ser leiloados pelos bancos (em casos de inadimplência), construtoras abaixam o preço para fazer caixa e saldar dívidas e o próprio banco estatal (a CEF) está descapitalizada, gerando um efeito em cadeia, que é potencializado pelo aumento do desemprego.

A inadimplência chegou em janeiro ao patamar mais alto de sua história. São 59 milhões de brasileiros no vermelho. Um número bem superior ao de toda a população da Argentina (cerca de 41 milhões) ou do estado de São Paulo (cerca de 45 milhões), apenas para se ter uma comparação aproximada do que isso representa. O total das dívidas é de R$ 255 bilhões. Ou seja, um valor próximo ao que o Brasil pagou de juros da dívida em 2015, que foram R$ 367 bilhões. Uma dívida impagável que terá um efeito contaminador por toda economia. Por esses dados podemos ter uma ideia da profundidade da crise. Muitos analistas já estão apelidando esta década de “década perdida”, remetendo aos anos 80.

Para se ter uma ideia do nível de endividamento gerado pela política de crédito farto realizado durante o início da crise mundial, basta analisar que antes da crise o índice de endividamento das famílias era de menos de 18% em 2005. Subiu exponencialmente para 45% depois dos efeitos da crise, em 2013 e hoje já ultrapassa os 60%, ou seja, em vez de se desenvolver a economia, foi feito o seu oposto, endividando, acima do limite, toda uma enorme parcela da população, e em uma situação em que o aumento do desemprego só tende piorar essa situação. Somente em 2015 cerca de 100 mil lojas fecharam as portas aumentando o ciclo depressivo da economia e o desemprego.

O desemprego é um dos índices que mais crescem no Brasil. Segundo o DIEESE, já supera os 14% na cidade de São Paulo. E mesmo na pesquisa chapa branca do IBGE, já está em 7,5% em nível nacional (PME) e pelo PNAD já deve atingir os 10% no início de 2016. Isso sem contar a enorme quantidade de trabalhadores pejotizados, precarizados ou em situação de informalidade (que o IBGE simplesmente considera como “inativos”). Grande parte do desemprego no Brasil fica “oculto” por tipos de “metodologias” que favorecem a precarização e o sub-emprego. Somente o número de famílias que são atendidas pelo programa “Bolsa-Família” do governo mostra que há uma contradição flagrante entre o Brasil das estatísticas e o Brasil real.

Um capítulo à parte mereceria a penetração do capital financeiro e especulativo que se acentuou nas últimas décadas em nosso país. Nos últimos anos o Brasil virou dependente dessas transações que supria o déficit no balanço das transações comerciais. No inicio da década de 90 o Brasil recebia cerca de um bilhão de investimentos, hoje ultrapassa os 50 bilhões. O alto valor dos juros são um modo de atrair investimento em títulos do governo. Com a queda da nota do Brasil nas agências de classificação de risco. de um lado, e o aumento da taxa de juros no EUA, de outro, deverá provocar um aumento da saída desse capital do nosso país, aumentando a crise econômica, a desvalorização do real e a queda da bolsa. O quanto isso afetará a economia devemos ter uma ideia já nos primeiros meses do ano. A queda da nota do Brasil nas agências de classificação de risco deve, pelo menos no próximo período, restringir a entrada do mesmo volume de capital financeiro em nosso país. O paradoxo é que, no atual momento, o governo Dilma procura, avidamente, atrair esse capital especulativo para auxiliar no fechamento das contas do governo, que estão com um rombo e uma sangria contínua. Cada vez mais a sensação que temos é que o governo alimenta o seu próprio mito de Sísifo particular, só que em vez de se rolar uma enorme pedra, são os títulos da dívida pública que ameaçam cair em um enorme precipício. De qualquer modo não devemos ter uma crise e um impasse de proporções similares a crise grega pelo simples fato de que a dívida grega era lastreada pelo euro, moeda que não emite, e a dívida brasileira está lastreada em reais, moeda que pode ser emitida pelo banco central, o custo disso será a inflação, daia necessidade de palavras de ordem que contemplem a escala móvel de horas de trabalho (no caso do desemprego) e de escala móvel de salários (para o caso específico da inflação). 

É importante ter uma noção da curva que os dados econômicos produzem e o que significam, ou seja, seu histórico. Não importa ver somente a foto, é mister ver para onde se movimenta o filme. No caso do PIB brasileiro, especificamente, em 2010 estava na casa dos 7% de crescimento, em 2011 caiu para pouco mais de 2%, em 2012 foi de 1%, em 2013 novamente esteve acima dos 2% e em 2014 foi praticamente nulo: 0,1%. O PIB em 2015 ficou com uma queda de -3,8% e em 2016 a projeção é de uma queda que varia para próximo de -4%. No conjunto é a maior queda econômica em um período de 24 meses seguidos. E todos concordam que se em 2017 for nulo, isso já seria uma vitória, pois há o sério risco de também ser negativo (pelo terceiro ano consecutivo!). Desde 1930 que o PIB brasileiro não cai por dois anos consecutivos. Os efeitos dessa queda devem pesar, rapidamente, sobre a cabeça dos trabalhadores.

