quarta-feira, 28 de setembro de 2016

FORA TEMER! PELA GREVE GERAL PARA DERROTAR O AJUSTE

                                                                               


Gustavo Montenegro


                               Crescem as lutas contra o ajuste

Os trabalhadores bancários já estão há quase um mês em greve reivindicando um aumento salarial que contemple a inflação acumulada (9,5%) mais 5% de aumento real, assim como melhores condições de trabalho.

A medida chama a atenção pela sua contundência: um informe do diário O Globo (20/09) que faz um levantamento da situação por estados indica que em quase todos eles uma média de 78% das agências bancárias aderiram à greve.

Após a primeira semana de greve, os banqueiros ofereceram uma proposta de aumento de 7%, que foi rechaçada por estar abaixo da inflação. Os bancos argumentam que o país se encontra em crise, mas os trabalhadores enfatizam os fabulosos lucros que eles receberam nos últimos tempos, incluindo as administrações “progressistas” de Lula e Dilma. Nas palavras de um dirigente do Sindicato dos bancários de São Paulo, “os banqueiros não possuem crise, tendo em vista os benefícios que obtiveram nos últimos anos. Se tomamos os balanços dos maiores bancos brasileiros nos últimos seis meses, o que se vê são benefícios cada vez maiores.” (Correio da Cidadania, 14/09).

A crise brasileira, na verdade, está sendo descarregada pelo governo e as patronais sobre os ombros dos trabalhadores.

O governo impulsiona um pacote de medidas anti-operárias que inclui a elevação da idade mínima para a aposentadoria e uma reforma trabalhista flexibilizadora que “legaliza os contratos temporários inclusive por poucas horas e permite ampliar a jornada de trabalho de 8 a 12 horas diárias” (Página 12, 10/09), mantendo a jornada de 44 horas semanais, mas adequando sua distribuição aos caprichos dos patrões. 

Por este motivo, os metalúrgicos do ABC paulista preparam uma jornada de luta para o dia 29/09.

Em meio desta ofensiva capitalista, a greve dos bancários reveste de particular importância para o movimento operário e o povo, que enfrenta nas ruas o golpista Temer, que vê a sua impopularidade aumentar principalmente depois das multitudinárias manifestações pelo FORA TEMER.

A CUT se esquiva, no entanto, da convocação da GREVE GERAL para quebrar o ajuste e o PT tenta limitar as mobilizações à reivindicação de novas eleições.

A conduta de ambos se transforma assim num fator de garantia da governabilidade.

                  PELO TRIUNFO DA GREVE DOS TRABALHADORES BANCÁRIO




quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A LUTA CONTRA O GOLPE, O AJUSTE E A CRISE DO REGIME POLÍTICO

                                                                        

A análise do período atual deve considerar a gigantesca crise que estamos passando, seu significado econômico, político e social e quais as perspectivas que podemos ter para modificar o atual panorama para dar uma saída a esta crise, principalmente sob o ponto de vista da classe trabalhadora e da maioria esmagadora da população.

A crise que vivenciamos é parte de uma crise maior, uma crise histórica do capitalismo, que está, nitidamente, em seu período de declínio, um período de colapso de suas relações sociais, em que a estabilidade econômica e social já não pode ser assegurada nem mesmo nos países imperialistas, que constituem o centro da economia mundial. Estamos diante de uma bancarrota de todo o sistema, levando a queda de regimes políticos inteiros, a uma crise que afeta diretamente a União Europeia, os Estados Unidos, a China, o Japão e toda Ásia, e consequentemente a América Latina. Sem uma análise que coloque a crise mundial do sistema capitalista como o eixo central, como pano de fundo, todos os grandes fatos históricos que vivenciamos no último período perdem a sua concatenação lógica intrínseca, e tornam-se um amálgama de crises sem sentido e nem direção.

