David Lucius
As recentes
eleições não conseguiram superar a enorme crise que afeta todo o
regime político do país. A recessão, o desemprego e a profunda
instabilidade e bancarrota econômica, que contamina todos os poros
da sociedade, são a base sobre as quais desenvolvem-se todas as
demais crises, contaminando-se mutuamente.
A prisão de
Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e principal organizador do
impeachment de Dilma é apenas mais um capitulo nesse intrincado
enredo.
O governo Temer,
fruto de um golpe parlamentar que funde uma grande parte dos partidos
que sustentavam o governo anterior (do PT) ao PSDB e ao DEM, procura
aprofundar, de forma avassaladora, os ajustes econômicos iniciados
na gestão Dilma. A aprovação da PEC 241 (projeto que limita os
gastos públicos), nessa semana, é apenas o inicio de
uma gigantesca política para jogar o ônus da crise econômica nas
costas da maioria dos trabalhadores, dos setores oprimidos e até
mesmo de alguns setores da classe média.
Diante desse
descalabro as organizações sindicais, populares e os partidos de
esquerda dão tímidas repostas e não procuram utilizar a totalidade de suas forças e mobilizar uma grande parcela da população para lutar contra o
governo. A CUT, que possui cerca de três mil e quinhentos
sindicatos e entidades filiadas e cerca de 5 milhões de associados,
pouco fez em matéria de mobilização. Com um calendário que aponta
o dia 11 de novembro como um Dia Nacional de Paralisações a
burocracia sindical vai colocando as lutas contra o governo Temer em
um processo morno, adaptado a uma tentativa de "estabilizar"
o governo, que procura muito mais um "desgaste" político e
eleitoral e não seu real enfrentamento a partir da
organização dos trabalhadores. A luta contra os planos de ajuste
enquadram-se em uma "oposição responsável", que realiza
um tipo de oposição parlamentar apoiado nos partidos de esquerda e
nos sindicatos, não como um meio de organização e luta efetiva dos
trabalhadores, mas apenas como uma "pressão" para
desgastar o governo com claro interesse eleitoral em 2018, ou para as
calendas gregas.
Grande parte do
movimento sindical, da esquerda e dos movimentos sociais, vão a
reboque dessa política, que procura fazer do não enfrentamento a
arma para organizar as futuras derrotas. Similar ao que ocorreu
durante o governo Itamar e FHC, tanto a esquerda como o movimento
sindical e popular (conduzidos pelas suas burocracias) tentam
transformar os movimentos dos trabalhadores em meros
apêndices para desgastar o governo. A organização real, a luta
efetiva, e a discussão de um programa que possibilite um
desenvolvimento da consciência de classe, passa longe dos interesses
mesquinhos da esquerda e da burocracia sindical.
Já a juventude
marca uma posição combativa e de luta ocupando mais mil escolas e
82 campus universitários, mobilizando-se de forma independente
contra a PEC 241 e os ajustes do governo Temer. Mostram uma
inconformidade com a situação de crise, o desemprego e a recessão que
atingem a juventude de forma acentuada em todo o país.
As eleições
nacionais só podem ser analisadas dentro do quadro de profunda crise
que abala não só a economia, a sociedade e próprio Estado. A
política do atual governo tenta transferir de forma profunda o ônus
da crise capitalista, encobrindo-a como uma crise de "gestão do
Estado", para as classes menos favorecidas da sociedade, em
especial a classe operária, os trabalhadores e assalariados.
As eleições galvanizaram a raiva que toda uma parcela da sociedade sentia pela
evolução da crise e descarregaram sobre o PT. De fato todo o regime
atual teve origem no governo do PT e todos os ajustes agora em curso, foram engendrados no governo do PT, em especial durante o
Ministério de Joaquim Levy. O próprio Ministro da Economia do atual
governo, Henrique Meireles, foi ministro do primeiro governo Lula. A
guinada a direita nas eleições foi o resultado de um voto de
protesto, que não se deslocou à esquerda, porque a esquerda não
soube marcar uma posição clara de combate ao governo burguês do PT,
de colaboração de classes, que soçobrou e sofreu um golpe
parlamentar, organizado do interior do próprio governo (no qual
Temer foi um dos organizadores) com a finalidade de aprofundar a
política de ajuste e desviar-se das operações judiciais anti-corrupção
em curso.
Diante de toda essa
crise que desenvolve-se, as candidaturas a esquerda do PT (PSTU, PCB e
PSOL) não conseguiram marcar uma clara e efetiva demonstração de
enfrentamento do golpe e do ajuste em curso.
Agora no segundo turno
temos apenas as candidaturas do PSOL em Belém e do Rio de Janeiro. A
adaptação do PSOL ao transformar-se, sem críticas, em um apêndice
das políticas de colaboração de classes do PT, vão dando passos
firmes, repetindo a história, com uma política que seja "confiável"
aos mercados e à própria burguesia.
A "Carta aos Cariocas" que o candidato Fleixo do
PSOL lançou é similar nos propósitos a "Carta aos
Brasileiros" que Lula utilizou para selar seu acordo com a
política burguesa em 2002.
O PSOL preocupa-se não em organizar os
trabalhadores para enfrentar uma dura resistência contra o ajuste e
um governo golpista, mas em fazer uma oposição parlamentar, no
melhor estilo do PT e dar garantias ao regime político burguês de que
pretende "atuar de forma ética e equilibrada junto ao setor
privado" e que "nenhum secretário será nomeado por
indicação de partido político".
Tudo de forma a "acalmar"
os setores burgueses que vem com "desconfiança" o PSOL.
Não é de se estranhar que a quase unanimidade da esquerda brasileira apoie, de forma "crítica", ou não, Fleixo no RJ.
É a repetição da política do PT, porém de uma
forma tímida e discreta, como se tivessem medo de serem
lembrados de que a política de colaboração de classes,
democratizante até a medula, do PT, abriu passagem para a política
de capitulação diante do golpe e do ajuste, e foi essencial para
revitalizar os partidos burgueses que puderam utilizar o capital
político do PT para controlar o Estado, o seu governo e impedir qualquer mínima evolução política independente das massas.
O PSOL quer repetir essa
tragédia, mas de forma insípida, cômica e burlesca.
Ao não apontar uma
evolução na consciência de classe, na organização e nem na luta das massas, nossa posição, de Tribuna Classista, nas eleições municipais do segundo turno, é pelo
VOTO NULO.
Não iremos dar nosso aval para se repetir a tragédia da
política de colaboração de classes que o PT desenvolveu durante as
últimas décadas e que ainda é o principal empecilho para a
evolução da consciência de política das massas.
A crítica do que vivenciamos
hoje deve ser o primeiro passo para a sua superação.