O
VAZAMENTO DOS DIÁLOGOS DE
ROMERO JUCÁ EXPÕE AS ENTRANHAS DO GOLPE E DEIXA O GOVERNO TEMER NU
DIANTE DE SUAS INÚMERAS CONTRADIÇÕES!
Publicado originalmente em 24/05/2016
David
Lucius
As entranhas do golpe foram expostas de uma forma inusitada. Nesta segunda-feira, 23 de maio, os meios de comunicação reproduziram o vazamento de um diálogo do
então ministro e senador licenciado Romero Jucá (um dos principais
articuladores do golpe parlamentar) com Sérgio Machado (ex-presidente
da Transpetro). Nos diálogos, que deixam os vazamentos do ex-senador
Delcídio parecerem uma brincadeira de criança mal comportada, Jucá
e Sérgio Machado dialogam abertamente sobre os interesses, o
desenvolvimento e as consequências do impeachment, ao serem
revelados, os diálogos deixam claro e patente, até para os mais ignaros, que fomos vítimas de um golpe orquestrado pelo Congresso
Nacional, com apoio do judiciário e do STF para colocar no poder um
governo que representa os interesses das diversas frações da
burguesia, de uma forma conjunta, ou seja, um golpe em que a burguesia
unificou os setores oposicionistas e governistas, colocando para fora
do governo os setores que não representavam claramente seus
interesses, mas que apenas aliavam-se de forma indecisa e insegura na
defesa dos interesses do grande capital.
Após a crise
econômica se abater de forma fulminante, Dilma sofreu um desgaste
profundo. Em meio a crise e a inúmeras denúncias de corrupção,
seu governo tenta de forma desesperada realizar um ajuste fiscal contra os interesses da grande maioria da população, primeiro
timidamente, no final de seu primeiro governo com o então Ministro Guido Mantega, e
depois de forma mais agressiva com o Ministro Joaquim Levy. Devido a
imensa oposição popular seu governo tenta realizar as reformas de
forma paulatina, sem o apoio do Congresso, que prefere iniciar um
processo de chantagem e barganha política como meio de obter
regalias políticas e econômicas. O desgaste acaba numa guerra
aberta com o Congresso, representado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Aos poucos, tanto
a tropa de choque de Eduardo Cunha, quanto os deputados da base do
governo (os que não faziam parte do PT e do PcdoB) e os da oposição
fecharam questão em realizar o impeachment para colocar um governo
que os blindassem da operação Lava-Jato e realizasse um ajuste fiscal que fosse realizado sem meias medidas, um governo que
defendesse os interesses da burguesia, o grande capital e salvasse o
regime político do total esgotamento, evitando que fossem consumidos em escândalos de corrupção e por delações premiadas, com um amplo
apoio da imprensa burguesa em suas diversas tendências, da classe
média reacionária (os coxinhas) e da quase totalidade dos partidos políticos burgueses.
Nas gravações, Jucá
fala da necessidade de se organizar o impeachment para impedir a
continua “sangria” dos políticos burgueses (em especial os do
Congresso), barrar as delações premiadas, o papel de Temer como
aliado íntimo de Cunha, o papel do STF e da imprensa no golpe, e até
a prisão de Lula para inviabilizar o final do governo Dilma.
As gravações, que
segundo fontes são apenas o início de uma séria devastadora, são
uma aula de como se organiza um golpe e os interesses de classe por
de trás do golpe, assim como demonstra que o governo de colaboração
de classes do PT apenas abriu o caminho para essa trajetória ao não
organizar uma resistência popular e operária contra o processo de impeachment e
por ter dado o pontapé inicial no ajuste fiscal, estando
totalmente desmoralizado diante das massas para realizar essa luta.
As contradições
afloram de forma clara e o governo Temer já começa a ser colocado
contra a parede por um grande movimento popular que pede sua saída,
nas ruas o grito de Fora Temer já é uníssono, mas não é
complementado por um de Volta Dilma, os setores mais ligados ao PT ficam
agora constrangidos ao ver que o executor do ajuste é Henrique
Meirelles, antigo Presidente do Banco Central da Era Lula. Se dermos crédito a todo o diálogo realizado por Jucá e seu interlocutor estaríamos diante de um pacto de não agressão, em troca da imunidade para alguns dirigentes do PT, assim como para o resto dos políticos afetados pela Lava-Jato. O esgotamento do PT
e da frente popular ficam mais evidentes a capa novo capítulo da
crise.
O governo
Temer é um governo puro da burguesia, um governo do ajuste, que teve
sua forma híbrida de colaboração de classes com o período dos governos do PT,
por isso que o que vemos é mais do mesmo, só que de uma forma pura
e condensada. Onde antes vimos o
germe, agora vemos uma planta germinando, contudo para a analogia ser
perfeita seria melhor compará-la a alguma espécie de parasita ou a uma
erva daninha.
Há quase 80 anos, um
dos grandes teóricos do marxismo, Leon Trotsky, assim definia a crise
de Estado de um governo de Frente Popular (em que há a colaboração
de um partido pequeno-burguês ou operário de esquerda com partidos
burgueses):
“O
governo moderno nada mais é do que um comitê para administrar os
negócios comuns de toda a classe burguesa." Nesta fórmula sucinta, que os dirigentes social-democratas
desprezavam como um paradoxo jornalístico, encontra-se, na verdade,
a única teoria científica sobre o Estado. A democracia idealizada
pela burguesia não é, como pensavam Bernstein e Kautsky, uma casca
vazia que se pode, tranquilamente, encher sem se importar com o
conteúdo. A democracia burguesa só pode servir à burguesia. O
governo de "Frente Popular" dirigido por Blum ou Chautemps,
Caballero ou Negrin é tão somente "um comitê para administrar
os negócios comuns de toda a classe burguesa". Quando este
comitê se sai mal em seus negócios, a burguesia expulsa-o do poder
a pontapés.”
O texto apesar de quase centenário, parece que foi escrito ontem,
tamanha a precisão com que pode ser aplicado à crise política e
econômica no Brasil e todas as suas variáveis e possíveis consequências.