A queda internacional dos preços das matérias-primas é apenas mais um episódio nessa luta, que afetou diretamente as economias nacionais de todo o continente e abalou profundamente grande parte dos regimes políticos do Cone Sul. Se num primeiro momento a crise mundial desenvolveu-se e irradiou-se a partir dos EUA e da Europa, em seguida afetou de forma inexorável toda a sociedade latino-americana, e o Brasil, nesse contexto, sofreu uma de suas maiores crises, onde a economia, a política e as relações sociais foram afetadas profundamente.

Durante um longo período, o PT desenvolveu uma política de colaboração de classes com a burguesia, colocou os movimentos sociais, o movimento operário (através da CUT) e seus militantes, em uma camisa de força na qual tentava impedir qualquer tipo manifestação independente das massas com vistas a lutar contra a opressão nacional e de classe. Seu papel foi subordinar e arregimentar todos os movimentos sociais a reboque de sua política de aliança com um amplo setor de frações da burguesia e que tinha, em última análise, apenas o objetivo de preservar e aumentar os grandes lucros do capital como um todo, e o capital financeiro de forma particular. O próprio Lula sempre repetiu o sermão de que "os empresários nunca ganharam tanto dinheiro como no meu governo". Somente o lucro dos bancos foi oito vezes maior no governo Lula do que no governo FHC, que o precedeu (R$ 279,9 bilhões contra R$ 34,4 bi).

A crise mundial manifestou-se no final do governo Lula e colocou em xeque os grandes lucros e a estabilidade de todo o sistema. Um dos maiores fatores de lucros dos bancos foi o altíssimo endividamento da população e seus juros astronômicos. Temos, além disso, o endividamento público do Estado como um todo, que paga uma das maiores taxas de juros mundiais (acima de 14%). A dívida bruta brasileira já cresce em ritmo grego. Grande parte da burguesia (não somente os bancos) investiu nos títulos da dívida pública, não se precisa de muita astúcia para se chegar a conclusão que um "ajuste" para frear o déficit fiscal foi quase um instinto de sobrevivência para a burguesia, que parasita de forma sistemática o Estado, garantir e sustentar os seus lucros. O risco de um default (calote) por parte do Estado ameaça os altos lucros da burguesia, nacional e internacional, como um todo. O sistema de endividamento financeiro é um dos combustíveis da crise.

O PT, que sustentava um governo de colaboração de classes com uma das frações da burguesia e do grande capital, começou a perder o controle da economia e do poder político diante do agravamento da crise econômica e de suas consequências. Seus sócios políticos e econômicos foram “abandonando” o barco diante do desmoronamento do governo e com a perda de popularidade, não só nas camadas médias, mas principalmente nas camadas mais oprimidas. O grande capital que parasita o Estado e que até ontem estava com o governo, transformou-se no principal promotor de um golpe parlamentar através do impeachment, especialmente os setores industriais paulistas agrupados na FIESP. A burguesia e seus partidos foram abandonando paulatinamente o PT, enquanto o golpe foi estruturando-se dentro do próprio governo Dilma, com o PMDB e seus aliados como principais protagonistas, liderados por Michel Temer, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros.
Capítulo a parte merece a frente popular de colaboração de classes, entre o PT e os demais partidos burgueses (com PMDB e demais aliados), que conseguiu eleger com seu aval, o que muitos consideram, o Congresso mais reacionário de nossa República, recheado de evangélicos, latifundiários e deputados ligados a oligarquias regionais. As chamadas bancada BBB (boi, bíblia e bala) e do Centrão de Eduardo Cunha, foram, em grande parte, eleitos em alianças regionais com o PT. Políticos e deputados burgueses foram capitalizados e eleitos através da aliança eleitoral com o Partido dos Trabalhadores e com o PCdoB, não apenas o seu vice golpista, Michel Temer, que foi colocado em uma posição privilegiada para a articulação do golpe, mas também os deputados do Centrão e de boa parte da BBB, assim como os demais partidos burgueses, que o PT acobertou em seus ministérios, como o PSD de Kassab, entre outros, e que continuam no poder, graças a um golpe parlamentar que constituiu-se num golpe da burguesia como classe, com interesses definidos e apoiado claramente pela imprensa e pela mídia burguesa.