A inflação já ultrapassou a casa dos 10% (dois dígitos) em dezembro e ameaça uma escalada galopante. As vendas no comércio despencam de forma repetitiva praticamente todos os meses, colocando um cenário nebuloso futuro dos demais setores econômicos que dependem diretamente das vendas efetuadas no varejo.

Nem mesmo a bolsa de valores ficou imune a crise. De 2012 para cá amargou uma desvalorização de quase um terço de seus ativos e foi considerada por alguns índices, como o pior desempenho entre as bolsas de valores do mundo. Basta lembrar que parte da capitalização das grandes empresas se dá pela bolsa, e chegamos à conclusão de que este baixo desempenho terá grande repercussão no ciclo econômico de nosso país.

O fato de que a maioria dos analistas considerem que a recessão, que iniciou oficialmente no segundo semestre de 2014, deve, no mínimo, se estender até o final do ano que vem, corrobora nossa análise de que não estamos em uma simples recessão (período curto ou médio de declínio econômico), mas sim que entramos em uma profunda depressão (período de longo declínio da atividade econômica) que se abate sobre todas as classes sociais, mas especialmente sobre a classe trabalhadora, que é fustigada pelo arrocho salarial, pelo desemprego e pela inflação em só golpe, e não tem meios para se esquivar, a não ser o aviltamento do valor pago como salário, de um lado, e a luta, para manter suas condições de vida, do outro. Psicologicamente já podemos sentir essa depressão se abatendo sobre as grandes massas e seu consumo familiar. Vivemos uma profunda depressão econômica que terá profundas consequências para a vida e as lutas sociais de toda população, especialmente para a classe trabalhadora.

O índice de confiança do consumidor (ICC) chegou a seu pior nível em dezembro passado, com 75,2 pontos. A grande incógnita é até quando a classe trabalhadora irá aguentar essa situação. Tudo aponta para que ocorra uma grande explosão popular.

Isto significa que o ajuste de austeridade que o governo tentará impor, para manter o pagamento dos juros dos títulos da dívida pública, e com isso manter os altos lucros do grande capital e dos bancos, levará a grande maioria da população a um estado de penúria e miséria. O efeito disso logo chegará em quase todos estados do país, mas o RS e o Rio de Janeiro nos indicam (de forma antecipada) a situação falimentar em que não se tem dinheiro nem para pagar o funcionalismo público. Em sua totalidade, os grandes partidos que vão do PT ao PSDB, passando pelo DEM e o PMDB sempre defenderam os interesses da grande burguesia de forma geral (e dos grandes bancos em particular) e não é num momento de grande crise que irão modificar seu posicionamento de classe, muito pelo contrário: irão defender com mais força os seus interesses de classe e seus acordos, na sua grande maioria, ocultos.

A burocracia sindical manobra para impedir uma situação que lhe fuja do controle. Sua luta contra o ajuste é apenas uma forma de autopreservação. Uma prova disso é a inexistência da discussão e preparação de uma greve geral por parte de todas as centrais sindicais, para se lutar contra o ajuste para que a crise não se abata sobre os trabalhadores. Na melhor das hipóteses chegam a colocar a greve geral como um mantra religioso no programa de determinado sindicato ou central, como se numa greve geral não necessita-se de um programa concreto, de uma discussão e preparação em nível nacional em todas, ou, pelo menos, nas principais categorias. A inexistência de plenárias que discutam profundamente o ajuste, seus efeitos e a preparação de uma greve geral como arma de defesa dos trabalhadores diante da crise coloca claramente as limitações das atuais direções sindicais. Os trabalhadores não podem confiar nas manobras da burocracia sindical. Em um cenário de crise a independência política dos trabalhadores diante da burocracia sindical é o primeiro passo para se obter vitórias. Uma frente de luta dos trabalhadores para enfrentar o ajuste do governo Dilma e do grande capital, contra o desemprego e os efeitos da recessão, se faz necessário para impedir que o ônus da crise recaia sobre as costas da classe trabalhadora. Temos que derrotar o governo de ajustadores. A perspectiva de mudança só pode vir de um governo dos trabalhadores!


                                                                 

                                                            
                                                 Crise Política

Intrinsecamente associada à crise econômica, desenvolveu-se uma crise política de grandes proporções e que expõe e reflete os antagonismos de classe, e de suas frações, que se evidenciaram após o impacto da crise econômica no Brasil. A crise política, propriamente dita, é o resultado de uma disputa pelo poder político, em que os escândalos de corrupção ganharam uma coloração nunca antes vista e serviram para galvanizar a opinião pública e as massas, enquanto outros interesses, nem sempre evidentes, são disputados, de forma hostil e selvagem, pelos setores que detêm o poder político. A batalha de fundo é sobre como ter o controle do Estado e da política econômica. De qualquer forma todos os setores que sustentam o regime político ou estão na oposição burguesa são ajustadores e tem como política implementar um pacote de austeridade fiscal sobre as costas largas das massas. A grande incógnita é: quem, no atual momento, tem capital político para aplicar esse ajuste?

