quinta-feira, 2 de junho de 2016

O GOLPE DESMASCARADO E O GOVERNO DESNUDADO!

                                                                               


O VAZAMENTO DOS DIÁLOGOS DE ROMERO JUCÁ EXPÕE AS ENTRANHAS DO GOLPE E DEIXA O GOVERNO TEMER NU DIANTE DE SUAS INÚMERAS CONTRADIÇÕES!

Publicado originalmente em 24/05/2016

David Lucius

As entranhas do golpe foram expostas de uma forma inusitada. Nesta segunda-feira, 23 de maio, os meios de comunicação reproduziram o vazamento de um diálogo do então ministro e senador licenciado Romero Jucá (um dos principais articuladores do golpe parlamentar) com Sérgio Machado (ex-presidente da Transpetro). Nos diálogos, que deixam os vazamentos do ex-senador Delcídio parecerem uma brincadeira de criança mal comportada, Jucá e Sérgio Machado dialogam abertamente sobre os interesses, o desenvolvimento e as consequências do impeachment, ao serem revelados, os diálogos deixam claro e patente, até para os mais ignaros, que fomos vítimas de um golpe orquestrado pelo Congresso Nacional, com apoio do judiciário e do STF para colocar no poder um governo que representa os interesses das diversas frações da burguesia, de uma forma conjunta, ou seja, um golpe em que a burguesia unificou os setores oposicionistas e governistas, colocando para fora do governo os setores que não representavam claramente seus interesses, mas que apenas aliavam-se de forma indecisa e insegura na defesa dos interesses do grande capital.

Após a crise econômica se abater de forma fulminante, Dilma sofreu um desgaste profundo. Em meio a crise e a inúmeras denúncias de corrupção, seu governo tenta de forma desesperada realizar um ajuste fiscal contra os interesses da grande maioria da população, primeiro timidamente, no final de seu primeiro governo com o então Ministro Guido Mantega, e depois de forma mais agressiva com o Ministro Joaquim Levy. Devido a imensa oposição popular seu governo tenta realizar as reformas de forma paulatina, sem o apoio do Congresso, que prefere iniciar um processo de chantagem e barganha política como meio de obter regalias políticas e econômicas. O desgaste acaba numa guerra aberta com o Congresso, representado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Aos poucos, tanto a tropa de choque de Eduardo Cunha, quanto os deputados da base do governo (os que não faziam parte do PT e do PcdoB) e os da oposição fecharam questão em realizar o impeachment para colocar um governo que os blindassem da operação Lava-Jato e realizasse um ajuste fiscal que fosse realizado sem meias medidas, um governo que defendesse os interesses da burguesia, o grande capital e salvasse o regime político do total esgotamento, evitando que fossem consumidos em escândalos de corrupção e por delações premiadas, com um amplo apoio da imprensa burguesa em suas diversas tendências, da classe média reacionária (os coxinhas) e da quase totalidade dos partidos políticos burgueses.

Nas gravações, Jucá fala da necessidade de se organizar o impeachment para impedir a continua “sangria” dos políticos burgueses (em especial os do Congresso), barrar as delações premiadas, o papel de Temer como aliado íntimo de Cunha, o papel do STF e da imprensa no golpe, e até a prisão de Lula para inviabilizar o final do governo Dilma.

As gravações, que segundo fontes são apenas o início de uma séria devastadora, são uma aula de como se organiza um golpe e os interesses de classe por de trás do golpe, assim como demonstra que o governo de colaboração de classes do PT apenas abriu o caminho para essa trajetória ao não organizar uma resistência popular e operária contra o processo de impeachment e por ter dado o pontapé inicial no ajuste fiscal, estando totalmente desmoralizado diante das massas para realizar essa luta.

As contradições afloram de forma clara e o governo Temer já começa a ser colocado contra a parede por um grande movimento popular que pede sua saída, nas ruas o grito de Fora Temer já é uníssono, mas não é complementado por um de Volta Dilma, os setores mais ligados ao PT ficam agora constrangidos ao ver que o executor do ajuste é Henrique Meirelles, antigo Presidente do Banco Central da Era Lula. Se dermos crédito a todo o diálogo realizado por Jucá e seu interlocutor estaríamos diante de um pacto de não agressão, em troca da imunidade para alguns dirigentes do PT, assim como para o resto dos políticos afetados pela Lava-Jato. O esgotamento do PT e da frente popular ficam mais evidentes a capa novo capítulo da crise.

O governo Temer é um governo puro da burguesia, um governo do ajuste, que teve sua forma híbrida de colaboração de classes com o período dos governos do PT, por isso que o que vemos é mais do mesmo, só que de uma forma pura e condensada. Onde antes vimos o germe, agora vemos uma planta germinando, contudo para a analogia ser perfeita seria melhor compará-la a alguma espécie de parasita ou a uma erva daninha.

Há quase 80 anos, um dos grandes teóricos do marxismo, Leon Trotsky, assim definia a crise de Estado de um governo de Frente Popular (em que há a colaboração de um partido pequeno-burguês ou operário de esquerda com partidos burgueses):

O governo moderno nada mais é do que um comitê para administrar os negócios comuns de toda a classe burguesa." Nesta fórmula sucinta, que os dirigentes social-democratas desprezavam como um paradoxo jornalístico, encontra-se, na verdade, a única teoria científica sobre o Estado. A democracia idealizada pela burguesia não é, como pensavam Bernstein e Kautsky, uma casca vazia que se pode, tranquilamente, encher sem se importar com o conteúdo. A democracia burguesa só pode servir à burguesia. O governo de "Frente Popular" dirigido por Blum ou Chautemps, Caballero ou Negrin é tão somente "um comitê para administrar os negócios comuns de toda a classe burguesa". Quando este comitê se sai mal em seus negócios, a burguesia expulsa-o do poder a pontapés.”

O texto apesar de quase centenário, parece que foi escrito ontem, tamanha a precisão com que pode ser aplicado à crise política e econômica no Brasil e todas as suas variáveis e possíveis consequências.