A possibilidade de neutralizar a Operação Lava-Jato (e outras operações em curso), também foi um dos objetivos do golpe, já que foi utilizada como cavalo de batalha contra o PT (que se utilizou dos esquemas criados pelos próprios partidos burgueses), era lugar comum que só se conseguiria abafar os "escândalos" e operações com o impeachment contra Dilma, o PT e a conclusão do golpe parlamentar. Vazamentos "delataram" os objetivos do golpe antes mesmo que o golpe estivesse concluído, a realidade foi mais fantástica do que qualquer ficção.
O governo Temer constituiu um verdadeiro ministério de processados na Lava-Jato e de outras operações, dando assim foro privilegiado a vários acusados e demonstrando que há dois pesos e duas medidas, conforme os interesses de classe, assim como em toda sociedade. Como disse um notório político brasileiro: "aos amigos tudo, aos inimigos a lei".

Com a conclusão do processo de impeachment no Senado, o golpe parlamentar chega ao seu último e derradeiro capítulo. O PT, que durante 13 anos governou o país numa frente de colaboração de classes com uma parcela significativa da burguesia nativa, uma frente popular, foi derrubado por essa mesma burguesia (organizada dentro do PMDB, PSD e seus partidos acólitos), e que agora se rearticulou junto com a oposição burguesa (PSDB, DEM e partidos menores).

A burguesia unificou suas forças, momentaneamente, diante de suas inúmeras contradições, para tomar o poder através de uma manobra, um golpe parlamentar, que não visa de forma alguma liquidar ou diminuir a corrupção (característica histórica da burguesia em seu parasitismo estatal), ou substituir um governo que não geriu de forma “eficiente” a máquina do Estado, longe disso, o golpe visa garantir a continuidade da corrupção como “modus operandi” da burguesia e da política burguesa e o aprofundamento dos ajustes e reformas (trabalhista, previdenciária, aumento de impostos, etc), fazendo com que o ônus da crise recaia única e exclusivamente sobre as costas da classe trabalhadora, e da maioria esmagadora da população, aprofundando assim a recessão e a consequente depressão econômica, aumentando o desemprego e a desindustrialização do país. O Estado cada vez mais é desmantelado (cortes nas áreas sociais, de saúde, educação, etc), levando seguramente a um colapso de todo o sistema.
Se para uma parcela da sociedade, a luta contra o golpe e pelo Fora Temer confundia-se com o Fica Dilma, agora concluído o processo de impeachment delimita-se claramente quem é a favor do regime político (e consequentemente do golpe) e quem é contra esse regime e tudo que o simboliza. A contradição de que o Fora Temer significa-se ao mesmo tempo um Volta Dilma foi superado pela fria realidade dos fatos. A situação política que era sinuosa e emaranhada, vai aos poucos ficando clara para amplos setores das massas que foram iludidas pelo grande capital e seus agentes. A política de ajuste fiscal do novo governo, que visa descarregar a crise sobre a classe trabalhadora e a maioria explorada vai sendo exposta, paulatinamente, a nu, e sem nenhum pudor, diante de uma parcela da população que não tinha ainda compreendido a natureza e o caráter desse governo e nem o seu profundo significado político.

O PT (sua direção) e uma parcela significativa da esquerda, que não só capitularam como participaram de conluios e acordos espúrios com os golpistas, jogam uma cartada decisiva ao tentar amarrar a esquerda e os movimentos sociais, que apontam uma tendência independente de luta contra o regime político de conjunto, com a consigna de "eleições antecipadas" e de "frente de esquerda", utilizam-na para desviar a luta dos que tentam, lutar contra o regime político vigente. Os mesmos setores que agora defendem essa política, como se fosse uma guinada à esquerda, são os mesmo que compuseram durante décadas uma frente com a burguesia e que foram chutados e golpeados por essa mesma burguesia, enquanto faziam descer pela goela abaixo dos trabalhadores o ajuste fiscal, iniciado no governo Dilma, com Mantega e depois com Joaquim Levy.