O governo Dilma vive uma contradição interna enorme diante desse dilema. A queda de Joaquim Levy foi fruto de uma disputa para se saber o grau e a intensidade do ajuste. As tentativas de amenizar o ajuste são, em última análise, um modo de evitar, a qualquer custo, a explosão de um ascenso da classe trabalhadora em uma situação em que a burguesia e seu governo estão profundamente debilitados. O ministro Levy foi, dentro da disputa entre suas diversas alas, literalmente rifado e abandonado à própria sorte, mas seu legado continua: o ajuste deve ser implementado pelo seu sucessor, Nelson Barbosa. O ajuste é defendido por todos os setores que disputam o poder político diretamente. Especialmente os três maiores partidos: PT, PMDB e PSDB. A discussão nesses partidos não é se vão aplicar o ajuste, mas sim como, quando e em que grau. Ou seja, eles não tem dúvidas sobre as características genéticas da criança, a dúvida maior é quem vai assumir a paternidade da criança! Por enquanto o PT leva vantagem nesse aspecto, pois para as massas já é o pai da crise econômica (e fez por merecer esse título) e será, em breve, o do ajuste também, mesmo que o governo caia e seja continuado por outro partido, a política econômica não deverá ter grandes mudanças. O ajuste é consenso entre os principais partidos do regime político.

Longe de conseguir algum tipo de fôlego, o esgotamento do atual regime político de colaboração de classes é a expressão da enorme crise política onde mergulhou o Partido dos Trabalhadores, mas também é a expressão da enorme crise que fustiga a imensa maioria dos partidos burgueses, que se vêem impotentes diante da crise que os contamina diariamente. Dilma, Lula, Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Aécio Neves, PMDB, PSDB, Mensalão Mineiro, Lava-Jato, Operação Zelotes, Catilinárias, Petrolão, pedaladas fiscais, impeachment, etc., etc. A crise, por enquanto, é disforme e multifacetada e não poupa nenhum dos principais personagens políticos.

São tantas as denúncias de corrupção contra o PT de um lado e os demais partidos burgueses e patronais do outro, que podemos afirmar com total segurança que (como diria o próprio Lula) nunca na história desse país o regime político foi tão desacreditado como nesses últimos anos. Amigos, empresários, protetores e protegidos: todos os dias vemos um capítulo novo de uma novela que ameaça não ter mais fim. As relações incestuosas entre a grande burguesia, seus partidos, seus representantes e o Partido dos Trabalhadores demonstra que o PT transformou-se (há muito tempo!) em um partido do sistema com relações promiscuas com grande parte dos setores mais podres da política brasileira. O poder judiciário utiliza-se da corrupção para transformar o PT no único bode expiatório de toda crise política. A corrupção atinge todo o regime político, mas o poder judiciário transforma as denuncias contra o PT num julgamento político. Como se diz no folclore político: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei"

Os escândalos de corrupção que começaram com o Mensalão e desenvolveram-se com a operação Lava-Jato e a Satiagraha, Zelotes, Triplo X, etc., etc. Estudos apontam que há o desvio de cerca de 70 bilhões por ano com a corrupção no Brasil. O PT e seus aliados foram implicados diretamente, destruindo rapidamente o capital político que havia sido construído durante a década de 80 e 90. A política de frente popular demonstra que quanto maiores são as relações que se mantém com o grande capital, maior são os esquemas de desvios do Estado. Diante das massas essa política fica insustentável, entrando em contradição com o sucateamento do Estado e dos serviços essenciais.

O grau de corrupção e de envolvimento entre o atual regime com os setores mais podres da elite econômica mostram sua relação com altos funcionários do governo, até mesmo um grande latifundiário beneficiado pelo regime (amigo intimo de Lula), um senador da república (ex diretor da Petrobras) e um grande banqueiro, o caráter de classe de governo pode ser analisado pelas relações profundas que tem com a burguesia, suas camarilhas, grupos de saqueadores do Estado que mais se assemelham a quadrilhas e com uma parte dos setores mais corruptos da política nacional (a outra parte continua na oposição) de um lado e pela própria composição do seu ministério de outro.

Os ministros do governo Dilma são a expressão profunda da política de fortalecimento do grande capital e da direita dentro de seu governo: Eliseu Padilha (ex ministro de FHC), Alexandre Tombini (ex FMI), Joaquim Levy (ex FMI e do governo FHC), Kátia Abreu (pró latifundiários), Gilberto Kassab (ex malufista e ex prefeito de São Paulo), Afif Domingos (ex malufista ligado ao empresariado paulista), e assim por diante. O caráter de classe desse governo é a expressão de uma burguesia que apesar de denunciar hipocritamente o parasitismo e o intervencionismo estatal, não consegue tirar suas garras das entranhas do Estado. Historicamente mostra que é uma classe social que somente consegue sobreviver como um parasita social e que como um é incapaz de se afastar do monstro que tanto critica. Uma relação de dependência que demonstra que é uma classe social que vive apenas do parasitismo. De iniciativa privada nada lhe sobra senão o desvio de recursos estatais (privando a grande maioria da população de ter esses recursos) e a abertura de contas no exterior (que não deixa de ser uma iniciativa, se bem que duvidosa).

A crise aberta entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e a presidenta Dilma mostra a profunda crise e a fragilidade de todo o regime político. O poder executivo e o legislativo entraram em choque aberto com as mais altas chantagens e barganhas durante todo o ano de 2015, ao ponto de Dilma ficar numa posição de refém durante boa parte do ano, diante da chantagem do impeachment, similar a um jogo de xadrez em que impedimos a movimentação de uma peça fundamental com outra, enquanto estamos procurando colocar o adversário em um xeque-mate. O impeachment marca a abertura de uma guerra mais aberta em que os dois poderes irão se chocar. O judiciário tentará funcionar como um arbitro político, aparentemente acima das classes sociais, mas profundamente pressionado por elas, com a função de impedir que o choque de poderes leve ao colapso do próprio Estado. Resta saber até onde conseguirão atuar, sem com isso aumentar a própria crise. Um Estado moral e politicamente falido quer ser o árbitro (através do legislativo e do judiciário) de um governo totalmente desmoralizado perante as massas. Um paradoxo cômico com ares de tragédia, isso para se dizer o mínimo. 

O cúmulo da impotência diante de tamanha crise é que nenhum dos dois poderes tem hoje tem muito mais de dez por cento de aprovação popular (Dilma tem cerca de 10% de aprovação e o Congresso Nacional idem, segundo o instituto Datafolha). O processo todo conduzido por Cunha (assim como o Congresso como um todo) é realizado com a característica maestria sub-reptícia da fina flor dos políticos burgueses no Brasil. Uma verdadeira aula de como se pode manipular em proveito próprio uma parte considerável do Estado: o poder legislativo. O orçamento vira o alvo principal do butim desses bandidos, que representam uma parcela do Estado burguês e representam a defesa dos interesses vitais da burguesia. Cunha é considerado o grande líder da bancada BBB (Bíblia, Boi e Bala). O poder conquistado por Cunha demonstra de um lado a fragilidade do regime político e o profundo esgotamento da frente popular de colaboração de classes, capitaneada por Dilma, que não consegue fazer frente a toda essa crise, sucumbe paulatinamente à pressão exercida por um presidente da Câmara que consegue esquivar-se (até quando?), dentro das regras do sistema, de sua própria cassação. Cunha põe a nu a essência do Estado democrático em toda sua hipocrisia, sordidez, opressão e pusilanimidade. É a expressão cabal de um congresso totalmente submisso aos interesses econômicos do grande capital.

A desmoralização do Congresso impede, em ultima análise, que o impeachment seja concluído pelo poder legislativo. Um Congresso desmoralizado não pode julgar ninguém, nem mesmo seus pares. A possibilidade de um impeachment aprovado pelo Congresso levaria essa crise até níveis nunca vistos. Um impeachment com estas características pode levar, até mesmo, a fraturas dentro do próprio Estado. Diante do fato de que o Senado terá o voto de minerva, a possibilidade de que o impeachment chegue a derrubar o poder da presidenta é pequeno, mas não deve ser desprezado. A burguesia encontra-se dividida. Apesar de ser conciliadora por natureza, uma saída mais violenta nunca deve ser totalmente descartada. Principalmente com uma crise gigantesca, como essa que se abate sobre o Brasil. A manipulação midiática em que os meios de comunicação são utilizados com interesses de classe específicos por uma ala da burguesia mostra que dentro do capitalismo a democracia é apenas um sofisma. 

    A resolução da atual crise pelo impeachment pode levar a uma situação de maior acirramento e aprofundar a crise, seria o mesmo que tentar apagar o fogo com gasolina, sem contar que o governo engendrado (Michel Temer, vice-presidente do PMDB) pode (por sua fragilidade) abrir uma crise de dimensões incalculáveis, não só pelos poucos setores que não o sustentariam, mas, principalmente, pela imensidade dos setores que se chocariam com esse governo já no primeiro dia de seu mandato. Em síntese: seria um governo extremamente frágil, um anão, diante de uma crise gigantesca e incomensurável. Fora isso a comissão responsável pelo processo de impeachment é composta pela fina flor dos deputados mais corruptos, até mesmo Paulo Maluf (que é procurado pela Interpol) é membro dessa comissão. Temos que rejeitar veementemente uma saída à direita pelo impeachment. Não só abrirá uma crise mais profunda como significará um ajuste ainda mais profundo do que o governo de Dilma (PT/PMDB) tem intenção de realizar. O impeachment deve ser denunciado como uma manobra de tipo golpista por tudo que representa. 