Esses setores que agora querem uma frente, não para lutar contra o golpe, mas para desviar a tendência de luta das massas, legitimar o golpe através de eleições antecipadas, em que se legitimaria o golpe e tudo que nele foi aprovado, assim como todos os ajustes constituídos e realizados.

Antecipar as eleições visa apenas capitalizar um novo governo e logicamente realizar um ajuste mais "brando" e "flexível", com um governo "legitimado" por novas eleições, numa tentativa de "estabilizar" a crise e o regime político, evitando assim, que o governo golpista corra o "risco" de ser ele próprio "golpeado" pela reação das massas.

A legitimação do golpe através de eleições antecipadas é, em última análise, um acordo político espúrio, como foi realizado no final ditadura militar para que o governo que o sucedesse não derrubasse o regime anterior, não desmontasse o Estado e não punisse os que participaram de todo o regime golpista. As eleições visam apenas ser a garantia do acordo em que ambas as partes "esqueceriam" as pugnas anteriores e o ajuste seria aplicado às massas, de forma paulatina, em troca de um acordo de "governabilidade".

A crise que se desenvolve tem uma base material bem definida. Para os incrédulos poderíamos citar os cerca de 2 milhões de empregos que foram aniquilados com a atual crise em apenas dois anos.

A maioria explorada necessita de um programa de luta que defenda claramente os interesses da classe trabalhadora. Sob essa perspectiva é que defendemos um Congresso da Classe Trabalhadora, para debater e elaborar um programa classista, que seja organizado pela base, pelos sindicatos e pelas Centrais sindicais combativas. A organização metódica de uma greve geral para lutar contra o ajuste é, no atual momento, não só uma arma, como um laboratório de organização para toda a classe operária, e o movimento popular pelo Fora Temer, com a consequente derrubada do regime político vigente, e a constituição de um governo dos trabalhadores, independente da burocracia e da burguesia, é o caminho para a superação dessa crise. Lógico que para isso temos que dar um combate para clarificar as ideias que norteiam a nossa luta, assim como nos delimitarmos, de forma intransigente, com aqueles que defendem a política de colaboração de classe, e defender assim uma política classista.

BRASIL: A CLASSE OPERÁRIA DEBATE A GREVE GERAL



Rafael Santos


De 1 a 3 de setembro aconteceu, em Florianópolis, o IX Congresso do SINTRASEM (Sindicato dos Trabalhadores municipais da capital catarinense). Com a presença de 200 delegados, representando 8.000 filiados, debateu-se durante três dias a situação política do Brasil e as tarefas que devem encarar o movimento sindical e a classe operária na nova etapa pós-golpista. Apresentaram teses, que foram editadas e distribuídas no caderno oficial do Congresso, 6 organizações da esquerda brasileira: Esquerda Marxista (Corrente O Militante Internacional), Unidade Classista (PCB), ConLutas-PSTU, Unidos Vamos à Luta-CUT (O Trabalho, ex lambertistas), Intersindical Central da Classe Trabalhadora (Psol) e Tribuna Classista (CRQI no Brasil). O PO da Argentina foi convidado por Tribuna Classista, com o apoio da direção do Sintrasem, para intervir no debate nacional e internacional.

O debate central girou sobre o balanço do governo do PT e a necessidade de enfrentar a ofensiva do governo Temer com a greve geral. A palavra de ordem “FORA TEMER” dominou as deliberações do congresso e serve como medida do repúdio que desperta o novo governo entre os trabalhadores.

Algumas correntes chamam a impulsionar a greve geral, mas esta proposta não é acompanhada por um balanço e uma ruptura política com o PT e suas burocracias nas organizações operárias. Ao contrário, para alguns setores estaria colocado uma pressão sobre a direção da CUT, para que a Central “volte a ser o ponto de apoio de nossas lutas, pressionando para que sua direção passe do discurso à ação.” Mas a CUT foi o veículo que restringiu a luta independente da classe trabalhadora, convertendo os sindicatos em escritórios do PT e do governo. Em nove meses do processo de impeachment golpista, estas direções burocráticas bloquearam toda a mobilização independente contra os golpistas, subordinando-se ao governo Dilma, que levava adiante o “ajuste” contra os trabalhadores. Concluído o julgamento político, a política do PT é assegurar a governabilidade. A CUT vem propondo uma medida de força, enquanto se acentuam e multiplicam em todo o país as mobilizações populares.