    Mas com isso não vamos nos submeter à teoria (do PT e CUT) do golpe eminente que é utilizado como chantagem contra as massas. Fomentam-se golpes ante qualquer crítica ao governo e uma situação em que estaria se deslocando (futuramente) para um governo proto-fascista como um meio de aprisionar o movimento de massas e aceitar o esgotamento do PT de seu governo e da frente popular de colaboração de classes, na verdade há uma enorme crise que se abate sobre a burocracia petista e cutista, sua direção e sua base. As massas estão em processo de rompimento com sua direção, o processo de dominação da frente popular sobre as massas esgota-se e a teoria do golpe é utilizado como uma camisa de força possível para impedir que as massas rompam definitivamente com a política de colaboração de classes do PT e CUT.  

  Diante tão propalada teoria do golpe devemos elucidar que no cenário mais provável para seu desenvolvimento (o impeachment) há a formação de um governo com o vice-presidente (Michel Temer), que ao mesmo tempo é o presidente do PMDB e principal aliado (até o momento!) do PT. Lula esforça-se por costurar um acordo mais forte com o PMDB para poder impedir o impeachment e o consequente rompimento desse partido com a base governista. Ou seja, se existe uma teoria do golpe, essa teoria deveria, antes de mais nada, elucidar o papel que o PT e seus líderes tem em reforçar o papel do PMDB e da direita no interior do governo Dilma.

A luta pela aprovação ou não do impeachment é uma luta entre dois grandes setores da burguesia. A favor estão o PSDB, uma ala importante do PMDB e outros setores e partidos burgueses de centro ou mais à direita no panorama e espectro político. A FIESP e alguns outros setores patronais também deram apoio a esse processo. Contra o impeachment ficou o PT, obviamente, setores governistas do PMDB (incluindo governadores aliados do planalto, como Pezão, do Rio de Janeiro e vário governadores do Norte e nordeste do país) e setores de partidos da chamada “base aliada ao planalto”. Partidos esses que tem ministérios ou cargos de primeiro escalão em algum dos mais de 30 ministérios do governo Dilma. Muitos setores importantes do empresariado como a FEBRABAN (os bancos e o capital financeiro) ficaram “neutros” ou em cima do muro, para ver como se desenvolve a processo de luta ulterior. Afinal de contas ela sairá ganhando com qualquer governo que saia dessa contenda. Há setores da burguesia muito prejudicados, mas há outros que são privilegiados. Não podemos esquecer que os grandes escândalos de corrupção foram ligados a grandes empreiteiras e grandes empresas que também devem estar divididas em inúmeros acordos para salvar seus interesses. Um setor importante do imperialismo ficou contra o impeachment (como se pode ver pelos jornais internacionais), mas não há uma unanimidade, e a luta política está em processo. A burguesia está dividida dentro e fora do país. A ideologia da burguesia consiste em saber onde poderá obter mais lucro. E se de um lado poderia lucrar pondo abaixo o governo, de outro poderia abrir um grande período de instabilidade mais profundo, em um cenário de depressão econômica. O risco é muito alto. Mas a crise também. As contradições internas dentro das diferentes frações da burguesia advém da incerteza da crise na política e na economia. Essas contradições devem continuar por um longo período, acirrando ainda mais a luta política.

Os setores mais reacionários à direita (Revoltados On Line, Movimento Brasil Livre ou MBL, Vem Pra Rua, Instituto Milenium e outras think thanks patrocinadas) vem perdendo força no último período, as divergências entre os diversos grupos é muito grande, dificultando os atos unificados e ações em comum. Os setores de classe média que antes estavam apoiando massivamente estes setores começaram a debandar. A postura anti-comunista raivosa desses grupos, que chegam até mesmo a simpatizar com os adeptos da ditadura militar (o homofóbico deputado Jair Bolsonaro é um herói para um amplo setor desse movimento), começa a espantar os setores mais despolitizados que foram atraídos no inicio do movimento. A ligação desses setores com o PSDB e o PMDB (Serra, Aécio e Eduardo Cunha usaram os atos como palanque para discursar) também é outro fator de rejeição repulsa para as massas. No último comício (do dia 13/03) Serra, Aécio, Alckmin e Silas Malafaia foram vaiados e hostilizados por sua própria base, o que leva a reflexão de que a direita tem muito mais a perder politicamente diante das massas no próximo período do que qualquer outro setor.

Um Congresso profundamente desmoralizado, que tem a sua principal âncora moral na figura de Eduardo Cunha na presidência da Câmara (e que nenhuma comissão de ética consegue derrubar!) e Renan Calheiros (que o STF nega-se a julgar!) na presidência do senado tem pela frente mais uma tarefa digna de uma comédia política: tentar provar para a maioria da população que o legislativo tem autoridade política suficiente para fazer um julgamento político. O processo de impeachment deve esgotar ainda mais o combalido capital político do executivo e do legislativo. Não somente o governo, mas o próprio Estado começam a entrar em uma vigorosa crise, na qual Dilma e Lula foram impotentes em sua tentativa de impor um governo forte de tipo bonapartista ou semi-bonapartista ao Brasil. Isso não se deveu aos seus interesses (e de seu partido), mas sim devido a suas enormes contradições de forças políticas e econômicas e que colocaram uma força centrífuga sobre seu governo de uma forma inexorável, levando-o ao esgotamento político. O que não está claro é quem sairá vitorioso dessa pugna. O esgotamento do governo do PT/Dilma não quer dizer necessariamente que já estamos diante de seu fim (apesar de inúmeras variáveis apontarem nesse sentido), a ação e reação é uma constante em política e numa crise tão complexa como essa não devemos utilizar análises de tipo fatalista.

As probabilidades apontam no sentido de que o governo desmorone em pouco tempo, mas isso não é uma certeza e nem um fato dado, devemos analisar como o processo histórico se desenvolve. O que já está claro e que o setor vitorioso irá jogar todo seu capital político para tentar impor um ajuste mais pesado e austero contra as massas e principalmente sua parcela mais pobre e excluída. A crise desenvolve-se com tamanha rapidez e com tamanha força que há um certo equilíbrio, em que a própria burguesia tenta manter tudo como está, com receio de que a retirada de peças fundamentais nesse xadrez político possa ser irreversível e que abra alguma situação inusitada e fora do controle.

O próprio governo Dilma abriu as portas para um viés mais à direita com Levy, Kassab, Kátia Abreu entre outros. O vice Michel Temer (segundo inúmeras fontes) flertou com os setores da oposição e é um homem de confiança de Eduardo Cunha. Temer chegou a assinar pelo menos sete decretos autorizando a abertura de credito ao orçamento federal (as chamadas “pedaladas fiscais” em que é feito repasse de dinheiro por parte de bancos e autarquias, para melhorar artificialmente as contas do governo, base jurídica do pedido de impeachment) entre novembro de 2014 e julho de 2015. Tentou articular um governo de União Nacional, em que Dilma sofreria o Impeachment, e ele ficaria imaculado na cabeça do novo governo de transição. Mas o tiro lhe saiu pela culatra. E de uma hora para outra é como se governo não tivesse mais vice-presidente. Michel Temer chegou a dar sinais de que pretende seguir por essa via, chegando a dar a público uma carta em tom de desabafo em que aponta para um possível futuro rompimento com o governo. A via Michel Temer está irremediavelmente fechada, e com isso o impeachment também perde, em grande parte, sua sustentabilidade e viabilidade.

Com o estabelecimento do rito que a Câmara deverá seguir para o processo de impeachment (julgado pelo STF), fica modificado novamente o cabo de guerra das disputas entre os poderes: a câmara dos deputados tende a perder força diante do senado, presidido por Renan Calheiros (PMDB), que está em rota de colisão com Eduardo Cunha e o vice Michel Temer (ambos do PMDB). Renan, assim com Cunha, está atolado em investigações por corrupção.

As diversas correntes do PMDB vão se aliando com cada força em disputa. Sua divisão é uma comprovação de que a burguesia ainda encontra-se dividida diante do impeachment. O PMDB é um partido burguês que só conhece uma regra: manter-se no poder! Sua divisão é ante de mais nada uma expressão da crise que a burguesia tem diante das inúmeras variantes possíveis de alternância ou não de poder. 

   Uma outra possibilidade, que apesar de aparentemente improvável, não está descartada de nenhum modo diante da profunda crise política, é a cassação dos mandatos de Dilma e Temer pelo TSE ou até mesmo pelo STF. Nesse caso, diferentemente do impeachment, os dois mandatos seriam cassados: o de Dilma e o de seu vice Michel Temer. Se isto ocorrer até dezembro de 2016 (segundo a constituição) haverá eleições convocadas em 90 dias. Enquanto isso, o presidente da Câmara (atualmente Eduardo Cunha) assumiria interinamente o poder. Se for a partir de 2017 haverá uma eleição indireta no congresso que colocará dois parlamentares no poder até o final do mandato.

A crise do governo é tão profunda que mesmo superando o impeachment há a possibilidade da abertura de outras denúncias similares e concomitantes na Câmara. Há outros pedidos para serem analisados. E o TSE ainda analisa uma possível cassação da chapa Dilma/Temer. Ou seja, há outras possíveis crises no horizonte político. Uma instabilidade que atinge em cheio o funcionamento das instituições, de seu governo e até mesmo de seu Estado. 

Com um governo imerso completamente até o pescoço em um lamaçal de corrupção, barganhas e troca de favores políticos, o governo Dilma foi fragilizado desde o início de seu segundo mandato, vitima de impotência e sua aliança com setores da burguesia clientelista e oligárquica. O método da chantagem, da corrupção e barganha política tornou-se um “modus operandi” tanto como elemento ativo, quanto passivo na permuta política mais baixa: a fisiológica, em que os interesses materiais (por cargos, fatias do orçamento ou depósitos em conta) tornaram-se algo corriqueiro dentro de um partido que, hipocritamente, substituía luta material, a luta de classes, pela metafísica, a luta pela ética e pela democracia, há apenas 25 anos. O PT escolheu seus aliados entre a nata mais abjeta dos partidos burgueses, e com aliados e “amigos” como esses (o PMDB é sempre a eminência parda desse governo!) a pergunta que fica é: e quem ainda precisa de inimigos?