Opondo-se a estas tendências se encontravam correntes defensoras ativas de um plano de luta e da greve geral, partidárias, além disso, de rechaçar a política de colaboração de classes. O eixo desse rechaço girou em torno da ruptura do Sintrasem e de todas as organizações operárias com a CUT, a desfiliação e a saída da mesma. Isto é defendido pela Unidade Classista (PCB), uma ala do velho PC que enfrentou ao PT, e o PSTU, que dirige uma pequena central alternativa (CSP/CONLUTAS). A ruptura das organizações operárias com a burguesia se transformou na ruptura da CUT; a batalha por uma proposta, reagrupamento e programa de independência de classe é substituída por uma luta faccional de aparatos. O ABC dos que se reivindicam classistas é a defesa da frente única da classe operária em todos os níveis, e lutar em todos os sindicatos e centrais por uma nova direção revolucionária baseada em um programa revolucionário de independência política.

As deliberações do Congresso dos servidores municipais é um exemplo de amostragem da necessidade e da possibilidade de uma resposta coletiva dos trabalhadores. A esquerda classista tem uma oportunidade de apresentar um programa de conjunto frente à crise e de propor uma alternativa política de classe. No entanto, tende a limitar suas perspectivas às eleições municipais de outubro, a qual – importante registrar – passou desapercebida no congresso. Não houve propostas de apoio a qualquer candidatura. A esquerda não vai unificada em torno de posições de independência política. Alguns apóiam a frações do PT (que vão inclusive em alianças com seus antigos aliados convertidos em golpistas) ou a candidaturas burguesas ou oportunistas (PSOL). O PSTU se oferece como um canal independente, mas minoritário e com algumas propostas confusas.

Urge abrir um debate para desenvolver a palavra de ordem “FORA TEMER” e a greve geral, em função de uma crise de poder com uma possível irrupção das massas.

Esta perspectiva foi desenvolvida pelo TRIBUNA CLASSISTA – e apoiada por muitos delegados, que chamou a impulsionar a convocação de Congresso de trabalhadores nacional, para discutir as propostas políticas que permitam construir uma alternativa política e sindical independente dos trabalhadores.

A experiência de luta do PO na Argentina e a construção da FIT despertou um grande interesse nos delegados. Nossa proposta de luta contra o golpe sem apoiar o governo Dilma, a necessidade de uma delimitação implacável do nacionalismo burguês e do frentepopulismo, o rechaço às pseudo frentes de resistência contra Macri que agora diz impulsionar o Kircnerismo e o combate por um plano de luta independente contra os planos ajustadores do governo nacional de Macri e dos governos provinciais do PJ e a luta por uma nova direção com um programa classista revolucionário em todas as centrais e sindicato

Um fato marcante: no encerramento do congresso, os delegados assistiram um vídeo do deputado federal do PO, Néstor Pitrola, enfrentando a deputada Elisia Carrió, para repudiar o golpe de Temer e assinalando que no Brasil está se abrindo o caminho da luta pela Greve Geral .

terça-feira, 20 de setembro de 2016

TRIUNFO DA GRANDE GREVE DOS MUNICIPÁRIOS DE FLORIANÓPOLIS



Alfeu Bittencourt Goulart (Tribuna Classista e delegado do Conselho do Sintrasem)


Os servidores municipais de Florianópolis acabaram ocupando o gabinete do prefeito, o que levou a este a pedir à Câmara de Vereadores que o Projeto Lei nº 1560 fosse arquivado. Assim terminou a greve por tempo indeterminado contra o Prefeito César Souza (PSD) que se estendeu por onze dias com piquetes, assembleias e marchas massivas. Um dia antes aconteceu uma grande mobilização frente à Câmara de Vereadores sob uma chuva torrencial em uma clara demonstração da vontade de luta existente para que se investigue o roubo dos fundos públicos (operação Ave de Rapina). O projeto pretendia aprovar a fusão dos fundos de pensão e financeiros em uma operação de privatização destinada a cobrir o déficit de quatrocentos milhões de reais acumulados pelo executivo. Em uma greve anterior realizada em março, os trabalhadores que realizaram piquetes e manifestações foram ameaçados com processos policiais-judiciais. Agora, da mesma maneira que aconteceu naquela ocasião, os trabalhadores da educação, vigilância sanitária, construção, etc. aderiram massivamente à greve.

A retirada do Projeto privatizador fez com que todas as forças políticas representadas no comando de greve avaliassem isso como um triunfo e decidissem acabar a greve. O Tribuna Classista considerava que estavam dadas as condições para impor outras reivindicações pendentes na pauta: pagamento dos dias da greve de março aos contratados que se mobilizaram nos atos, etc. Mas ficamos em minoria frente ao resto dos agrupamentos. Ainda que houvesse uma insatisfação em setores da base da categoria, porque naquela oportunidade, depois de 20 dias de greve, o prefeito não cumpriu várias promessas. O Tribuna Clasista propôs que podíamos recuperá-las agora, continuando a luta. Por outro lado, o secretário da Saúde ameaçou aos trabalhadores e se negou a pagar as horas extras devidas, etc. De fato, o prefeito César Souza leva adiante os planos de ajuste iniciados pelo governo de Dilma e agora continuados pelo golpe de Temer que quer aprofundá-los para que sejam os trabalhadores que paguem a bancarrota capitalista.,

Como se propôs e se aprovou no Congresso da categoria realizado recentemente: pela escala móvel de salários e horas de trabalho, o controle operário da produção, a nacionalização sem indenização dos bancos e dos monopólios e de toda empresa que feche suas portas, abertura dos livros dos monopólios capitalistas, reforma agrária sob controle dos trabalhadores, não pagamento da dívida externa e interna.

Greve geral é a palavra de ordem que guia nossa. 

                                                                 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

FORA TEMER! ORGANIZAR A GREVE GERAL!

                                                                                               


É impossível analisar a crise econômica e política no Brasil sem caracterizar que o grande pano de fundo em que é projetado o filme da história mais recente do país é o da crise mundial do capitalismo que abala fortemente todo o planeta e particularmente nosso continente no último período.

Com a conclusão do processo de impeachment no Senado, o golpe parlamentar chega ao seu último e derradeiro capítulo. O PT, que durante 13 anos governou o país numa frente de colaboração de classes com uma parcela significativa da burguesia nativa, uma frente popular, foi derrubado por essa mesma burguesia (organizada dentro do PMDB, PSD e seus partidos acólitos), e que agora se rearticulou junto com a oposição burguesa (PSDB, DEM e partidos menores) para colocar um fim em um governo que tentou de todas as maneiras superar suas contradições internas e realizar uma política que sempre colocou em primeiro lugar os lucros das grandes empresas, dos grandes bancos e das grandes corporações em detrimento das necessidades básicas da população. Não podemos agora passar a mão na cabeça e ignorar que durante todo o tempo que governaram, criaram paulatinamente as condições para o estado de colapso no qual chegamos. Não é a toa que todos os ajustes e reformas que o governo golpista de Michel Temer discute e deseja implementar, tiveram início, em germe, dentro do governo do PT. 

A impossibilidade e incapacidade do PT realizar esses mesmos ajustes, favoráveis ao grande capital, pela franca oposição de sua base política, levou à queda do ministro Joaquim Levy, e depois acabou acentuando a tendência golpista dentro e fora do governo, afinal Temer e o PMDB que hoje são a expressão dos golpistas traidores, foram, até bem pouco tempo atrás, os cumplices e aliados principais do PT, e se o Congresso é considerado um dos mais reacionários da história, boa parte de seus deputados foram eleitos em alianças com esse mesmo PT, com o seu aval e utilizando o seu capital político, como é o caso do famigerado Eduardo Cunha, antigo aliado do PT, que se transformou em seu “grande inimigo”.