Nas últimas semanas a crise de corrupção ameaça chegar até o ex-presidente Lula. Alvo de mais uma tortuosa história de bens adquiridos de forma no mínimo suspeita (um triplex!). Sua possível prisão e a delação premiada do ex líder do governo no senado Delcídio do Amaral e que pode atingir profundamente todo o regime, devido a sua posição no governo anterior de FHC, assim como no de Lula, na Petrobras, nas cúpulas do PSDB com Aécio Neves, nas do PMDB com seu presidente Michel Temer e naturalmente no PT. Nos bastidores políticos há inúmeras tentativas de impedir a debacle de todo regime, entre as inúmeras possibilidades as que tomam maior força são a ida de Lula para liderar a equipe ministerial de Dilma (tentando amenizar a crise do impeachment e evitando sua prisão, devido ao foro privilegiado, em um só golpe) e a tentativa de aprovação de uma emenda constitucional transformando o Brasil numa república semi-parlamentar (para conseguir modificar o governo rapidamente diante de uma nova crise), devemos salientar que as duas saídas apontadas acimas não são contraditórias, mas sim complementares, são recursos últimos diante de um inevitável aprofundamento da crise.

O esgotamento político da frente popular e do PT é um fato dado. As massas fizeram uma experiência política e estão tirando suas conclusões dessa experiência. A questão de quanto tempo durará o esgotamento do governo, da frente popular e do PT serve apenas aos interesses frios e calculistas da burguesia. Para as massas o governo do PT está politicamente liquidado. O regime político foi contaminado profundamente e qualquer das saídas burguesas (impeachment, renúncia, cassação do mandato, parlamentarismo) de momento não conterão o ódio popular e nem serão uma via de superação da crise. Somente um governo dos trabalhadores pode oferecer uma alternativa socialista que supere todo este impasse político.

A crise que abate aos verdadeiros militantes da esquerda não é, e nem pode ser, a crise gerada pelo esgotamento do PT e do lulismo, mas sim a crise de direção revolucionária, ou seja, dar uma perspectiva de conjunto à classe trabalhadora construindo um partido operário de massas e com um programa revolucionário. Esse é o caminho para abrir novas perspectivas para a classe trabalhadora! 


                                            Perspectivas

Essa crise não tem, nem poderia ter saídas fáceis ou rápidas. Pelo contrário, ela é produto das contradições inerentes, principalmente econômicas, nos marcos nacionais e internacionais, e não terá uma solução rápida. Possivelmente se arrastará por um longo período, somente o proletariado poderá dar uma saída progressista para essa crise. Esse é o ator que ainda não entrou em cena, mas que pode dar um outro rumo para o fim desta crise.

A questão que fica para reflexão é: se a esquerda classista não aproveitar essa oportunidade de ouro de rotundo fracasso do governo do PT e ao mesmo tempo de divisão e impasse dentro da oposição burguesa (PSDB e seus acólitos), para crescer e se tornar uma alternativa, mesmo que minoritária, quando é que se apresentará como alternativa? Quando a crise tiver sido totalmente superada?

    O papel da esquerda nessa crise não pode ser o de um mero refém da política de colaboração de classes. A luta por manter a independência política das organizações e partidos da esquerda deve nortear a luta dos trabalhadores.

    A esquerda está divida, a grosso modo, em três grandes blocos: os primeiros são os paladinos da teoria do golpe de Estado eminente através do impeachment ou da cassação do mandato de Dilma (o PT, sua ala esquerda e seus inúmeros satélites), para todo esse bloco qualquer crítica ao governo deve ser postergado para depois do término da atual crise de poder. Ou seja, para um futuro incerto...Como essa crise só deve terminar após a queda do governo, entrementes, sustentam o atual governo e seu ajuste, custe o que custar! Já um segundo grupo centrista defende lutar contra esse governo, mas desde que ele continue efetivamente no poder, portanto fazem um jogo duplo de mera oposição pró-forma, enquanto se opõe, de fato, a qualquer tentativa de construir uma alternativa real de poder para derruba-lo (PSOL,PCB, organizações populares e de esquerda, etc, etc). São os campeões da luta contra o ajuste, porém sem lutar contra esse governo! Separam a política econômica e o ajuste em curso do governo Dilma, como se isso fosse possível! Um terceiro e último bloco bloco é formado por setores da esquerda que apresentam uma critica e independência a todos e qualquer dos setores do regime político, (PSTU, etc), mas infelizmente, no último último período, capitularam diante do golpe em curso e jogaram na mesma panela a esquerda governista que colaborava com a burguesia com ambas as frações da própria burguesia, a que é dominante e dá o golpe e a que sofre o revés e o golpe.

Várias organizações e partidos estão como que mesmerizados diante dos ataques sofridos pelo governo Dilma. Antes de mais nada o governo do PT é responsável pelas suas inúmeras contradições. O PT lutou durante décadas expulsando a esquerda, e se aliando ao grande capital. Um governo desses não precisa da defesa dos trabalhadores, mas sim do grande capital que foi seu aliado estratégico em todos esses últimos 25 anos. A posição do partido bolchevique (rearmado por Lenin com as famosas Teses de Abril) diante do governo “socialista” de Kerensky deveria ser reestudada por todos aqueles que ficam reféns da política e da chantagem burguesa do PT diante das massas. Os que chantageiam diariamente as massas com golpes de Estado de todas as espécies e matizes são os mesmos que sub-repticiamente penalizam os trabalhadores com o ajuste fiscal ao raiar do dia e depois, na surdina, premiam o grande capital e os políticos burgueses ao cair da noite com isenções fiscais e aumentos na taxa de juros.