Com a conclusão do processo de impeachment, a burguesia unificou suas forças para tomar o poder através de uma manobra, um golpe parlamentar, que não visa de forma alguma liquidar ou diminuir a corrupção (característica histórica da burguesia em seu parasitismo estatal), ou substituir um governo que não geriu de forma “eficiente” a máquina do Estado, longe disso, o golpe visa garantir a continuidade da corrupção como “modus operandi” da burguesia e da política burguesa e o aprofundamento dos ajustes e reformas (trabalhista, previdenciária, aumento de impostos, etc), fazendo com que o ônus da crise recaia única e exclusivamente sobre as costas da classe trabalhadora, e da maioria esmagadora da população, aprofundando assim a recessão e a consequente depressão econômica, aumentando o desemprego e a desindustrialização do país. O Estado será cada vez mais desmantelado (cortes nas áreas sociais, de saúde, educação, etc), o que levará, seguramente a um colapso de todo o sistema (o que já podemos ver antecipadamente em alguns estados como o RJ e RGS em que não se consegue nem mais fazer o efetivo pagamento de salários do funcionalismo público em dia, quanto mais os demais pagamentos necessários para o funcionamento do Estado).

As manifestações de 2013 abriram uma luta política contra um regime opressor que deixava grande parte da população à margem da sociedade para garantir os grandes lucros da burguesia, essa mesma burguesia, açoitada pela crise mundial, também entrou em campo para garantir um governo que lhe pudesse garantir esses mesmos lucros, mas com a execução de um programa que lhe trouxesse ainda mais privilégios, diante de uma crise sem precedentes que atingia diretamente todas as classes sociais. Assim, 2013 abriu uma pugna pelo poder, no qual a burguesia conseguiu, após longas disputas e manobras, concluir seu golpe para tentar reestruturar o poder do Estado, o impeachment finaliza o golpe e a batalha pelo poder do Estado, mas apenas inicia mais um capitulo, mais profundo e visceral, na guerra da luta de classes.

Com o golpe concluído, finda em meio de um grande setor das massas que se opunha ao governo, mas que não apoiava o golpe, a contradição de que o Fora Temer significa-se ao mesmo tempo um Volta Dilma, o caráter do Fora Temer tem agora uma projeção e um eco que antes não era visto, e nem fora previsto, separando nitidamente os que estão a favor do governo e do regime político e os que estão contra.

O PT, PCdoB e seus satélites mostraram sua capitulação diante do golpe, acovardaram-se e estrangularam as organizações de massa que controlam para não haver uma luta massiva contra o golpe. Seu receio é de que as massas tenham uma intervenção independente diante da atual crise.

A classe média de direita que saiu às ruas para ser o porta-voz da burguesia e de sua imprensa golpista agora deixa de ser franco-atirador, transforma-se, junto de seu governo, numa enorme e frágil vidraça.

É hora de iniciarmos uma ampla organização das massas, preparar e organizar uma greve geral para lutar contra o regime político e contra o ajuste, fazer um chamado para se organizar um congresso da classe trabalhadora, para dar um norte e um programa a essa luta e aprofundar e nacionalizar o Fora Temer por todo o Brasil, como expressão da luta dos setores explorados e da maioria da população, para que a derrubada desse governo se expresse na luta por governo dos explorados, dos trabalhadores e das trabalhadoras da cidade e do campo e pelo socialismo.

                                                                                         
                    



  TRIBUNA CLASSISTA
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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

OS ESTADOS UNIDOS NO OLHO DO TEMPESTADE: UMA NOVA FASE DA CRISE CAPITALISTA MUNDIAL

                                                                           


Publicado originalmente em Prensa Obrera Nº 1424 (http://www.po.org.ar/)

Pablo Heller

Até há pouco tempo atrás se dizia que o pior da crise econômica mundial já havia passado. Para isso se exibiam sintomas da recuperação dos Estados Unidos. A partir dessas expectativas o Federal Reserve (banco Central norte-americano) resolveu aumentar a taxa de juros no final do ano passado, e adiantou sua intenção de proceder a novas altas nos trimestres seguintes. The Wall Street Journal adverte sobre “o descenso mais prolongado da produtividade do trabalho nos Estados Unidos desde o final da década de 1970 (que) ameaça as perspectivas a longo prazo da economia do país e poderia levar o Federal Reserve a manter as taxas de juros baixas por vários anos” (WSJ, 11/08).

Assistimos ao terceiro trimestre seguido de baixa de produtividade (o período mais longo desde 1979), o que ilustra a estagnação da economia. O crescimento econômico dos Estados Unidos no segundo trimestre foi de somente 1,2%. Porém este impasse integra uma tendência mundial. Na Europa, teve um crescimento de apenas 0,3%. O crescimento chinês continua em queda livre, e grande parte da América Latina continua em retrocesso.

O pano de fundo desses dados é uma enorme crise de superprodução, ou seja, um excesso de capitais e mercadorias comparado com suas possibilidades de valorização. Isso nutre as tendências deflacionárias, a queda dos lucros e uma retração do investimento. As tendências deflacionárias se expressam no crescimento da dívida pública que hoje estão colocadas a uma taxa de juros negativa, e que passou no último ano de 1,3 trilhões a 14 trilhões de dólares a nível mundial. A ausência de rendimentos financeiros positivos implica uma ameaça ao sistema bancário e às companhias de seguros, e constitui um registro inapelável da tendência à depressão econômica. Atividade petroleira é um exemplo eloquente desse processo: alguns viram na queda de preços dos combustíveis como uma reativação da economia, uma oportunidade para a redução de custos industriais e para o aumento do consumo. Longe disso, a queda dos preços de combustíveis somente conduz à derrubada da industria petroleira, com sua sequência de fechamentos, demissões e concentração industrial.

Em 2015, o informe anual do FMI assinalava que a queda de investimento privado estava no centro do fracasso da recuperação da economia global desde a crise de 2008, apesar do crédito com baixíssimas taxas de juro e do resgate multimilionário dos bancos que realizaram os Estados das principais potências e seus respectivos bancos centrais. No último trimestre, o investimento privado dos EUA caiu 9,7%, a terceira pior queda trimestral. Esta queda de investimento nos países capitalistas avançados está na base do desmoronamento da produtividade.

                                                                  



As grandes empresas acumularam trilhões de dólares em espécie e não os investiram nem na produção e nem no desenvolvimento tecnológico. Utilizam esses fundos para recomprar ações, aumentar seus lucros e levar a cabo fusões e aquisições.

Isto explica o paradoxo de que o desempenho produtivo seja cada mais magro, enquanto o preço das ações nas bolsas mundiais alcançam níveis elevados. Quando examina-se os balanços, observa-se que uma parcela significativa de seus proventos advém de seus investimentos financeiros.

Esta hipertrofia do setor financeiro terminou por socavar a base industrial norte-americana. Seu contraponto é um aumento da especulação e uma inflação dos ativos, que não é outra coisa que capital fictício. A economia dos Estados Unidos está sentada em cima de uma nova e explosiva bolha, que prepara uma crise de maiores proporções que a de 2008. Isto vai de encontro com as tendências à desintegração da União Europeia, que ganharam um novo impulso com o Brexit e o estado de falência que se encontra o sistema bancário do continente europeu; com o impasse da economia japonesa, que não consegue sair da recessão mesmo com os abundantes recursos colocados pelo Estado; com a crise na China e nos países emergentes.

O agravamento da bancarrota capitalista explica a crescente rivalidade entre os Estados e, com isso, as tendências à guerra comercial, monetária e à própria guerra se consolidam. Isso evidencia-se agora nos EUA, no uso crescente dos candidatos à demagogia social e chauvinista, que floresce de forma proporcional à desintegração dos partidos tradicionais. Porém esta crise de fundo também é o laboratório e o caldo em que se cultiva as grandes explosões sociais, e ao ritmo delas, as profundas reviravoltas políticas das massas.