   Um bom exemplo do quanto a esquerda e suas direções estão imobilizados diante do ajuste fiscal e do atual governo é que não há nenhum movimento no sentido de organizar nacionalmente uma greve geral como arma para se lutar contra o ajuste e o golpe que se se organiza. A esquerda que tem forte presença nos sindicatos e nas centrais sindicais faz vista grossa de que a burguesia organiza um grande ajuste contra a classe trabalhadora. Não tomam nenhuma política organizativa efetiva, a não ser palavras de ordem vagas em que tanto a greve geral como a luta contra o ajuste transformam-se em mantras sem nenhum conteúdo político.

Ficar a reboque de qualquer dos dois setores burgueses em disputa (os que defendem o impeachment e os que defendem o governo Dilma) só deixará a classe trabalhadora e a esquerda de mãos atadas diante das próximas lutas.

Qualquer seja o setor vitorioso podemos antecipar que o Brasil terá nos próximo governo um ajuste que atingirá grande parte da população brasileira com cortes de serviço público, desemprego, arrocho, inflação e aumento de impostos.

Um setor importante da burguesia já fareja o cheiro de pólvora e gasolina no ar, com receio de desatar uma grande revolta popular (nesse sentido, as mobilizações de 2013 podem ser vistas como um presságio do que está por vir), este é o elemento que ainda não está presente para dar uma coloração ou matiz revolucionário à crise em andamento. Nesse sentido é que a esquerda classista necessita de independência do PT e seus satélites frente-populistas e defensores da conciliação e colaboração de classes.

    Devemos denunciar veementemente os setores que se aliaram ao PT e que agora vão querer posar de campeões da luta de classes. Assim como seus representantes na burocracia sindical e nos movimentos sociais, que agora posam de classistas com um chamado para que se rompa com o governo Dilma e com o ajuste, mas que foram os primeiros a defender com unhas e dentes esse governo há apenas alguns anos! Toda organização operária, popular e estudantil também necessita de uma direção independente da burguesia, da colaboração de classes e da burocracia. Independência política para recriar uma nova esquerda classista. Esse é o desafio colocado agora. Essa é a arma para enfrentarmos o ajuste do grande capital. Esse é o sinal para construirmos uma perspectiva classista para as lutas que virão.

    O chamado de um congresso da classe trabalhadora para discutir profundamente essa crise e mobilizar os trabalhadores é uma necessidade premente. Conlutas e outros setores combativos do movimentos operário poderiam fazer um chamado nesse sentido. Um congresso desse tipo também funcionaria como uma frente única, ou um polo classista, para se lutar contra a direita de dentro e de fora do governo Dilma, a direita endógena e a direita exógena, ambas inimigas históricas do proletariado.

A contradição presente na situação política é que de um lado as massas não querem voltar para uma situação anterior ao governo do PT (ou seja, um governo burguês tipo PSDB, que se esgotaria rapidamente diante de uma crise similar a essa), mas também não querem continuar com o governo corrompido e desmoralizado do PT. A esquerda classista deve lutar por separar a classe trabalhadora do cadáver insepulto da esquerda oportunista e frente populista do PT e seus aliados burgueses e pequeno-burgueses. Somente criando uma alternativa classista independente de qualquer fração da burguesia poderemos caminhar para frente em busca de uma perspectiva socialista.

O governo que queremos não deve ser o de nenhuma ala da burguesia em aliança ou não com setores da pequena-burguesia. Somente um governo dos trabalhadores pode romper com o imperialismo e ao mesmo tempo derrubar a nossa classe opressora. 

     A construção de um partido operário como complemento a tudo que foi dito acima não é um luxo teórico, mas uma necessidade imediata, retirada da dura realidade em que vivem as massas exploradas deste país. A discussão deve ser colocada como um eixo para todos os setores que tiraram as conclusões necessárias de toda essa crise, que não querem seguir mais o caminho da colaboração de classes e nem o caminho estreito e obtuso das seitas. O que devemos buscar é uma política para toda classe trabalhadora e para o operariado, um programa e um partido que expressem essa experiência. Esse é o primeiro passo para tirar o Brasil da crise e do impasse no qual está afundado! O partido operário é o primeiro passo para uma classe social que quer deixar de ser oprimida e buscar uma nova perspectiva histórica. O proletariado brasileiro já demonstrou seu grande valor com suas lutas, à tarefa agora é organizar seu programa e sua força, ou seja, o seu verdadeiro partido! Seu objetivo? Derrubar esse regime político burguês, corrupto e ajustador e colocar em seu lugar um verdadeiro governo da classe trabalhadora!